"O empresário só está preocupado com produção de uniformes porque é um grande negócio"
A Associação da Indústria Têxtil, Confecções e de Calçados de Angola defende medidas proteccionistas para a produção nacional e acredita que o sector tem uma palavra a dizer no desenvolvimento da economia nacional devido ao seu potencial, apesar dos condicionalismos de quem opera neste segmento.
A direcção da Associação da Indústria Têxtil, Confecções e de Calçados de Angola (AITECA) reuniu, recentemente, com a coordenação económica do Governo. O que é que saiu deste encontro?
O encontro que tivemos com o ministro de Estado Para a Coordenação Económica, José Massano, é um sinal de que alguma coisa está a ser feita. Estamos a falar de vários segmentos que integram este sector. Os discursos são bons, e estamos a lutar para que estes discursos se tornem realidade.
O que é preciso para que estes discursos se tornem realidade?
Primeiro, a matéria-prima. Esta indústria, para funcionar ao mais alto nível, precisa de matéria-prima. Angola já foi um grande produtor de algodão. Na nossa insígnia está o sisal, o algodão e o café. Há que trabalhar. Estamos a depender de muita coisa, tudo vem de algum sítio e pouco se produz cá. E não é por falta de capacidade de produção.
É porquê então?
Por falta de interesse. Políticas importantes para dinamizar a produção. Não posso acreditar que o País seja sustentado por fardos. A AITECA está a trabalhar nesta segmentação. Temos de entender que este não é um sector como, por exemplo, o de produção de batata, que é plantada e em três meses colhe-se a produção. O nosso sector exige algum tempo e paciência. E o empresário, por natureza, é imediatista. Investe para colher já. Mas neste segmento não. Ninguém vai plantar o algodão para esperar seis anos pelo retorno. Embora, depois da primeira plantação de algodão, se ganhem muitos anos de bonificação.
Esta falta de interesse de que fala é de quem?
Dos empresários locais, por ser um sector complexo. Em Angola falamos da indústria do pronto-a- -vestir, e começamos pela promoção de moda. Mas não podemos iniciar pela moda, que na cadeia é o último segmento. Antes temos de falar de produção e de cultivo de algodão, os insumos. O País não consegue produzir botões, agulhas, óleo para máquinas... É complicado falarmos do produto final sem vermos estes detalhes.
Quando se fala da matéria- -prima, olha-se muito para o algodão, não é só isso?
Não. Infelizmente, muitas vezes olhamos só para um factor, o produto. E o principal é o algodão. Estamos num País rico em fauna e flora. Em produtos que podem dar sustentabilidade e resposta à indústria têxtil sem depender do algodão.
Mas o algodão é a base?
Sim. Temos duas províncias com enorme potencial, Malanje e Cuanza Sul. Há ainda a província do Uíge. Aqui também há grande produção de banana. O tronco da banana é também uma das grandes matérias-primas para o nosso sector.
O que é que se faz com o tronco da bananeira?
Fazem-se grandes tecidos. E de qualidade. Carpetes. É um grande produto que não aproveitamos. É importante que haja interesse na industrialização deste produto. Estamos a falar de uma indústria bilionária, assim como é a indústria petrolífera ou diamantífera.
Temos produção de algodão no País?
Alguma. Há um grupo que está a trabalhar neste segmento. É o grupo ALCAAL que está fazer a inserção da produção de algodão na Baixa de Cassange (Malanje). Acompanhamos os nossos associados e compreendemos as suas realidades. Mas estamos a falar de uma segmentação complexa. O algodão, desde a semente até à colheita, é um processo complexo. É preciso máquinas industriais porque a produção é feita em grandes extensões de terra. E hoje precisamos de acompanhar a tecnologia. E o nosso associado que está a produzir algodão em Malanje está a trabalhar com uma plantação de 400 pessoas.
O grupo ALCAAL está ligado a alguma fábrica?
Sim. Este grupo é representado pela Textang. Produzir algodão é um processo muito complexo e que precisa de apoio e investimento. E o Governo pode auxiliar.
O Governo, porquê?
Para criar políticas que façam com que o produto feito em Angola seja consumido pelos angolanos. Temos de proteger a produção nacional para que sejamos autossuficientes em vestuário.
Leia o artigo integral na edição 753 do Expansão, de sexta-feira, dia 01 de Dezembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)