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Grande Entrevista

"A curto e médio prazo não vejo como as fusões possam ser uma vantagem para a seguradora"

António Bertelo, PCA da Mundial Seguros

Com o processo de reestruturação e recapitalização da companhia a chegar ao fim, António Bertelo prepara o plano para tirar a Mundial Seguros da falência técnica. Não diz que não a fusões, mas por enquanto não estão no horizonte.

A Mundial Seguros registou um resultado líquido negativo de 560 milhões Kz em 2021, apesar de ser uma redução de 35% do prejuízo de 2020. O que está na base deste resultado?

Não obstante o resultado ter sido negativo, já melhorou em 300 milhões Kz em relação aquilo que tinha ocorrido no exercício do ano transacto. Portanto, houve uma melhoria significativa mas ainda assim continuamos em território negativo. Estamos neste território porque também no processo em que nos encontramos, que é o nosso plano de recuperação aprovado pela ARSEG, foi necessário conformar a empresa do ponto de vista da legalidade.

Em termos práticos essa conformação reflecte-se em que áreas?

Estamos a falar das previsões, reservas e da organização interna, ou seja, tínhamos que ter a empresa completamente limpa, digamos preparada para atacar o mercado. Temos o processo de reestruturação na casa dos 70% a 80% já concluído, e com a capitalização fechada, começamos a caminhar para muito perto dos 100%. Ou seja, estamos próximos de concluir este processo.

A seguradora está em falência técnica, ou seja, os seus passivos (13.483) são superiores que os activos (10.554 milhões Kz). O que está sendo feito para a saída desta posição?

Estamos a desenvolver um plano para tirar a seguradora desta situação de falência técnica. Na situação em que se encontrava, a empresa precisava de ser recapitalizada, o processo que será fechado nos próximos dias. Portanto esta expressão de falência técnica já esquecemos há muito tempo, porque é demasiadamente pesada nos dias que nós vivemos. Já vivemos situações difíceis, mas desde que a minha equipa de gestão entrou o nosso foco está em melhorar, e acredito que a empresa caminha para aquilo que foram os seus melhores dias.

Quando digo falência técnica baseio-me nos números, ou seja, os números não mentem.

Sim, nós percebemos! Desenvolvemos um plano estratégico porque não bastava só abastecer a companhia de capital, era preciso que a seguradora tivesse uma estratégia. Porque meter dinheiro apenas não resolveria a situação, pois a curto prazo precisaria de mais. Mas se tiver uma estratégia de crescimento, reestruturação interna e, sobretudo, de aumento de controlo interno e de estratégia para a companhia se desenvolver, então é possível melhor a operação, controlar os custos e potenciar os proveitos, solidificando a actividade com resultados operacionais positivos.

Os prémios emitidos também registaram uma diminuição de 5% para 4.434 milhões Kz.

Nós herdamos uma carteira de gestão difícil de ramos com sinistralidade consideravelmente elevada, portanto, tivémos que ter alguma coragem para não renovar alguns negócios que eram mais ruinosos e, naturalmente, isso tem reflexo nas contas. Cerca de 80% do negócio que a empresa tinha era negócio com sinistralidade muito elevada, e é preciso ter a coragem para olhar para os números e perceber se esse é o caminho que queremos continuar ou se temos que ter a coragem de abdicar de alguns prémios que, por si só, são ruinosos do ponto de vista da gestão do critério da sinistralidade.

Isso fez baixar o volume de prémios em 2021....

É evidente que os resultados foram estes e nós não temos nenhum problema em assumir, sendo certo que hoje os primeiros sinais já começam a surgir e dão-nos o conforto de saber que estamos no caminho certo, porque tudo o que foi apontado como inconformidades que era necessário alterar, estamos a dar uma atenção especial.

Quando é que este conselho de administração assumiu os destinos da seguradora?

Este conselho de administração, que entrou em Agosto de 2020, desenvolveu além do processo de recuperação de relançamento da empresa, um plano estratégico que chegará até o ano de 2025 e que estamos a seguir com muito rigor, como muita proactividade no sentido de nos levar aos objectivos que traçámos.No rankings das seguradoras, queremos projectar a Nossa Seguros a um nível que seja relevante no mercado. Não esquecendo de que estamos a impulsionar fortemente, porque é nosso objectivo e nunca escondemos, que queremos ser líderes do mercado bancassurance.

Conhecida a situação do BPC, não há receios de que a situação do banco arraste a seguradora para situações piores?

O resultado negativo que a seguradora tem tido nos últimos anos não tem nada a ver com o banco. Agora temos que ver o problema ao contrário. Eu prefiro não olhar para trás e chorar pelo leite derramado, mas sobretudo olhar para frente e perceber o que estamos a fazer para melhorar. Isso é o que é importante. E agora os resultados apontam para uma visibilidade completamente oposta, o que dá ao conselho de administração um conforto e autoestima para olharmos futuro esperando bons resultados.

Um dos pontos da Assembleia Geral foi a resolução do impasse relativo ao aumento de capital social. Afinal que impasse houve?

Os accionistas nem sempre estão de acordo quando se trata da recapitalização da empresa e, portanto, é isso que está na origem do impasse que se criou. O processo da recapitalização ainda não está fechado justamente por causa desse impasse que se criou, mas neste momento essas divergências já foram ultrapassadas, já há decisões tomadas e posições assumidas, e muito rapidamente a empresa estará capitalizada.

Constava também a reformulação da marca Mundial Seguros.

Quando as empresas, como o caso da Mundial Seguros, tem anos com situações instáveis no mercado e quando o accionista resolve inverter toda trajectória com novo conselho de administração, definir e desenhar uma nova política de distribuição, aumentar o rigor e o controlo interno, recapitalizar e projectar a seguradora no ranking nacional para uma posição confortável, faz todo sentido que se passe para o mercado essa mudança. Ou seja, que se crie uma nova marca.

E qual é a marca que a Mundial pensa adoptar?

A seu tempo vamos abordar sobre essa nova marca. Vamos continuar com o carro atrás dos bois, não o vamos pôr à frente, e a seu tempo o nosso parceiro de imagem irá anunciar ao mercado.

Com a entrada em vigor da nova lei, o mercado estará mais aberto a fusões. Mundial Seguros está interessado em eventuais fusões?

Há um princípio que diz: nunca digas nunca. Quando olhamos para aquilo que a empresa foi e para aquilo que pensamos que será no futuro, não é de equacionar um cenário desta natureza nos próximos tempos. Este ano a empresa crescerá de forma robusta no ranking das seguradoras e com um resultado positivo ajudará o BPC nas dificuldades que são conhecidas para a sua recuperação. Mas para já, num cenário mais de curto e médio prazo, não vejo como isso possa ser uma vantagem para a seguradora.

(Leia o artigo integral na edição 685 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)