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Opinião

Não acredito!

Editorial

Veja-se o contrasenso, asfixiamos a actividade económica nacional com impostos e mais impostos, e depois oferecemos uma bandeja de incentivos aos grandes grupos multinacionais. Valorizamos as grandes obras quando é a pequena actividade económica que sustenta os países.

As projecções do FMI para o crescimento económico na África Subsariana, que colocam Angola no 39.º lugar entre 45 países, devem merecer de todos uma análise cuidada. Em vez de matar o mensageiro ou de tentar descredibilizar a fonte, arranjar explicações estapafúrdias, ou mesmo alimentar a teoria da perseguição, devem os responsáveis pensar o que pode ser feito. Como se pode explicar que a nossa moeda esteja a valorizar, que o investimento também cresça, mas que a actividade económica não aumente? O que é que estamos a fazer mal?

Possivelmente porque estamos a desenvolver o País assente em linhas de financiamento Estado a Estado, que trazem sempre acopladas a obrigação de entregar as obras e os equipamentos aos operadores desses países, ficando eles com as mais valias do nosso desenvolvimento. Possivelmente porque ainda não conseguimos descalçar esta mania de entregar os maiores projectos por adjudicação directa a dois ou três grupos que se tornam tão grandes, que passam a ser eles a "mandar" na economia e não o mercado ou a concorrência. A ideia peregrina da acumulação primitiva de capital e de que a nossa soberania económica deve ser entregue aos nossos amigos. São dos nossos. Confiamos neles!

Possivelmente porque não há maneira de nos libertarmos dessa ideia de que o Estado é que tem de regular, intervir, comandar, dar ordens. De pensarmos sempre em megaprojectos, do espírito despesista e consumista que até nos enche de orgulho quando falamos do custo das nossas realizações. Desta mania de não sermos suficientemente humildes para pedir ajuda quando não sabemos, ou de reconhecer os nossos erros quando eles acontecem.

Possivelmente porque não conseguimos trocar de geração e de pensamento, porque não levamos a sério os nossos jovens empreendedores, a não ser que sejam nossos filhos ou sobrinhos, porque não premiamos os melhores, a não ser que sejam do nosso partido. Veja-se o contrasenso, asfixiamos a actividade económica nacional com impostos e mais impostos, e depois oferecemos uma bandeja de incentivos aos grandes grupos multinacionais. Valorizamos as grandes obras quando é a pequena actividade económica que sustenta os países.

Alguém acredita que vamos desenvolver a agricultura a oferecer tractores e enxadas? Alguém acredita que vamos desenvolver a indústria com o Estado a construir fábricas para depois vendê-las a preço de saldo aos privados mais chegados? Alguém acredita que vamos desenvolver o País sem descentralizar o poder? Alguém acredita que é possível ter uma estratégia eficaz para a nossa economia quando entregamos a uma ou duas pessoas a capacidade de escolher os caminhos? Alguém acredita que é possível combater o desemprego sem apostar forte na educação? Alguém acredita que é possível fazer justiça social sem abandonar esse receio enorme de partilhar o quer que seja?

Pois, peço desculpa, eu não acredito!