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Opinião

Estamos mais pobres

EDITORIAL

Os cidadãos estão a empobrecer, a população está a viver pior, e é com esta realidade sempre presente que devem ser tomadas as tais medidas estruturantes. Não devemos olhar para fora, mas para dentro. Temos que nesta fase construir o País a partir de dentro, e na verdade têm sido anunciadas algumas medidas para a protecção da actividade económica nacional, curiosamente todas com aplicação a partir de 2024, mas também temos de olhar para os salários.

Defender que o OGE 2024 "presta uma atenção especial à redução das desigualdades sociais e à protecção do rendimento das famílias e dos trabalhadores" quando propõe um aumento de 5% nos ordenados dos funcionários num ano que vai fechar com uma inflação superior a 18% é, no mínimo, caricato. Em termos práticos, as famílias perdem no mínimo 13% do poder de compra. Se juntarmos a isto a desvalorização de 40% do kwanza e o impacto que significa nas poupanças das famílias, rapidamente concluímos que a quase totalidade dos angolanos está mais pobre. Muito mais pobre.

Claro que há uma pequena faixa de cidadãos que tem como fonte dos seus rendimentos algumas instituições públicas, onde na verdade as chefias acabaram por ser compensadas com o aumento de subsídios e prémios, o que lhes permitiu manter o nível de vida. Mas na sua generalidade, os cidadãos que vivem do seu trabalho, sem recorrer a desvios e "gasosas", perderam poder de compra, vivem com mais dificuldade, e a situação não vai melhorar no próximo ano. Por isso é que vimos partir muitos dos nossos jovens quadros qualificados para outros países.

O OGE 2024, como já explicámos em várias peças que temos feitos, continua a privilegiar a Defesa e Segurança, o pagamento da dívida, além de prever o recurso a muito mais dívida, que terá que ser paga pelas gerações futuras. Mas se formos analisar a execução do Orçamento de 2023, a situação é ainda mais preocupante. Os cortes foram feitos fundamentalmente nos sectores Social e Eco nómico, que significa piores condições para a população e mais dificuldade em alavancar o crescimento do País.

Os cidadãos estão a empobrecer, a população está a viver pior, e é com esta realidade sempre presente que devem ser tomadas as tais medidas estruturantes. Não devemos olhar para fora, mas para dentro. Temos que nesta fase construir o País a partir de dentro, e na verdade têm sido anunciadas algumas medidas para a protecção da actividade económica nacional, curiosamente todas com aplicação a partir de 2024, mas também temos de olhar para os salários. Para os rendimentos dos que cá estão e que guardam as suas poupanças no País, porque é a única forma de criar um consumo interno capaz de suportar o desenvolvimento económico e a redistribuição da riqueza. Ter 10 milhões de pessoas com 500 mil Kz não é mesma coisa que ter 9 milhões com 50 mil Kz e 1 milhão com 4,55 milhões Kz. Embora estatisticamente seja o mesmo.

E o efeito na economia é também muito diferente. Porque estes 9 milhões vão ter de utilizar outros esquemas e rendimentos para sobreviver, e o outro milhão vai exportar as poupanças para fora, comprar casas e roupas caras no estrangeiro, e retirar o dinheiro da nossa economia. Não podemos continuar a alimentar este enorme fosso entre uns, poucos, que estão cada vez mais ricos e a quase totalidade dos angolanos, que está cada vez mais pobre. E ter como medida-bandeira para promover a justiça social, aumentar os ordenados em 5%. Francamente...

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