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África

Xi Jinping promete mais vacinas mas menos investimento chinês em África nos próximos três anos. Menos 60 mil milhões de dólares

Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), no Senegal

No Senegal, decorre, por estes dias, mais um Fórum de Cooperação China-África, Angola faz-se representar por uma delegação chefiada por ministro das Relações Exteriores Téte António. O discurso de abertura do Presidente chinês Xi Jinping, por videoconferência, continua a ecoar na sala e fora dela

A China passa para 40 mil milhões de dólares a promessa de financiamento aos países do Continente africano devido a inúmeros incumprimentos no pagamento da dívida, a Zâmbia é um desses casos.

Pequim sinaliza este corte devido ao elevado nível de endividamento à China por parte de inúmeros países do Continente africano, Angola é um desses países.

Em discurso por videoconferência no Fórum de Cooperação China-África que decorre no Senegal, o presidente chinês Xi Jinping prometeu 40 mil milhões de dólares aos países africanos em investimentos, linhas de crédito, financiamento comercial e direitos de saque especiais, o que representa um corte de 60 mil milhões de dólares relativamente ao que foi prometido pela China nos dois fóruns anteriores.

Jinping sublinhou o compromisso com o que chamou de relacionamento "win-win". Prometeu mil milhões de doses da vacina covid-19, embora não tenha fornecido nenhum prazo. E também se comprometeu a intensificar a cooperação em investimentos solares, eólicos e outros investimentos em renováveis e a simplificar os procedimentos a fim de aumentar as importações agrícolas dos países africanos.

Há analistas que criticam alguns governos africanos por dependerem tanto dos empréstimos de Pequim.

Carlos Oya, especialista em relações China-África da Soas, Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, partilhou com o Financial Times que a promessa de mais doses de vacinas do Presidente chinês é significativa, dado o fracasso das iniciativas ocidentais para abastecer o continente.

"Mil milhões de doses de vacinas é uma grande promessa", disse Oya, que concorda que o corte no financiamento proposto sinalizou "a preocupação sobre a capacidade dos países africanos de absorver tanta dívida".

O Fundo Monetário Internacional classificou mais de 20 países africanos como estando em alto risco de sobre-endividamento ou já em sobre-endividamento, uma lista que pandemia de Covid-19 fez crescer.

Os compromissos de empréstimos chineses para com os países do Continente africano atingiram o pico em 2016, com 29,5 mil milhões de dólares, e caíram em 2019 para os 7,6 mil milhões de dólares, de acordo com dados reunidos pela Johns Hopkins University.

"No passado, muitos países africanos pediram dinheiro emprestado para fazer a economia crescer, acreditavam que poderiam pagar o serviço da dívida se a economia continuasse em crescimento", disse Kai Zhu, chefe do sector China-África do banco sul-africano Absa. "A Covid trouxe uma mudança fundamental do cenário base e tivemos algumas negociações sobre reestruturação e alívio da dívida", acrescentou Zhu.

No ano passado, a Zâmbia, com empréstimos elevados à China e também a credores comerciais, tornou-se o primeiro país africano a deixar de pagar seus empréstimos em eurobond.

Em recente entrevista ao Financial Times, o Presidente João Lourenço admitiu que era muito pouco provável que Pequim fizesse mais concessões relativamente à dívida angolana - a China é o maior credor do país - depois de concordar com um alívio no pagamento do serviços da dívida de cerca de 20 mil milhões de dólares.

A Etiópia, outro grande beneficiário de empréstimos chineses, viu suas perspectivas económicas enfraquecerem depois do país entrar em guerra civil, e tem procurado o alívio do serviços da dívida.

Um white paper do Conselho de Estado chinês, publicado na véspera da FOCAC, confirmou a mudança de estratégia do governo chinês. "A China promove agora um novo paradigma de desenvolvimento na economia interna e compromisso internacional num reforço mútuo tendo a primeira como pilar. O desenvolvimento da China criará mais oportunidades para o desenvolvimento da África", pode ler-se no documento.

Apesar dos sinais de cautela, a China continua a ser o maior credor bilateral para os países mais pobres do mundo, incluindo muitos na África subsaariana, onde responde por cerca de um quinto de todos os empréstimos.

A China foi também o maior participante bilateral na iniciativa de suspensão do serviço da dívida do G20, lançada no ano passado para ajudar os países mais pobres a financiar sua resposta à pandemia.

Mas críticos, incluindo David Malpass, presidente do Banco Mundial, acusam Pequim de falta de transparência nos contratos de dívida. A China também foi acusada por alguns países, inclusive em África, de tentar envolver os governos na armadilha da dívida.

Pequim tem rejeitado as acusações e diz que nunca procurou transformar dívida em activos africanos específicos. No caso angolano, como se sabe, parte da dívida chinesa é paga através do fornecimento de petróleo bruto, no que constitui uma parte considerável da produção do país.

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