Será que a indústria é (ainda) um factor gerador de riqueza?
A evidência empírica mostra que nenhum país saiu de pobre para rico sem um aumento de produtividade no sector agrícola acompanhado de um rápido processo de industrialização. No contexto de Angola defendemos que este aumento de produtividade no sector agrícola deve vir de uma indústria transformadora que produza inputs como fertilizantes, adubos e trate da montagem de máquinas e equipamentos.
No próximo mês de Março o Expansão vai, mais uma vez (teimosamente), realizar o seu Fórum Indústria, desta feita a 5ª edição. Olhando para o desempenho deste sector em Angola desde 2021, altura em que se realizou a 1ª edição, vemos que de lá para cá (até 2023) o crescimento da indústria transformadora em percentagem do PIB foi de apenas 1,5 pontos percentuais, saindo de 6.5% para 8% (cf. Gráfico 1). Durante o ano de 2024 o sector registou um crescimento de 3.1 pp entre o 1.º e 3.º trimestre (saindo de 5.5% para 8.6%). Este desempenho de 8% para 2023 e 8,6% para o 3.º trimestre de 2024 está muito abaixo da média africana neste século XXI (para o período de 2000 - 2023) que é de 11,3%, segundo dados do "World Development Indicators" do Banco Mundial. Angola tem um longo caminho a percorrer.
Alguns autores ligados a instituições como o Banco Mundial, por exemplo Ejaz Ghani e colegas, sugeriam no período pré- -Covid-19 que o sector dos serviços seria a nova máquina para o crescimento económico nos países mais pobres. Por outras palavras, estes autores sugeriam que alguns países, contrariamente ao que nos ensina a história do desenvolvimento económico dos agora países ricos (G7), poderiam transformar as suas economias e atingir altos níveis de desenvolvimento sem passarem por um processo de industrialização. Não é por acaso que, por ex., na estratégia PRODESI do Executivo angolano, que já criticámos neste espaço, a frase indústria transformadora apenas aparece uma única vez!
A pandemia da Covid-19 veio mostrar que reagem melhor à choques externos aqueles países que têm uma certa capacidade produtiva. Nesta senda, este facto deveria servir de alerta para economias como a de Angola, onde a indústria, no geral e em particular a indústria transformadora, é ainda um factor gerador de riqueza. Afinal, a taxa de crescimento da produção industrial está intimamente ligada à taxa de crescimento económico (cf. Kaldor, 1989), i.e., as economias crescem impulsionadas pelo crescimento da indústria. Por outro lado, um aumento da produtividade no sector industrial, através das ligações intersectoriais, faz crescer a produtividade nos demais sectores (agricultura, comércio, serviços, transportes). Como se pode observar, a indústria transformadora pode dinamizar o sector dos serviços.
Os dados do Banco Mundial mostram que os países do G7 têm uma base industrial muito variada, países como a Alemanha têm a indústria transformadora com um valor acrescentado (% do PIB) de 18,5% (média para o período de 2020-2023) e o Reino Unido de 8,5% (menos 10 pp). Os BRICS neste século XXI têm a indústria transformadora com um valor acrescentado (% do PIB) médio acima dos 11%, onde o Brasil está nos 12% e a China nos 29,7%.
No Índice de Industrialização em África do Banco Africano de Desenvolvimento publicado em 2022, Angola é tido como um país que estagnou (na 34ª posição), ao passo que países como Senegal (7ª posição), Benim (18ª), Uganda (20ª), Etiópia (25ª) estão a industrializar-se. Coisa para dizer que a "paralisia por análise" é uma realidade! Dentre os países africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs), Angola apenas supera São Tomé e a Guiné-Bissau, apesar dos enormes recursos e potencial que o país detém (veja Gráfico 2). Este facto mostra que não basta ter potencial e recursos, é preciso depois ter uma visão e, acima de tudo, liderança para que o potencial seja transformado em realidade e tais recursos sejam colocados ao serviço de um rápido processo de industrialização.
A evidência empírica mostra que nenhum país saiu de pobre para rico sem um aumento de produtividade no sector agrícola acompanhado de um rápido processo de industrialização. No contexto de Angola defendemos que este aumento de produtividade no sector agrícola deve vir de uma indústria transformadora que produza inputs como fertilizantes, adubos e trate da montagem de máquinas e equipamentos. Todavia, esta mudança de paradigma só vai acontecer quando a governação mostrar que aprendeu com os erros do passado, por exemplo, evitar a construção de pólos industriais (Viana, Catumbela, Fútila) e parques industriais rurais, sem estarem devidamente infraestruturados e como tal não contribuem para o aumento da competitividade da indústria nacional.
Leia o artigo integral na edição 815 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)