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Grande Entrevista

"O crédito não é um favor. É uma transação comercial. É para pagar"

Grande Entrevista com Bruno Albernaz, PCA do Grupo ARENA

O presidente do Conselho de Administração do grupo Arena na Grande Entrevista defende mais empenho do Governo e da classe empresarial para contornar os entraves provocados pela Covid-19, sem esquecer o capital humano que tem sabido responder aos desafios do mercado.

Sendo um empresário ligado à realização de feiras e com o País fechado devido à pandemia até onde os negócios foram afectados?

Afectou tudo. Nos países ditos ricos as empresas têm outra forma de estar. Têm vários tipos de apoio e reagem de uma outra forma. Nós temos a nossa realidade.

Qual é a nossa realidade?

É que temos muito poucos apoios. Têm apoio as empresas do sector produtivo, mas nós não vivemos só da alimentação. Estas empresas poderão estar num lote de prioridades, mas todos os outros também dão empregos, precisam de viver. Estão a ser momentos muito difíceis. Temos de cumprir as nossas obrigações, pagar impostos, salários, rendas...

Não havendo negócios, como é que isso se faz?

Fecha a empresa e manda-se pessoas para rua ou associa-se aqui uma dose de loucura e pomos todos a fazer tudo! E de e alguma forma esperar a cooperação dos trabalhadores em aceitar estes momentos menos bons, onde se atrasam salários e outras situações. Imagine, por exemplo, uma empresa que está parada há mais de um ano como é possível viver? Não é possível! Para podermos aguentar temos que ser o mais criativos possível, porque não tivemos praticamente nenhum apoio. Tenta-se evitar despedimentos porque formar pessoas custa...

Falta do Governo um olhar diferente para as empresas sobretudo nesta fase da pandemia?

Acho que a gente só pode dar aquilo que tem. Quem manda e quem pode tem noção e sabe que os empresários, as empresas, e todos os sectores são fundamentais para a sua estratégia. Nós enquanto empresários somos um braço importante da estratégia do Governo. Sei que houve a preocupação de algumas instituições em dar trabalho às empresas e os empresários agradecem. Mas o País tem tantas necessidades, preocupações de saúde, educação, e acredito que o que se fez para o empresariado foi o possível.

Os empresários queixam-se muito da falta de apoio da banca. Justifica-se?

A banca é um problema. O problema é a jusante. Eles tem que emprestar, e para pôr dinheiro na economia precisam de garantias de que vão receber este dinheiro. Para o empresário dar esta garantia há uma serie de instrumentos legais que felizmente agora começam a ser trabalhados. Mas se por exemplo, se o empresário não tem documentação da casa, armazém, terreno, para dar como garantia, a coisa não funciona porque o banco defende-se.

Está a falar de garantias?

Sim. E isso não é só em Angola. A única coisa do País é que os juros aqui são muito altos, mas é a nossa realidade. Ninguém te empresta dinheiro se não tiveres garantia.

Mas aqui parece que a dificuldade é maior...

Porque não temos os instrumentos que só estão a ser criados agora. E porque de alguma forma o mercado tem que ir ganhando robustez e confiança. Nós ainda achamos que o crédito é um favor. O crédito não é um favor. É uma transacção comercial. Os créditos que se dão são para serem pagos e nós enquanto empresários temos que perceber isso. Não é uma oportunidade. A oportunidade é transformar o crédito em mais-valia. Ou seja, o crédito deve ser utilizado para a finalidade que foi dado e gerar dinheiro. Nós enquanto empresários ainda temos alguns problemas com isso.

Faltará seriedade na classe empresarial?

Não digo seriedade. As vezes há algum oportunismo. A palavra seriedade é forte. Acho que todos trabalhamos imbuídos de um espirito de fazer acontecer, de uma forma séria. Só que às vezes há o oportunismo de alguns, mas não podemos julgar estes por todos. Há muita gente que faz enormes sacrifícios enquanto empresário. Sei o sacrifício que muitos fazem para manter os funcionários, negócios e empresas, a produtividade.

A banca também queixa-se da falta de qualidade de projectos que lhes chegam...

Uma classe empresarial não se faz em 30 anos. Temos empresários há vinte anos, apesar de haver alguns que se dizem ser mais antigos. Mas viviam numa economia onde a procura era mil vezes maior que a oferta. Sem tirar o mérito, empresários somos agora. Estamos a aprender, a crescer. Temos empresários mais velhos que vieram de outros sectores, foram militares, dirigentes. Ou seja, nós somos um País em crescimento.

Com um empresariado ligado ao poder político?

Viemos de uma economia centralizada. Períodos conturbados. Se estivéssemos num país com mil anos e isso acontecesse, aí sim, seria complicado. Nós não! Não tínhamos empresários. Essas pessoas por terem sido militares ou dirigentes não podem ser empresários porquê? Desde que o façam dentro das regras e cumpram as regras estabelecidas, penso que podem ser empresários. Não vejo isso como um problema. Agora, há alguma promiscuidade em algumas pessoas. Mas não quero julgar alguns por todo o resto. Há bons empresários, com investimentos feitos e comprovados. Conheço fazendas de pessoas que em outras alturas exerceram outras funções, mas estão a produzir a sério.

A banca está preparada para acompanhar o crescimento do mercado?

Tem que estar se não acaba. A banca se não acompanhar e não perceber o que está a acontecer aqui e não só, não vai sobreviver.

O nosso mercado está em condições?

Temos uma população muito jovem. Os miúdos hoje vêm as coisas de outra forma. A juventude hoje tem outra capacidade sobretudo na forma digital e como trabalha. Temos cá jovens capazes que têm dado mostras. A nossa competência e disponibilidade para esta nova era é incrível.

(Leia o artigo integral na edição 629 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Junho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)