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Nas curvas sinuosas da História, onde os ventos da incerteza sopram sem trégua, a diversificação económica eleva-se como um farol de prudência e sapiência, um baluarte imponente que protege os povos da fúria imprevisível dos mercados globais. Nas nações que dançam ao ritmo febril do ouro negro, onde o petróleo é tanto uma bênção quanto um fardo, a arte de dispersar os riscos revela- -se como a virtude mais sublime. É a capacidade de escalar montanhas íngremes e atravessar os vales traiçoeiros das flutuações, proporcionando a solidez de uma base económica, multifacetada e robusta, que resiste impávida às marés inconstantes do destino. Ao longo de meio século, Angola e os Emirados Árabes Unidos (EAU) traçaram, com pinceladas contrastantes, os seus percursos na vasta tapeçaria do desenvolvimento económico. Onde os EAU encontraram harmonia no compasso da diversificação, Angola tem-se debatido nos redemoinhos da dependência. Este artigo debruça-se, com olhar analítico e sensível, sobre as suas jornadas paralelas, desvendando os indicadores que desvelam o êxito da diversificação nos EAU e o apego persistente de Angola ao seu ouro negro. Nas linhas que seguem, desdobra-se a comparação entre duas nações que, embora abençoadas por recursos valiosos, responderam de forma dissonante aos caprichos da incerteza. Os anos de 1975 a 2025, que assinalam o cinquentenário da Independência de Angola, são um período repleto de desafios globais e transformações internas, constituindo o palco ideal para esta profunda reflexão. Angola e Emirados Árabes Unidos: uma trajectória de sucessos e desafios na diversificação A diversificação económica é a expansão caleidoscópica do tecido produtivo de uma nação, mitigando a fragilidade inerente à dependência monolítica de um único sector - como o ouro negro, que domina vastas economias. Enquanto Angola trava uma renhida batalha para se libertar da sombra asfixiante da sua ancestral dependência petrolífera, os Emirados Árabes Unidos têm desvendado um caminho resplandecente, pautado por um crescimento vigoroso e incólume. O PIB per capita dos EAU, que em 2023 atingiu a cifra vertiginosa de 47.000 USD, reflecte uma economia sólida, equânime e cada vez menos subjugada pelo ouro negro. Em contraste gritante, Angola, com um PIB per capita de escassos 3.900 USD no mesmo ano, permanece enredada nas urdiduras da dependência, sem conseguir romper o ciclo que amordaça o seu vasto potencial(1). Nos últimos 20 anos, Angola empreendeu várias tentativas para rasgar as garras do petróleo. O Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) desenrolou-se em duas fases, de 2013 a 2017 e de 2018 a 2022, com o propósito de cultivar a tão almejada diversificação. Sectores como a agricultura, o turismo e a indústria transformadora foram erigidos como pilares prioritários, numa tentativa de fomentar o emprego e alavancar a produtividade além do âmbito petrolífero. Para seduzir o capital estrangeiro, o governo orquestrou reformas na Lei do Investimento Privado, desmantelando barreiras burocráticas e incentivando a criação de zonas económicas especiais(2). A vastidão das terras angolanas, dotadas de um potencial agrícola imensurável, foi erguida à condição de prioridade no seio das políticas governamentais, com medidas voltadas para impulsionar a produção interna de alimentos e reduzir a dependência das importações. A aposta em energias renováveis, concretizada em infraestruturas monumentais como a barragem de Laúca, revelou-se um esforço para dotar o país de energia sustentável e fiável(3). Porém, por mais audaciosas que essas políticas se apresentassem, chocaram contra uma realidade crua e labiríntica. A corrupção, como uma densa e nefasta neblina, ofuscou o progresso. Angola, figurando entre os países mais corruptos do mundo, segundo o Índice de Percepção da Corrupção de 2021, viu os recursos destinados à diversificação serem tragados por malversações, desviando-se para mãos e interesses que, em vez de alimentarem o desenvolvimento, perpetuaram o atraso(4). Além disso, a carência de infraestruturas adequadas foi um obstáculo insuperável que erodiu quaisquer avanços significativos. Sem estradas, energia confiável e redes de transporte eficientes, Angola permanece à mercê de custos de produção exorbitantes, o que compromete a sua competitividade no cenário global. Esta ausência de conectividade e suporte estrutural deixou sectores como a agricultura e a indústria de transformação num estado de estagnação contínua(5). Leia o artigo integral na edição 799 do Expansão, de sexta-feira, dia 25 de Outubro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Recentemente, a ministra das Finanças, Veras Daves de Sousa, disse, alguns dias antes do discurso à Nação do Presidente, na Assembleia Nacional, que uma boa parte dos angolanos faz as suas poupanças no estrangeiro. No fundo, ela disse que aqueles que têm dinheiro de sobra, políticos, altos funcionários do Estado, de empresas públicas e privadas, não confiam no sistema financeiro nacional. A informação da ministra que, como disse, "não é segredo para ninguém", mostra que o país está a sangrar capitais e a economia vai mal. E indicia também o que esses endinheirados pensam.

Empresários, que encontram enormes dificuldades para conseguirem cambiais nos bancos, dizem que é muito arriscado confiar nos nossos bancos. Asseguram mesmo que a melhor maneira para sobreviver no mundo empresarial, em Angola, tem de se aprender a lidar com a diversidade. Estas adversidades revestem- -se essencialmente de três formas: lutar por cambiais ao preço oficial, tarefa desafiadora e morosa, possuir uma conta no exterior, ou, como último recurso, lançar mão à informalidade.

A inflação tem tudo a ver com esses factores, ela deriva também do desvio de divisas do mercado formal para o informal. Há angolanos que despejam divisas no informal, onde o dólar, o euro ou o rand são vendidos 30 ou 40 por cento mais caro do que no mercado formal. A negociata enriquece indivíduos e alavanca o ilícito. Esses abastados têm acesso a elas e tiram proveito dos desequilíbrios da economia.

A sociedade está a metamorfosear-se em posicionamentos: muitos políticos, empresários, altos funcionários públicos, da banca, do grande comércio e das multinacionais não acreditam no próprio país. Têm medo, estão inseguros nas suas convicções e atitudes. Substituíram os princípios pelo desengajamento, pela crença de que qualquer estado positivo, qualquer esperança, é uma perigosa ilusão.

A inflação, a instabilidade dos preços, as dificuldades de acesso aos cambiais e a baixa produção geram insegurança e tudo isso afugenta os capitais.

A nossa economia não é fiável e ninguém se arrisca num cenário onde as poupanças se esfumam. Preferem guardá-las em lugar seguro onde, cedo ou tarde, poderão desfrutar delas ao sabor de um rico salmão, mortadela ou arrotar caviar.

lo objectivo: submeter a sociedade ao martírio indefinido e amealhar dinheiro cada vez mais. O que Vera Daves deixou nas "entrelinhas", no fundo, é que aqueles que deveriam servir como guardiões e dar segurança servem-se deles, individualmente, e alimentam aqui o desespero social e o descrédito.

No fundo, há mandriões que se transvertem de vendedores de ilusões, ora se impondo pela simpatia, ora para nos engambelar. É o que começa a acontecer. Com o sacrifício da maioria da população, a elite da alta esfera, pública e privada, se faz glória.

Na base, no povo, prevalece o medo em relação ao futuro. O discurso do Presidente sobre o Estado da Nação procurou afagar essas incertezas. Mas, infelizmente, o país real é outro. Porque há gente desalinhada, gente incapaz, desqualificada, sobretudo, gente que não tem vontade, nem quer avançar. A sangria dos nossos recursos é sinal disso mesmo.

Honestamente falando, temos de reflectir. Se queremos um país melhor, se amamos a nossa terra, a nossa família, os nossos filhos, vamos ajudar a fazer diferente. Porque há uma frustração desesperadora que limita as possibilidades de viver.

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