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Opinião

Medidas concretas

Editorial

Não vale a pena fingir que não estamos a ver. Os investidores internacionais com algum prestígio continuam a desconfiar de Angola.

São anos e anos de histórias e de esquemas, de biliões de dólares que entraram e saíram sem qualquer justificação, de golpes e exigências a quem queria fazer projectos sólidos, afastámos os sérios e bem-intencionados e acabámos por ficar com os que dançam a música da comissão e ajudam a alimentar esse enorme "monstro" da corrupção. Basta ver quem são os investidores dos últimos grandes projectos no País para perceber que ainda falta muito para mudar esta situação.

Sejamos práticos, quem não herdou ou tem fortuna de família, que sempre trabalhou para o Estado, no limite com uma remuneração máxima anual de 100 mil dólares, já com ordenado, prémios e subsídios, como é que pode apresentar um património de milhões de dólares? Não há milagres da multiplicação. Pior, quando sem pudor atira esse património à cara do cidadão comum como um sinal de vitória, passando aos nossos filhos uma imagem de sucesso, de inteligência. Não é apenas a falta de carácter, princípios e valores, é também a falta de vergonha.

Mas foi assim, e possivelmente não faz sentido, agora, estar a gastar todas as baterias com o passado, quando muitos destes processos continuam e sentem-se no nosso dia-a-dia. Muitos ainda aqui andam, nas mesmas posições e com a mesma sede, mas verdadeiramente preocupante são os que acabaram de chegar, envoltos num manto de impunidade que lhes é dado pelo facto de ainda não terem chegado aos primeiros 100 milhões de dólares de acumulação primitiva de capital, como se chamava ao roubo do erário público nos tempos passados.

O tempo é de tomar medidas concretas que inibam comportamentos desviantes e não apenas levar a tribunal figuras do passado, assustando os apetites com a punição. Por isso, é com especial expectativa que aguardamos a resposta do Presidente da República face ao desafio de tornar obrigatório a declaração pública de rendimentos de políticos e gestores públicos, e também se o acesso a esta informação poderá ser feito por todos e quem irá abranger. E já agora ser obrigatório tornar público os últimos beneficiários das empresas a quem são entregues contratos e empreitadas por adjudicação directa por parte de ministérios, serviços da presidência, administrações municipais, empresas e institutos públicos, e órgãos de defesa e segurança. E também proibir que conjugues, filhos e primos forneçam as instituições comandadas pelo pai ou a mãe.

A luta contra a corrupção se não tiver atrás de si uma vontade genuína é apenas retórica. E quem tem vontade genuína corta a direito e não tem medo das consequências.