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"Esse orgulho de ser angolano é tão simples de dizer e tão difícil de fazer"

PEPETELA

É autor de 26 livros publicados, traduzidos em 21 línguas estrangeiras. Pepetela defende que os livros em Angola deveriam ser subsidiados pelo Estado. Para o escritor, Luanda é uma cidade muito caótica para quem quer ter sossego.

Recebeu uma menção honrosa da parte do Ministério da Cultura e Turismo e em 2021 recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Que significado tem esse reconhecimento para a sua carreira?

O reconhecimento é reconhecimento. Reconhecem algum interesse no trabalho que tenho executado, agradeço, sobretudo o interesse.

Esteve no festival literário "Escritaria" em Benguela. Há também uma agenda para os seus leitores de Luanda?

Quem organiza não sou eu. A Escritaria é que me convidou para estar na sessão inaugural. Acho que os luandenses vão ter de esperar um pouco, porque primeiro vou ao Lubango, em Abril, provavelmente teremos algo em Luanda, mas sem data marcada.

Durante a guerrilha escreveu os seus primeiros livros, entre os quais "Mayombe". Como conciliava a luta pela libertação nacional e a escrita?

Escrever em tempo de guerra é mais complicado. Por exemplo, quando escrevi o livro Mayombe comecei em 1970 e terminei em 1971. Estava na floresta do Mayombe e às vezes era complicado. O problema é que escrevia à mão, em papel, e depois era difícil proteger essas folhas. Poderia haver um ataque a uma base ou no sítio onde estivesse ou poderia perder a mochila onde carregava.

E onde guardava do manuscrito?

Sempre que me afastava do manuscrito embrulhava em plásticos devido à chuva, metia no tronco da árvore, tinha um buraco onde metia, de maneira que ninguém poderia descobrir. O meu trabalho era proteger o que já tinha escrito.

E as condições permitiam?

Para escrever também era complicado, não havia cadeiras, não havia mesas, era escrever no colo ou no papelão mais duro para pôr no joelho, era escrever encostado a uma árvore, quando havia tempo livre e tinha que ser nas horas calmas, porque havia sempre alguém que queria perguntar o que estava fazer. Era difícil escrever, mas as histórias estavam lá, bem vivas. Eram difíceis as condições, mas era preciso ter imaginação.

Como é escrever em tempo de paz?

Escrever em tempo de paz é sempre mais fácil.

Que caminho deve trilhar um escritor novo para ter notoriedade?

Muitas vezes é sorte. No momento certo entregar qualquer coisa para um editor. Neste aspecto eu tive sorte, no momento em que achei que deveria publicar tinha sempre alguém com disposição para isso. Depois da independência já era mais fácil, já tínhamos a União dos Escritores Angolanos (UEA).

A UEA ainda é um caminho para os escritores terem visibilidade?

Acho que sim. Aliás, é o primeiro caminho para os escritores, penso eu. Excepto aqueles que já ganharam essa visibilidade e já têm outras editoras. Mas isso são excepções. Há muito poucos escritores que estão na mesma situação em que estou. A maior parte tem problemas, tem muitas dificuldades, embora haja umas editoras que já começam a arriscar em escritores que ainda não são conhecidos. E essas edioras muitas vezes existem durante certo tempo e depois não aguentam.

(Leia o artigo integral na edição 712 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Fevereiro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)