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Opinião

Conferência Colectiva

EDITORIAL

Que é possivelmente o editorial mais difícil que escrevi até agora, porque estou a falar de uma coisa que ainda não aconteceu, e quando vocês lerem, já sabem o que se passou. Ou seja, agora são 23 horas de quarta-feira, dia 5, hora de fechar esta edição para que possa estar disponível nesta sexta- feira, quando tudo já tiver acontecido e cada um de vocês já tiver uma ideia formada sobre este acontecimento

Vou falar-vos da conferência colectiva promovida pela Presidência da República. Que é possivelmente o editorial mais difícil que escrevi até agora, porque estou a falar de uma coisa que ainda não aconteceu, e quando vocês lerem, já sabem o que se passou. Ou seja, agora são 23 horas de quarta-feira, dia 5, hora de fechar esta edição para que possa estar disponível nesta sexta- feira, quando tudo já tiver acontecido e cada um de vocês já tiver uma ideia formada sobre este acontecimento.

Queria primeiro explicar que chamo uma conferência e não uma entrevista colectiva, porque tenho a experiência anterior, participei nas duas que o Presidente João Lourenço promoveu durante o seu mandato, e isso diz-me que nós questionamos, o Presidente responde, mas não existe a possibilidade de voltar a questionar, de insistir num assunto, de trocar argumentos, que é na verdade a verdadeira essência da entrevista.

O jornal Expansão foi contactado, através de mim próprio, pelo secretário do Presidente para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa, que nos formulou o convite para participar nesta conferência colectiva, referindo que seriam apenas cinco órgãos de comunicação e "de modo a organizar devidamente o evento e por forma a evitar que não se repitam perguntas, solicitamos que nos envie quanto antes as duas perguntas a fazer ao PR".

Pareceu-nos que este prazo daria tempo para que o Presidente preparasse respostas convincentes a temas que achamos importantes que sejam levantados publicamente, que são importantes para todos e que devem ser falados sem receios.

Depois de conversar com a equipa, mandámos as questões na sexta-feira, dia 31 de manhã. Foram estas: "A primeira tem a ver com o facto de quatro grupos económicos (Gemcorp, Carrinho, Omatapalo e Mitrelli) terem ganho a maioria das obras, contratos de fornecimento e gestão do Estado e titularidade de outros bens económicos, na maioria dos casos por adjudicação directa ou contratação simplificada. Que relação têm estes grupos com a Presidência? Esta concentração e aumento exponencial na actividade económica não vai criar os mesmos problemas que tivemos na presidência de José Eduardo dos Santos quando também concentrou o poder económico em meia dúzia de pessoas, e que ainda hoje está a ser resolvido pelo seu Governo? Isso não afasta bons investidores? Não afecta a imagem de transparência que tem sido uma das bandeiras da governação?"

Uma segunda tem a ver com o aumento do culto da personalidade nos últimos dois anos, suportado pela linha editorial dos principais órgãos de comunicação social e pelas declarações públicas dos ministros e presidentes das empresas públicas, que voltaram ao discurso do passado, de que tudo o que fazem é com a "sábia orientação do Presidente da República". Isso não descredibiliza as instituições e desresponsabiliza os envolvidos? Isso não é prejudicial para uma cultura de meritocracia que o Governo quer implantar no País?".

Hoje ainda não sei como correu, se houve algum problema ou se, pelo contrário, foi um sucesso, quais foram as respostas do Presidente às diversas questões, mas ao ler isto você já sabe. Pelo enorme respeito e consideração que os nossos leitores nos merecem queríamos que também soubessem desta parte, independentemente do que se tenha passado.