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Opinião

Confiança

Editorial

Hoje o povo entende mais do que estes pensam, sabem já distinguir uma abordagem sólida de simples retórica. Já são capazes de identificar em quem confiam

Esta é uma semana marcada pelo rescaldo e pela projecção dos congressos dos maiores partidos de Angola, o que naturalmente gerou alguma tensão nas redes sociais e nos pronunciamentos públicos de algumas figuras que habitualmente estão mais resguardadas. Numa democracia que se quer plena, estes são momentos de afirmação da política, das instituições e, de forma indirecta, dos cidadãos. Devem também ser encarados com alguma normalidade, embora curiosamente, as eleições dos líderes sejam discutidas apenas por listas únicas. Ou seja, sem a possibilidade de esgrimirem argumentos, de ter acesso aos que dentro da mesma família partidária pensam de maneira diferente, mas que nestes conclaves, sem oposição, sabem que a estratégia é dizer que sim para manter o estatuto e a sua posição social.

Mas são também momentos de festa, até porque é a oportunidade de delegados vindos das províncias falarem entre si, sendo que na verdade as verdadeiras discussões acontecem nos corredores e nas horas das refeições. Isto também se deve muito à forma como os congressos são organizados, onde existe um peso enorme para unanimidade, onde os discursos desalinhados raramente chegam ao palanque principal, onde as pessoas estão mais para ouvir do que falar, sendo que esse dom é apenas dado aos que comandam.

Estamos a oito meses das próximas eleições legislativas e, além da imagem de agregação à volta do líder, é também necessário juntar à volta de uma ideia do País. Esgotar a discussão nestes conclaves a que "eu quero chegar ao poder" ou "eu vou manter o poder", é muito pouco para dar resposta aos problemas que os angolanos atravessam. Esperemos que destes congressos saiam também programas de governação, ideias de como podemos atravessar as dificuldades, e que estes sejam publicados, disponibilizados à população, porque aquela ideia que alguns dirigentes têm de que a maioria da população não se interessa ou não entende de política, não é verdade. Hoje o povo entende mais do que estes pensam, sabem já distinguir uma abordagem sólida de simples retórica. Já são capazes de identificar em quem confiam.

Claro que as crescentes dificuldades da maioria da população pode dar a falsa ideia que uns kwanzas, umas t-shirts ou bonés são suficientes para garantir a preferência. Podem até receber e vestir as ofertas, mas no momento de pôr a cruz isso praticamente não conta. O que vale é a confiança.

E embora nesta altura não existam condições iguais para todos, a protecção da comunicação social pública tem muitas vezes o efeito contrário, a verdade é que os políticos têm de falar verdade com os seus cidadãos. Os tempos dos chavões ideológicos já acabou. Embora muitos não tenham percebido, os tempos já são outros.