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Grande Entrevista

"Acredito que futuramente o agronegócio pode substituir o petróleo"

CARLOS PRATA, Consultor e empresário

A elaboração do Plano Agropecuário de Angola foi o mote para a conversa com o consultor Carlos Prata, que acredita no potencial deste sector na transformação da economia nacional e para tirar o país da dependência da importação de produtos alimentares e contribuir significativamente para o desenvolvimento macroeconómico.

A economia angolana contínua dependente do petróleo com a agricultura a ter pouco peso na riqueza nacional. Enquanto consultor de agronegócio, que avaliação faz da participação deste sector no Produto Interno Bruto (PIB)?

Está em níveis progressivos, mas ainda longe dos objectivos que se pretendem para o agronegócio. Falta um plano para dinamizar e acelerar este sector. É assim que o Oxford Center, em parceria com empresas brasileiras, fez um estudo profundo sobre as necessidades, potencialidades e oportunidades do agronegócio no País, que resultou na elaboração do Plano Agropecuário de Angola (PLANGOL). Com este plano, esperamos que o sector possa dinamizar-se.

De que forma?

Existem vários programas e acções que estão a ser executadas, e que são bem-vindas, na medida que servem para o equilíbrio da cesta básica. Mas é necessário planificar este sector, porque sem planificar não é possível. A planificação deve incluir cooperativas, agricultores e outros entes ligados ao agronegócio.

Defende a necessidade da criação de um plano para desenvolver o agronegócio. Quais seriam as bases deste plano?

O plano deve ser materializado olhando para toda a cadeia do agronegócio, desde infraestruturas, formação, financiamentos, produção e comercialização. O PLANGOL, que para nós tem todas as bases para o sucesso deste sector no País, prevê estas fases todas. Por exemplo, o Executivo aprovou recentemente um plano de produção de grãos para os próximos cinco anos para que sejamos autossuficientes em cereais. No PLANGOL também temos esta vertente, onde estimamos uma produção de 5 toneladas por hectare. Neste plano também estão previstas infraestruturas. Temos algumas já identificadas, por exemplo, na província do Cuanza Norte existem muitos silos abandonados. O nosso Plano, em termos de potencial agrícola, está dividido por regiões, tendo em conta o potencial agrícola, pecuário, agroindustrial e de infraestruturas.

Como é que se materializa este plano?

Com 83 fazendas, cada uma com 10 hectares para a produção, o que irá gerar 24 mil postos de trabalho directos. Uma das coisas fundamentais para que se acelere e se dinamize a agricultura em Angola é a formação técnica e profissional. Esta vertente é importante para as cooperativas e agricultores. E prevemos a implementação do Agrocamba, um programa de formação inserido no Plangol. O agrocamba vai introduzir o conhecimento adequado.

Não existe este conhecimento?

É importante ter o know how adequado à produção. Por exemplo, Moçambique tem a escola do agricultor. Este é um caminho. Outros países da Europa, Ásia, América, têm climas temperados e o conhecimento que precisamos pode ser adquirido ou passado pelo Brasil. Porque o Brasil tem condições, clima e solos semelhantes aos nossos. Eles têm muita experiência neste sector. O agronegócio mudou o Brasil.

Acredita que a experiência do Brasil pode ser replicada em Angola?

Sim. O Brasil é o país tropical líder na produção agropecuária. Angola e Brasil falam a mesma língua e partilham traços culturais e isso facilita a cooperação. Os nossos solos precisam de ser melhorados e o Brasil está muito à frente nesta questão. No PLANGOL temos a formação, infraestruturas, insumos, produção, produção familiar, pecuária e corte, leite, agricultura familiar, fruticultura e hortícolas e produtos e exportações.

Vai ser implementado por fases?

Sim. A primeira fase é a das infraestruturas e insumos. Em quatro anos, podemos ser autossuficientes em determinados produtos.

O País tem experimentado vários programas para desenvolvimento da agricultura e o agronegócio, sem no entanto obter os resultados esperados. Acredita no sucesso do PLANGOL?

Nunca foi feito um estudo profundo. O Plano Agropecuário de Angola foi enaltecido pelo centro de pesquisa sobre Angola (CEDESA), por causa da potencialidade. O CEDESA é parceiro das Nações Unidas e do Centro de Estudos e Segurança de Berlim. É imperioso Angola pensar num plano de desenvolvimento agropecuário devido às alterações climáticas. Porque este fenómeno é irreversível.

Está a falar de um país que tem uma agricultura essencialmente familiar...

Sim. A nossa agricultura não é planificada. É preciso olharmos para a demanda da população que se prevê que em 2028 atinja os 48 milhões de pessoas. Cada vez mais a população vai crescendo e a procura será maior. A criação da reserva estratégica alimentar é assertiva, mas ela só não chega e não deve ser de forma prolongada. Porque se não rompe com as poupanças do Estado.

(Leia o artigo integral na edição 695 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Outubro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)