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Opinião

África adiada

EDITORIAL

Também é impossível inverter este quadro se os líderes africanos enriquecem de forma exponencial, sem qualquer explicação e depois exportam essas riquezas para os países ocidentais. Se estes não dão o exemplo investindo nos seus territórios, porque é que os europeus, americanos, chineses e árabes nos hão-de emprestar dinheiro com taxas simpáticas?

Esta semana trazemos duas boas notícias para a economia do País. Contas feitas, até ao final de Setembro, o volume de Investimento Directo Estrangeiro fora do sector petrolífero foi o mais elevado desde os tempos da Covid-19. Este é um dado significativo, mostra uma tendência de aproximação aos valores de 2018 e 2019, sendo reflexo da implantação de alguns projectos que podem vir a ser estruturantes para a nossa economia. Mas também do trabalho da AIPEX, que, neste particular, merece uma quota significativa do sucesso.

Também a emissão dos Samurai Bonds a uma taxa de 2,6%, apesar de ser uma gota no mar da nossa dívida pública, pode funcionar como um sinal para que possamos no futuro ir buscar dinheiro lá fora com custos muito menores dos que temos agora. Aliás, este é o eterno problema de África, que, classificada negativamente pelas agências de rating, obriga as nações do continente a financiarem- -se com taxas três e quatro vezes acima das que são aplicadas aos países mais desenvolvidos.

O que na verdade parece um contra-senso. Porque é que quem mais precisa, quem é mais pobre, tem de pagar mais caro pelas verbas que precisa para se desenvolver? A solução é procurar outras fontes de financiamento, existir maior solidariedade entre os países africanos quando se trata de aproveitamento de recursos, investimentos estruturais partilhados, maior transparência na aplicação das verbas e uma posição mais dura perante os tradicionais financiadores.

Neste particular, Cyril Ramaphosa tem dado o mote, tentando explicar aos parceiros africanos que não é com a coluna vertebral dobrada e a mão estendida que se fala com o capitalismo do norte do planeta. Também é impossível inverter este quadro se os líderes africanos enriquecem de forma exponencial, sem qualquer explicação e depois exportam essas riquezas para os países ocidentais.

Se estes não dão o exemplo investindo nos seus territórios, porque é que os europeus, americanos, chineses e árabes nos hão-de emprestar dinheiro com taxas simpáticas? Sei que parece coisa de maluco, mas devia haver um pacto continental para que as mais valias financeiras dos cidadãos africanos, em especial das lideranças, tivessem de ficar guardadas e serem investidas em África.

O desenvolvimento do continente não depende apenas de infraestruturas ou dos cidadãos, depende sobretudo da mentalidade dos dirigentes, do seu compromisso com os países que governam, que normalmente é muito pouco. Não pode ser estratégia ou motivo de orgulho ver africanos a investir na Europa, nos Estados Unidos ou no Dubai, quando os seus países passam por enormes dificuldades e têm carências enormes.

Confesso que me complica esse orgulho estúpido de alguns em comprar empresas, imóveis ou financiar negócios nos países ex-colonizadores sem que cá dentro se consiga resolver questões básicas como o acesso gratuito à educação e saúde, a água potável ou a energia. Obviamente que eles agradecem, porque depois têm os excedentes financeiros que nos vão emprestar a taxas que podem chegar até aos 10%, inviabilizando as nossas economias.

Sem dizer um basta nestas coisas e mudar a mentalidade pouco patriótica de quem nos dirige, dificilmente África irá assumir o papel a que tem direito no equilíbrio mundial. A culpa não é deles, é nossa! E é isso que temos de resolver cá dentro de casa.

Edição 856 do Expansão, sexta-feira, dia 12 de Dezembro de 2025

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