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Grande Entrevista

"A entrada de Angola na lista cinzenta do GAFI não é uma boa notícia"

LUÍS TELES, CEO DO STANDARD BANK ANGOLA

O CEO do Standard Bank Angola diz que também não é o fim do mundo e que em menos de três anos Angola pode estar fora desta lista. Projecta o futuro do banco, olha para o processo de privatização e fala do sector bancário angolano.

Começando pelo assunto da actualidade, que impacto terá, no seu entender, a entrada de Angola na lista cinzenta do GAFI para o País no geral, e para o sector bancário em particular?

Acho que a entrada de Angola é uma má notícia. Porque vem no sentido contrário de todos os esforços que estavam a ser feitos para garantir que Angola se tornasse um país mais atractivo do ponto de vista do investimento estrangeiro, mas também da credibilidade que vinha a construir junto das instituições internacionais. Portanto, não é uma boa notícia, mas acho que é importante também tranquilizar as pessoas dizendo que não é o fim do mundo.

Pode concretizar.

Não é uma boa notícia porque, na prática, afecta a reputação do País. Portanto, do ponto de vista internacional, é óbvio que os investidores internacionais fazem a sua análise também baseada no risco, e é natural que um país que esteja na lista cinzenta tenha uma ponderação, digamos assim, mais negativa do ponto de vista do interesse que esses investidores poderão ter por Angola.

Em termos práticos, faz-nos subir os juros dos financiamentos externos?

Pode ter, eventualmente, algum impacto no custo do financiamento. O apetite de risco dos investidores é medido de duas formas - o montante total disponível para financiar Angola e também o custo da dívida. E, portanto, temos de aferir agora a reacção do Governo, digamos assim, e aferir como é que esses investidores vão reagir. Angola está a considerar emitir dívida internacional nos próximos meses e, portanto, já veremos se essa emissão terá o sucesso esperado ou se existirão algumas dificuldades por via desta entrada na lista cinzenta.

E em termos internos?

Eu penso também que para os empresários nacionais esta entrada pode gerar algum desconforto, porque é muito importante haver confiança. Confiança na economia, no futuro, confiança em alguma previsibilidade do ciclo macroeconómico, e não se quer que existam factores que abalem esta confiança. E, obviamente, a entrada para a lista cinzenta do GAFI pode ser um desses factores.

E o impacto para o sector bancário?

Posso confirmar que os bancos correspondentes prestam muita atenção a este tema. O GAFI aprecia a capacidade que o país tem na luta contra o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. Portanto, sempre que um país está numa lista cinzenta, tem uma monitorização reforçada, se quiser, e os bancos correspondentes fazem o mesmo. Fazem mais questões, tornam as transacções mais escrutinadas e têm mais dificuldade em ter mais relações de correspondência com os bancos nacionais. Tudo isso pode criar alguma entropia na nossa vontade de fazer crescer a economia.

Este será apenas um período de transição?

Nós somos optimistas por natureza. Eu penso que o Executivo fez um esforço, os reguladores também fizeram um esforço honesto no sentido de cumprir com todas as recomendações que foram apresentadas no relatório de avaliação mútua. Não foi possível cumprir com as recomendações, mas praticamente todas estão em curso. Agora, é necessário não apenas cumprir com as recomendações, mas também garantir que a implementação das iniciativas que cumprem com essas recomendações seja eficaz.

Um prazo de três anos parece suficiente?

Sim, penso que é perfeitamente suficiente, e acredito que antes dos três anos Angola vai conseguir cumprir com todas as recomendações e vai proactivamente comunicar ao GAFI esses sucessos de implementação, de forma a que haja uma perspectiva mais positiva em relação a esse risco em Angola.

Vai haver maior dificuldade no acesso às divisas?

Não acredito que tenha impacto nas divisas. As divisas em Angola vêem maioritariamente do sector petrolífero e do sector mineiro. Infelizmente, eu digo infelizmente, a grande maioria das nossas divisas não vem do investimento directo estrangeiro noutros sectores não petrolíferos. Eventualmente poderá haver algum impacto marginal nesses outros sectores, mas a grande maioria das divisas continuará a vir do sector petrolífero e o sector diamantífero. Portanto, não me parece que vá haver grande impacto nos próximos meses.

E do ponto de vista do Standard Bank Angola, terá algum impacto ou não?

Nós já esperávamos este resultado, confesso. Temos acompanhado com grande proximidade todo o processo, aliás, fomos entrevistados pelo grupo neste processo e contribuímos, obviamente, com as nossas melhores práticas, com a nossa forma de trabalhar, a nossa forma de fazer o negócio certo da maneira correcta. Obviamente nas relações com bancos correspondentes, eles vão com certeza fazer perguntas sobre este tema. Temos relações com o accionista que também terá questões sobre este tema. Mas, felizmente para o sector bancário, grande parte dos incumprimentos não vêm do nosso sector. Aliás, o sector bancário teve uma boa avaliação no exame feito pelo GAFI

São problemas que o próprio País tem de resolver.

Exactamente!

Leia o artigo integral na edição 800 do Expansão, de sexta-feira, dia 1 de Novembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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