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Grande Entrevista

"É importante não olhar para a agricultura como um sector isolado"

SÉRGIO PIMENTA VICE-PRESIDENTE DO INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION (IFC)

O responsável do IFC, instituição financeira do Grupo Banco Mundial que trabalha directamente com o sector privado, esteve em Angola de olhos postos no agronegócio e na diversificação da economia. Apesar do optimismo deixou alguns recados.

Antes de começarmos a conversa esteve na FILDA [a entrevista foi realizada no dia 20, quinta- -feira]. Qual é o seu sentimento em relação ao que viu na maior feira de negócios do País?

Fiquei muito contente por visitar a FILDA, é a minha primeira vez, logo numa edição que regista um número recorde de participação. Isto é muito interessante porque demonstra o potencial da economia angolana e também vi bastante diversidade, encontrei empresas que vêm de temas actuais, como a reciclagem de produtos, produção local, economia circular. Acho que está um evento muito bem organizado e deixo os parabéns às entidades envolvidas. É muito positivo para a imagem do País e para ajudar a desenvolver as empresas do sector privado angolano.

Hoje fala-se muito da transição energética, do agronegócio. Conseguiu identificar na FILDA alguma nova tendência para a economia angolana?

Dei uma volta ao recinto mas não pude ver tudo. Achei que havia uma grande representação do sector agrícola ou agroalimentar, que é um sector onde Angola tem um potencial extraordinário. Numa das salas há um mapa de Angola com os principais produtos e o ranking de produção mundial. É impressionante ver alguns produtos que já são disponibilizados com alguma escala, como a banana, por exemplo, mas também o potencial de todo o sector. Estivemos a falar com algumas das empresas com que estamos a trabalhar e pudemos ver muita coisa que já está a ser feita. O potencial é enorme. Não sou agrónomo, mas o clima, a situação geográfica, a qualidade dos solos... Angola tem tudo para se desenvolver.

Angola é constantemente referido como um País de grande potencial, como também sublinhou. Mas a realidade pode ser bastante monocromática, há o sector petrolífero e depois vem quase um abismo. O que falta para Angola dar um verdadeiro salto económico e aproveitar verdadeiramente o tal grande potencial por desenvolver?

O que faltou, não digo que falta agora, era um foco maior sobre a importância dos outros sectores e promover o seu desenvolvimento. A economia angolana centralizou-se, durante muitos anos, à volta do petróleo. De certa forma criou-se a ideia de que é mais fácil importar e que era melhor não perder tempo em sectores que têm potencial, mas onde é preciso muito trabalho.

E isso tem mudado?

Nos últimos anos tem-se visto uma tendência forte de vontade de diversificação, principalmente à volta do sector agrícola. Não é só uma tendência de Angola, podemos alargar esse movimento, e a criação de novas oportunidades, a outros países. Também é importante não olhar para a agricultura como um sector isolado, ou seja, mais do que apostar num produto devemos pensar como podemos acrescentar valor ao sector, para termos não apenas o produto em bruto mas transformá-lo localmente. Isto representa uma evolução profunda no continente africano, que continua a importar comida mas que tem potencial não apenas para alimentar o continente, mas o resto do mundo. Outro aspecto importante na agricultura é que falamos de um sector onde está o maior número de empregos em África e no resto do mundo, é o primeiro sector ao nível da criação de emprego.

Exactamente como em Angola.

Num continente jovem, onde há cada vez mais jovens a chegar ao mercado de trabalho, é preciso ensaiar quais são as indústrias com maior potencial para criar os empregos necessários. Outra tendência importante: com as evoluções políticas e geopolíticas mais recentes, cada continente, e África particularmente, está a ver que existem muito mais oportunidades para fazer comércio e promover o investimento regional.

O comércio entre os países africanos ainda continua a ser muito baixo.

Mas a aceleração que se regista nos últimos anos também é muito forte. O comércio intra-africano tem andado a crescer a uma grande velocidade, como em nenhuma outra região. É uma tendência de fundo que está a criar mais valor no continente.

Algumas vezes, quando se diz que Angola é o maior produtor de banana em África, muitas pessoas tendem a desvalorizar e até a brincar com esse indicador. Mas há quem defenda que é mais um sinal que está a apontar o caminho e que o foco não se deve ficar pela banana, pelo contrário, que deve ser alargado à mandioca, ao ananás, ao tomate e outras fileiras. Que conclusões devemos retirar do facto de Angola ser o "rei da banana" em África?

Quando vejo diferentes produtos agrícolas, e de maneira simplificada, penso em duas coisas: em produtos de exportação, com transformação local da fruta, por exemplo, que no caso da banana é uma actividade importante. Mas não pode ser apenas a banana, temos de olhar para as frutas em geral, sobretudo se tivermos em conta a localização de Angola e a possibilidade de produzir (e exportar) quando os outros fornecedores (tendencialmente no hemisfério norte) já não têm produto disponível. A maioria dos principais fornecedores dos grandes mercados internacionais estão em contraciclo climático em relação a Angola. Depois é preciso pensar também na segurança alimentar e nos produtos que permitem às populações locais alimentarem-se e ter o sustento que necessitam.

(Leia o artigo integral na edição 735 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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