"A minha vocação é este ritmo de escrever para as crianças"
Com 84 anos de idade a escritora de contos infanto-juvenis coloca hoje no mercado mais uma obra literária. Para a escritora, há muitos a escrever, mas há pouca divulgação da literatura. Ao Expansão, conta que está a preparar uma colectânea e mais um livro de poemas.
Lança a obra "A Palanca Rainha". O que traz neste livro?
Este livro traz, além de despertar nas crianças, nos jovens e nos adultos, o imaginário, leva também a conhecer recantos, como eu digo no início da obra, Malanje, terra de encantos e recantos que é preciso descobrir. Com este conto, convido-vos a conhecer as belezas desta terra maravilhosa. A Palanca Rainha fala-nos da nossa Palanca Negra Gigante, que é um símbolo que nos representa, e eu levo os miúdos até no decorrer da história e descobrindo em que é que ela nos representa. E então, ela está representada no logomarca dos aviões da TAAG, está nos passaportes e está no equipamento da Selecção Nacional de Futebol.
É uma homenagem à Palanca Negra Gigante?
Sempre tive um amor e uma admiração muito grande por este belíssimo animal, que faz parte da nossa fauna, e os meninos vão saber que ela vive na província de Malanje, no Parque Nacional de Cangandala. É que há meninos que precisam de conhecer esta Palanca.
Traz no livro uma experiência vivida em Malanje?
No livro, os meninos vivem em Malanje e estudam na escola da Maxinde, eu aqui recordo os meus alunos. Trago no livro uma homenagem aos meus alunos também. Maxinde é a primeira escola primária oficial onde trabalhei. Dedico também à minha Angola e a uma senhora que me acolheu na sua casa, na Maxinde. Trago uma dedicatória à compositora Rosa Roque.
Escreve sobre Malanje. Espera levar esta obra para os meninos de outras províncias, particularmente os malanjinos?
Como eu gostaria até mesmo de ir a Malanje apresentar este livro. Cada editora tem as suas políticas. Há editoras, em que o escritor entrega a obra, a obra é analisada, é aceite e recebem-se apenas os direitos de autor, que é muito bom. Há outras em que trabalharei com as editoras, mas o livro é custeado por mim, que é muito difícil, porque pago agora um bocado, depois outro bocado, é muito complicado, mas para não deixar as coisas morrerem e ficarem por aí eu preferi mesmo dar um bocadinho do meu, que não é muito. Outras é metade, metade com a editora. Agora, eu gostaria muito de, em contacto com a Plural Editores, podermos prever uma ida a Malanje, porque o ideal seria mesmo ela ser apresentada lá, porque além de ter ilustrações tão lindas, eu iria à escola da Maxinde e mataria saudades dos alunos novos, porque os outros já estão kotas. Eu gostaria muito de poder ir a Malanje.
O livro traz o sonho de uma avó... é a escritora?
Sim. É o sonho da avó, que vai tirar as ideias do baú das ideias, que sou eu mesma. Uma coisa é ler uma história, é viajar e passear. Ouvir uma história é participar e opinar.
Dedica mais a sua arte da escrita às crianças. E para os adultos?
Então, para os adultos, eu tenho o livro, "Alma de Kaluanda", um livro de poemas que eu dedico à minha Luanda, para fazer lembrar como era e como está Luanda. E tenho também a obra "Brasas Reacendem Imagens", um livro de poemas e pensamentos. Mas dizer que escrever um romance para pessoas mais velhas não é a minha vocação. A minha vocação é este ritmo de escrever para as crianças, os adolescentes, e jovens.
O que sente quando escreve para crianças?
Olha, sinto que enche o meu espírito de muitas ideias. Tenho muitas vivências, desde pequenina que aprendi a ouvir histórias, ouvir a minha avó a falar- -me em Kimbundu, língua que fui entendendo e gosto. A minha mãe também me contou muitas histórias. Então, sinto dentro de mim, vontade de participar nos jogos, nas brincadeiras, na fantasia, nos sonhos. Por isso, eu escrevo estes livros.
O acesso à literatura ainda é um "bocado" difícil no nosso País. Como escritora, qual é a sua visão sobre essa limitação que as nossas crianças têm?
Olha, vou responder assim: o acesso à literatura não é um bocado difícil no nosso País, é muito difícil. Porque, por exemplo, quando se faz um livro que tem mil exemplares...até se fica triste. Porque é que uns podem ler, deleitar-se? Ou seja, porque é que uma ínfima quantidade de crianças têm direito a este livro? Eu não quero dizer que o País vai dar livros a toda a gente, não. Eu quero dizer que deve-se fomentar livrarias pelo País afora, porque o livro educa. O livro leva e despertar a imaginação, a criatividade e é cultura. Portanto, para que haja mais possibilidade das crianças de um País como o nosso, que agora já tem 21 províncias, precisamos é de reeditar, com autorização do autor e do ilustrador, mas fazer reedições. Não tem de ser só em Luanda. Nós temos o Huambo, a Huila, temos Benguela, que já têm uma estrutura, mas vamos criar estruturas também nas outras.
Por isso...
Eu penso que a política tem de ser fazer reedições de livros que já temos e temos muitos livros para reeditar. Reeditar para colocar em livrarias a preços módicos. Criar mais livrarias pelo País, onde os pais possam ir comprar um livro para os seus filhos.
Leia o artigo integral na edição 811 do Expansão, de sexta-feira, dia 31 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)