Boas contas
Tem de haver uma vontade genuína para acabar com os mil milhões USD que gastamos todos os anos em coisas que não acrescentam nada e que podiam ser utilizados para resolver os problemas do povo, como dizia Agostinho Neto.
Objectivamente, um corte, ainda que muito ligeiro, nas despesas no OGE 2026 são sempre boas notícias, tendo em conta a dimensão do anterior, a situação do País e a necessidade de estas terem de ser garantidas em cerca de 45% por financiamentos, uma vez que as receitas do País ainda estão muito abaixo do que precisamos. Numa linguagem que todos entendem, é como gastar na gestão da minha casa um milhão Kz todos os meses quando eu e a minha mulher só temos salários de 550 mil kz e todos os meses temos de pedir emprestado aos vizinhos e aos amigos 450 mil Kz para que possamos manter o nosso nível de vida.
O caminho mais racional talvez fosse reduzir as despesas, diminuir as compras de equipamentos e produtos novos (investimento) e investir mais na manutenção do que já temos (despesas em bens e serviços), porque na verdade de que me vale ter 40 pares de sapatos se depois não tenho dinheiro para comprar graxa para os poder usar. E isto acontece um pouco na educação e saúde, onde os investimentos em infraestruturas se multiplicam, mas depois não estão orçamentadas verbas para manter os equipamentos a funcionar, ter profissionais condignos e evitar a degradação do que já está instalado. E são apenas infraestruturas que não servem para nada, sapatos que ficam no armário porque não podemos sair com eles para a rua.
Outra das medidas é reduzir os custos nas coisas que não são verdadeiramente importantes. Não vou beber vinho francês todos os dias com a minha mulher, vamos guardar o produto apenas para sexta-feira e escolher um néctar sul-africano, muito mais à dimensão da nossa carteira.
Ou seja, porque é que vou gastar quase 20 milhões USD para trazer a selecção da Argentina ao País, sem a garantia contratual que o Messi virá, mais 13 milhões USD de obras de requalificação do estádio, quando podia convidar a RDC ou a África do Sul por 2 milhões USD para a festa de aniversário, mantendo a dignidade da celebração. Também sei que não podemos ir os dois todos os dias de carro para o nosso emprego, devíamos ir juntos para a cidade e até falar com os nossos vizinhos para aproveitar as boleias.
Certamente que iríamos poupar algum dinheiro e ajudar a equilibrar as nossas vidas. Ou seja, não é possível garantir tantas viagens aos nossos governantes, com comitivas enormes e em aviões fretados.
Aliás, como se escreveu recentemente, Angola desloca-se a um País para pedir um financiamento com comitivas de mais 100 pessoas, e os financiadores vêm até cá com 10/15 pessoas, e muitas vezes utilizando voos comerciais.
Isto tudo para vos dizer que tem de haver uma vontade genuína para acabar com os mil milhões USD que gastamos todos os anos em coisas que não acrescentam nada e que podiam ser utilizados para resolver os problemas do povo, como dizia Agostinho Neto.
 
                











