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Opinião

Reino do "faz-de-conta"

Editorial

Na realidade virtual que sustenta todo este reino não há incompetência, corrupção, gestão danosa, falências ou fome, apenas gente que não se adapta, que não entende as virtudes deste reino do "faz-de-conta" e, por isso, o melhor mesmo é ir à procura de outros mundos para ser gente.

No reino do "faz-de-conta" o que é verdade é o que queremos que seja, uma vela transforma-se numa luz celestial, o intolerável torna-se bom, os caminhos esburacados da picada dos pensamentos egoístas são na verdade ondas de solidariedade para com os nossos concidadãos, e mesmo aquilo que de longe parecem enormes carências, com o aproximar da imagem muda rapidamente para facilidades e felicidade colectiva.

Neste mundo não há lugar para os que teimosamente tentam chamar a atenção para as dificuldades e para o futuro, porque o presente será eterno e carregado de coisas que apenas nos fazem sorrir. Apesar de ser um reino "faz-de-conta" também tem as suas regras, decididas em grupos restritos para que diferentes opiniões não estraguem o ambiente de cordialidade, para que se saiba exactamente em que realidade virtual todos vão viver, qual é o grau de alienação que é preciso injectar em cada um dos presentes, para que a luz superior não se apague.

Atentos aos que garantem que este reino se mantém assente em pilares sólidos de "faz-de-conta", agradecemos-lhes de mãos voltadas para dentro, enchemos os olhos de emoção quando os olhamos de frente e achamos natural que usufram, da forma que entenderem, das riquezas do reino. Porque na realidade virtual que sustenta todo este reino não há incompetência, corrupção, gestão danosa, falências ou fome, apenas gente que não se adapta, que não entende as virtudes deste reino do "faz-de-conta" e, por isso, o melhor mesmo é ir à procura de outros mundos para ser gente.

Nesta realidade virtual não há lugar para todos, afinal é necessário dar alguns passos de libertação de pensamento próprio, de capacidade crítica, aceitar sem grande dificuldade que o caminho para felicidade passa pela aceitação. De forma simples e sem argumentar. Sem criar ondas nesta realidade virtual que possam pôr em causa o estatuto de poucos, mas que na verdade são muitos, porque é possível neste reino "faz-de-conta", transformar a verdade de meia dúzia na verdade de milhões, em acrescentar likes às nossas mensagens apenas com o desejo.

Afinal, o que todos queremos é ser felizes, ou pelo menos a maioria, e este reino parece perfeito para construir este acesso à realização pessoal. Enquanto o projector desta realidade virtual se mantiver ligado, aí estamos nós, ou pelo menos a maioria, nesta enorme corrente do "faz-de-conta", lindos e bonitos, felizes e sorridentes, à espera que venha a ordem de cima para desmobilizar. Afinal, neste reino tudo é permitido a uma pequena minoria que nos orienta com o seu sábio conhecimento. É bom, não é?

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