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Elites precisam-se… e urgentemente

Opinião

Elite é um termo utilizado para se referir a um conjunto de indivíduos de classe hierárquica superior, ou seja separar os indivíduos, de um mesmo contexto, por determinado critério que os confira superioridade em relação aos demais.

Certamente que neste artigo de índole económica e financeira defendemos a existência desta elite, mas nunca no sentido depreciativo em que devam existir pessoas, "mais pessoas" do que outras ou que alguns indivíduos pelo nome ou cor de pele devam ter mais vantagens ou oportunidade se outros. O que aqui queremos defender é um dos esteios de qualquer sociedade que se queira liberal o quanto baste, em que o crescimento económico e financeiro assente na iniciativa privada.

É imperioso que se crie, ou que ela mesmo floresça por si, uma elite de empresários que se destaquem dos demais empresários, pela qualidade dos serviços prestados, pela capacidade organizacional e de gestão dos negócios, pelo aproveitamento objectivo das oportunidades que a nossa economia concede e pelo respeito das instituições nacionais.

É importante que haja uma elite que se demarque os meros empreendedores relativamente aos verdadeiros empresários, que seja dado o passo da comodidade de prestação de serviços às instituições do Estado, para o patamar da satisfação crescente do público em geral, precisa-se de um parque empresarial em que haja necessidade de comprovar em ambiente competitivo quem é o melhor, sendo que o melhor será sempre aquele que consiga oferecer o produto com a melhor qualidade e o preço mais baixo.

As economias que temos como referência para o nosso modelo de crescimento económico, assentam sobre esta mesma base, numa serie de empresas ou grandes grupos empresariais que contribuem maioritariamente para a formação do produto interno bruto, que criam empregos porque têm taxas de crescimento positivas dos negócios, que elevam a procura agregada da economia pelo facto e terem empregado mais pessoas, que levam ao crescimento do rendimento disponível e por sua vez da poupança agregada, influenciam directamente o investimento, visto que a poupança que as pessoas mantêm nos bancos é utilizada pelos bancos para emprestar actual e potencial empresariado para começar ou expandir os negócios.

Temos de ser honestos em reconhecer que as elites empresariais dos países desenvolvidos foram criadas em períodos de forte acumulação de capital sem ordem económica e legislação adequada ou durante o nascimento do capitalismo e liberalismo selvagem. Estas são as lições que devemos ter deste processo, pois nesta fase em que todos livros já estão escritos, todos bons e maus exemplos já podem ser estudados, defendemos que o processo de criação destas elites seja disciplinado e com base na eficiência dos projectos de investimento e das empresas ao invés de processos pouco lícitos e até mesmo violentos.

Portanto, o que se pretende é potenciar um serie indivíduos, de preferência nacionais, que detenham capacidade de gestão e outras competências para materializar os projectos de investimentos, de entre muitos, mais eficientes e diga-se eficiente porque deveram apresentar as melhores taxas de rentabilidade, menor risco e que gerem maior número de empregos possíveis.

A verdade é que não será um trabalho fácil, muito longe disto, pois o que se denota hoje, nos programas e iniciativas que o Estado angolano tem levado a cabo para fomentar o empresariado nacional ou criar as elites como preferimos chamar aqui, é que os proponentes têm apresentado projectos com erros crassos de concepção, e se o projecto que é o inicio do processo ou previsão do funcionamento do negócio para um período não inferior a 5 anos, certamente que o negocio também não será pautado pelo sucesso, dai o fraquíssimo nível de aprovações de projectos de investimentos, para posterior financiamento pelo programa Angola Investe bem como pela banca de desenvolvimento e comercial.

Por outro lado somos a defender que a criação das elites não tem necessariamente de ser sempre responsabilidade do Estado, visto que em Angola já estão criados mecanismos de financiamento de negócios e projectos de investimento através da captação de recursos directamente dos investidores ou povo em geral, para isso é que temos um mercado de capitais, onde é mesmo um mercado para "comprar" capitais em que os empreendedores mediante a emissão de títulos (acções, obrigações e outros) podem captar recursos para implementar os seus negócios.

Paradoxalmente estão criadas as condições para que o processo de criação destas elites empresariais seja o oposto dos que foi nos Estados Unidos da América e Europa, pois aqui estaremos perante uma espécie de socialização do capital (pulverização do capital das empresas pelo povo) e contra a argumentação de Adam Smith o Estado com programas especiais de fomento o empresariado nacional estará a fazer de mão invisível.

Em Angola, muito especificamente a elite empresarial, deverá ter o objectivo implícito de desonerar o Estado da função empresarial que ainda possui em áreas que claramente são de domínio do privado, visto que estamos habituados, e mal habituados digamos, a que o Estado faça tudo, crie empregos ou seja o dono das empresas e depois ele mesmo deve supervisiona-las, ou seja, o árbitro e jogador.

Ainda assim, esperamos que o Estado disponibilize os bens públicos que por definição deve prover, sem margem para erro estaremos a sobrecarregá-lo sob pena deste não conseguir executar bem nenhuma das tarefas a que se propõe.

A classe empresarial que estamos a falar deverá tomar conta de sectores puramente comerciais, com excepções de áreas que constituem reserva absoluta do Estado, pois estaremos a falar de grupos empresariais especializados em determinada actividade económica concorrentes entre si e que terão de competir para ganhar os seus clientes no dia-a-dia.

Esta situação é óptima para os consumidores finais que verão a sua disposição uma gama maior de produtos, com mais qualidade e com preços mais competitivos, isto é bom para os pequenos e médios empreendedores que eventualmente ainda não tenham crescido o suficiente para fazer parte da elite, no sentido de acreditarem que é possível, superarem- -se a si mesmos e consigam expandir os negócios. Para os grandes empresários também é óptimo pois depois de vencida a batalha da competitividade internamente devem concorrer com os pesos pesados lá de fora e melhorar os números das nossas exportações não petrolíferas.

E como os liberais fanáticos já o sabem, só não o dizem, tudo gira a volta do Estado, sendo que os fenómenos apontados deverão no fim do dia levar a um aumento das contribuições fiscais de empresas e particulares para que o Estado obtenha receitas, pela forma definida pelo contrato social, e utilize-as para prover os bens públicos aos cidadãos.

Para aqueles argumentistas que defendem que o Estado angolano deve ter um braço empresarial porque aumenta as receitas, artigos como este facultam uma resposta clara, pois os resultados negativos (quase sempre) e as frugais receitas que as empresas públicas apresentam devido a deficiente gestão do parque empresarial público são de todo inferiores ao grande potencial de receitas fiscais que o Estado arrecadaria por ter uma elite empresarial robusta.

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