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Grande Entrevista

"África é onde a procura e consumo de energia tem margem para crescer"

BJORN KAHRS, DIRECTOR DA NORWEGIAN ENERGY PARTNERS PARA ÁFRICA

Um mês antes da visita do Presidente da República à Noruega, o director geral da Norwegian Energy Partners (Norwep) esteve em Angola com uma delegação de mais de 20 empresas para promover as tecnologias aplicadas na redução de emissões de carbono. Analisa o sector de petróleo & gás em África e alerta para as oportunidades que surgem para Angola com as descobertas de gás na Namíbia.

Regressou a Angola pelo segundo ano consecutivo com outra delegação de empresários noruegueses especializados na prestação de serviços à indústria petrolífera. Mas quais foram os resultados da primeira missão empresarial?

Após a primeira missão empresarial, criou-se uma boa relação entre as empresas norueguesas e as empresas locais. Tendo como ponto de partida o evento do ano passado, muitas das empresas norueguesas conseguiram contratos com alguns operadores. Mas não apenas com operadores em Angola, porque muitas destas empresas têm representação noutros países africanos e temos estado a realizar missões empresariais por todo o globo. O evento deste ano é o resultado dos primeiros contactos estabelecidos no ano anterior.

Recentemente, a Norwep organizou, em parceria com a Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANPG), um fórum de negócios sobre a descarbonização. Porquê este tema e porquê Angola, quando se diz que o nível de emissões do continente é baixo?

Não preciso de explicar porquê Angola, porque isso é um tema global. O evento acontece em resposta à COP26, evento realizado no ano passado, em Glascow, na Escócia, onde tivemos todas as apresentações à volta do ambiente e do risco que as emissões de carbono colocam ao planeta. Aliás, a COP26 foi realizada com base nos acordos de Paris, que foram assinados por grande parte dos países do mundo. Sabemos que Angola e outros países africanos, para se desenvolverem, necessitam de produzir e exportar petróleo e gás.

A transição energética não representa o fim da era do petróleo?

O tema é que, com os acordos de Paris, os países produtores de Petróleo e de Gás devem continuar a produzir, mas com recurso a redução das emissões de carbono, ou seja, vão ter de produzir petróleo, ao mesmo tempo que respeitam os acordos de Paris, já que é um acordo feito mundialmente.

O que é que isto vai implicar?

Também entendo que existe da parte do governo de Angola e de outros países produtores de petróleo o interesse em adoptar tecnologias que permitam reduzir as emissões de carbono e outros gases e atrair mais investimentos para o sector de petróleo e de gás , já que os principais bancos internacionais estão comprometidos em financiar, cada vez menos, a exploração e produção de petróleo.

Será que continua a ser assim no actual contexto?

Não é um tema apenas de Angola, que é um país moderno em termos de produção de petróleo e que procura usar tecnologias que lhe permitam controlar cada vez mais as emissões de carbono e foi por isso que viemos a Angola.

A transição energética ameaçava trazer o pico de petróleo mais cedo que o esperado. Mas a OPEP e os bancos já dizem que este fenómeno foi adiado. Isto vai atrasar a adopção destas tecnologias de redução de emissões?

A perspectiva global é que continuamos a ter demasiadas emissões de CO2, entre outros gases. E para reduzir isso os operadores que estão a produzir gás e petróleo vão ter de utilizar novas tecnologias que assegurem que caminhamos rumo a energias mais verdes.

Os dados mostram que África tem os países que menos emitem gases na atmosfera. Mesmo assim, precisa acelerar os passos rumo à descarbonização?

África, como continente, apenas tem cerca de 6% da poluição e emissão de carbono e outros gases na atmosfera e a maioria vem do flaring [queima de gás associados à produção de petróleo]. Mas, ao mesmo tempo, África tem uma quantidade elevada de recursos de petróleo e gás no onshore e offshore que precisa de ser exportado para financiar o Orçamento Geral de Estado, para desenvolver o país e para, talvez no futuro, investir nas energias renováveis, como solar, eólica, entre outras.

África é dos continentes menos industrializados e, para desenvolver-se, vai precisar de se industrializar e isto implica o aumento das emissões de carbono, caso não se adoptem tecnologias menos poluentes. Certo?

De facto, África é dos continentes onde a procura e consumo de energia tem margem para crescer. Mas não será somente a industrialização a impulsionar o mercado de energias.

Que factores vão impulsionar o consumo de energia em África?

Se você estiver parado na Lua a olhar para o globo, vai perceber que, durante as noites, o ponto menos iluminado do globo é África, apesar de ser um dos continentes mais populosos do mundo. Isto acontece porque há menos electricidade.

Isto significa que há menos consumo e procura por electricidade hoje em África que no resto do mundo?

A elevada quantidade de pessoas em África significa que há potencial de procura por energia hoje e no futuro, já que estas pessoas, por um lado, precisam ou vão precisar de energia para recarregar os seus telemóveis, os seus automóveis eléctricos, para ligar os seus electrodomésticos, para iluminar as cidades, vilas e aldeias e, do ponto de vista empresarial, para produzir bens nas diferentes indústrias que se pretendem erguer em África.

(Leia o artigo integral na edição 701 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Novembro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)