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Opinião

O aumento da taxa de juro da Reserva Federal americana merece atenção

MILAGRE OU MIRAGEM?

A opinião de Fernandes Wanda acerca do aumento taxa de juro da Reserva Federal e as suas possíveis implicações para a economia angolana

Recentemente foi destaque o aumento da taxa de juro por parte da Reserva Federal norte-americana. Apesar de ser uma acção "local" para combater o aumento da inflação naquele país, atingiu os 8,5% em Março, sendo este o valor mais alto desde 1981, ela acaba por ter um enorme impacto nas economias menos avançadas dado o alto nível de endividamento na moeda americana.

Como explicamos no nosso texto anterior, a alta inflação que se verifica em grande parte dos países ricos, como os EUA e o Reino Unido, está relacionada com a intervenção feita pelos Governos no intuito de salvarem as suas economias face à crise provocada pela pandemia da Covid-19. Lembramos aqui que, só nos primeiros dois meses, a intervenção do Governo americano foi cerca de 12,5% do PIB, enquanto no Reino Unido foi cerca de 14,5% do PIB.

Esses governos agiram em defesa dos seus interesses, tendo inclusive disponibilizado um apoio directo às famílias por forma a enfrentarem a crise. As pessoas receberam ajuda num momento em que o comércio mundial estava quase paralisado, causando interrupções nas cadeias de fornecimento. Isso significa que as medidas adoptadas para ajudar as famílias a enfrentar a crise, nestas condições, contribuíram para um aumento da demanda sem que para tal houvesse uma oferta à altura. A esta inflação, veio agora juntar-se o aumento dos preços dos combustíveis devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A medida adoptada pela Reserva Federal, apesar de ter como objectivo a resolução de um problema interno nos EUA, não deixará de ter um impacto enorme em muitas economias, particularmente africanas, desde já fragilizadas devido ao choque causado pela pandemia da Covid-19.

Recentemente o FMI expressou a sua preocupação diante da possibilidade de alguns países africanos enfrentarem uma nova crise, agora devido à guerra na Ucrânia, quando se preparavam para um período de recuperação pós-Covid. De salientar que o aumento da taxa de juro nos EUA pode ser acompanhado de um outro aumento na zona Euro, previsto para Julho.

Estes aumentos, por um lado, podem ter um impacto na possibilidade de os países africanos captarem investimento estrangeiro. Por outro lado, grande parte dos países africanos tem a sua dívida soberana em dólares ou euros e, como tal, um aumento das taxas de juros pode fazer com que esses países não cumpram com os seus compromissos. Claro que isso também tem a ver com a forma como tais empréstimos foram contraídos bem como os sectores onde os fundos foram aplicados.

Por ex., em Angola sabemos que dívida externa esteve acima dos 100% do PIB em 2020, porém a Fitch Ratings acredita que ela tenha caído para 78,5% do PIB em 2021. O que não sabemos é como foram aplicados os fundos que levaram a dívida de Angola a atingir o nível que atingiu. Angola continua sem infraestruturas produtivas (falamos de perímetros irrigados e pólos industriais devidamente infraestruturados) e estradas que deveriam facilitar a transportação de pessoas e bens.

(Leia o artigo integral na edição 674 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Maio de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)