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Falta de trabalhadores qualificados na UE leva países a virarem-se para África

MAIS DE 3% DE TODOS OS EMPREGOS DISPONÍVEIS FICAM VAGOS

Com a taxa de emprego mais alta e a de desemprego mais baixa, desde que a Eurostat trata os dados, Europa tem dificuldade em contratar pessoal. Portugal vira-se para Cabo Verde e baixa requisitos para outros países.

A falta de mão-de-obra qualificada na Europa, que levou países como Portugal a recrutar trabalhadores em várias regiões de África, está a tornar-se um problema para as empresas, numa altura em que enfrentam custos crescentes com a energia. Isso mesmo confirma Gerhard Huemer, director de política económica da SMEUnited à rede de jornalismo colaborativo EURACTIV, especializada em políticas da União Europeia. "As empresas de todo o continente lamentam a sua crescente incapacidade de encontrar trabalhadores num mercado historicamente apertado. Algumas reagem oferecendo melhores condições de trabalho enquanto os Estados-membros estão a considerar a flexibilização dos requisitos de vistos para os trabalhadores de países terceiros", escreve a EURACTIV.

A organização sinaliza que "mais de 3% de todos os empregos disponíveis estão vagos" porque as empresas não encontram quem preencha esses postos de trabalho. Os sectores mais afectados são os da construção, turismo e gastronomia. A diminuição dos salários em todos os Estados-membros, face ao aumento dos preços, pesa neste cenário de escassez de trabalhadores qualificados, refere a Confederação Europeia de Sindicatos (CES).

"As pessoas que trabalham longas horas em empregos difíceis estão a lutar para pagar a alimentação e as rendas das casas, sem se importarem de fazer coisas que muitas pessoas tomam como certas, como passar tempo com amigos e família", afirmou a secretária-geral adjunta da CES, Esther Lynch, numa declaração.

Taxa de desemprego afunda

De acordo com a EURACTIV, no 1.º trimestre de 2022, "193 milhões de europeus estavam à procura de emprego", enquanto "74,5% das pessoas entre os 20 e os 64 anos tinham algum tipo de emprego formal". Trata-se da "taxa de emprego mais elevada desde que o Eurostat começou a publicá-la em 2009", enquanto a taxa de desemprego da UE afundou em Julho para 6,0%, um número recorde desde 2001, também quando começou a ser compilada pelo Eurostat.

Dados mais recentes sugerem que este número aumentou ainda mais no 2.º trimestre de 2022, o que justifica porque várias empresas de transportes públicos, como a Carris Metropolitana, que cobre nove concelhos da região Metropolitana de Lisboa, e a Alsa Todi, do com«celho de Setúbal, recorreram ao mercado cabo-verdiano, estando alguns desses trabalhadores já em Portugal a fazer formação. Cabo Verde tem sido o mercado preferencial de Portugal para o recrutamento de profissionais. Mas as dificuldades na contratação levaram o governo português a baixar os requisitos de vistos para outros países lusófonos, como Angola, Brasil e Moçambique.

Sabor agridoce

Este é um problema que não se restringe a Portugal. Em França "cerca de metade das empresas inquiridas pela maior associação patronal francesa, a CPME, estavam a tentar contratar" e destas "94% dizem que lutam para encontrar" o candidato certo. Na Alemanha, o quadro é pior. Cerca de "87% das empresas familiares alemãs inquiridas pelo Instituto Ifo, com sede em Munique, afirmaram sentir os efeitos da falta de trabalhadores".

Já a Áustria atingiu um "recorde histórico" superior a 250 mil vagas e Espanha também luta para "encontrar trabalhadores, especialmente na gastronomia, turismo e construção". Uma das razões para a escassez de trabalhadores nos países mais ricos da UE, segundo a EURACTIV, pode estar nas "perturbações que a pandemia da Covid-19 trouxe à migração intra-UE".

"O que vemos é que a maioria dos europeus de Leste regressaram a casa durante a pandemia e optaram por não regressar agora à Europa Ocidental", declara Gerhard Huemer. Para os trabalhadores europeus o mercado de trabalho na UE "tem um sabor agridoce". Com o custo de vida a subir, os trabalhadores "ganham menos em termos reais do que ganhavam antes, com um Inverno sombrio pela frente" e muitos optam pela emigração, em busca de melhores condições.