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Grande Entrevista

"Se continuarmos assim, as cidades vão degradar-se. E cidades doentes produzem cidadãos doentes"

DJAMILA CASSOMA, ARQUITECTA

O tema da reabilitação e renovação urbana começa (finalmente) a ganhar tracção política, até por influência directa dos problemas que têm afectado alguns prédios antigos, sobretudo em Luanda. Mas o tema é mais profundo e toca em várias sensibilidades de origem social, política e também económica.

A arquitectura e os arquitectos angolanos parecem um pouco desvalorizados e isto verifica-se até na dificuldade de aceder ao mercado de trabalho e desenvolver projectos que sejam reconhecidos pela sociedade. Qual é a sua visão sobre este contexto?

É importante começar por dizer o que é a arquitectura. Uma disciplina que trata dos espaços, do ordenamento dos espaços, sejam eles públicos, privados, no território nacional, província ou o território de um município e por aí em diante. A nossa profissão é recente no País e interliga-se com um contexto: as guerras, o colonialismo, todos esses aspectos marcaram, e de que maneira, o nosso território. Herdámos também duas realidades: a realidade urbana e a rural. Temos hoje uma realidade rural, que carece de coisas fundamentais, de elementos fundamentais, para que a vida se desenvolva de forma natural e com alguma qualidade.

A que se refere, concretamente?

Falamos de infraestruturas, saneamento básico, serviços básicos, qualidade da própria habitação. Podemos entrar pela questão económica também. E herdámos áreas urbanas que, na sua maioria, fazem parte da memória colonial, foram produzidas na época colonial. Fruto do nosso processo de colonização e dos conflitos que tivemos, as nossas cidades não foram planeadas, ordenadas e algumas foram crescendo de forma exponencial.

A chamada ligação cidade-campo é um tema fundamental em qualquer sociedade.

Essa conexão inclui vários factores: económicos, ambientais, sociais, culturais e técnicos, sobretudo de infra-estruturas que possam suportar as questões de mobilidade. Neste domínio, falamos das vias de acesso, centrais de logística, meios de transporte (comboio, transporte rodoviário) e toda a interacção humana. Estamos sempre a falar de pessoas. Por isso, quando falamos de arquitectura, mais do que da criação de espaços, falamos de criar espaços para as pessoas. O arquitecto é este profissional que, do ponto de vista da sua formação, é muito abrangente. A arquitectura é uma disciplina que junta a arte com a técnica. Infelizmente, conotam-nos mais com as questões estéticas.

O que está a faltar para que a profissão ganhe mais relevância, mesmo ao nível das políticas públicas?

Não olho apenas para aquilo que está a falhar, nós estamos incluídos no contexto que descrevi. Quando refiro que é uma profissão nova, relembro que os arquitectos nacionais não têm mais de 100 anos de existência.

É pouco tempo, há pouca massa crítica?

Desenvolver a produção científica leva muitos anos. Do ponto de vista nacional, temos apenas licenciaturas em arquitectura, não temos mestrados, doutoramentos, não temos centros de investigação dedicados ao urbanismo. É necessário um processo, um pensamento crítico, identificar as necessidades e ter pessoas que entendam essa importância. O debate vai para além do estar certo ou errado e o que está a funcionar mal. O debate é muito mais profundo.

Porquê?

O meu posicionamento como arquitecta é mais: o que faço para melhorar a minha condição profissional? Como eu me apresento a um público ou cliente que, do ponto de vista histórico, domina pouco sobre arquitectura? Às vezes, gosto de falar em literacia para a arquitectura. Será que o público tem domínio da gramática básica de arquitectura? Será que comunicamos da melhor forma possível sobre a necessidade de trabalhar com um arquitecto? Em Luanda, quase 60% da cidade é informal.

(Leia o artigo integral na edição 724 do Expansão, desta sexta-feira, dia 12 de Maio de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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