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"Sinto-me confortável e feliz por aquilo que construí como artista"

DANIELA RIBEIRO

"Cubata Quântica" chega à Sky Gallery para contar histórias através do seu olhar numa combinação entre ancestralidade africana e tecnologia, sendo que as suas máscaras angolanas são feitas de resíduos electrónicos.

Tem em mãos uma nova exposição. Como se vai chamar a mostra?

A exposição tem como título "Cubata Quântica". Mas ainda não tem uma data definida, apenas posso dizer que será na Sky Gallery, no edifício da Escom, em Luanda.

Quanto tempo levou para preparar esta exposição?

Esta exposição levou um ano a ser preparada. Foi todo o tempo do Covid-19, o tempo do confinamento. Foi muito intenso porque foi um trabalho muito detalhado, que implicou muitas mother boards, corte, colagem, montagem. Foi um trabalho absolutamente incrível.

Como nasceu o interesse pela arte?

A arte era um hobby enquanto estava a tirar o curso de Relações Internacionais, e por uma questão do destino, um acontecimento, logo que fui para casa comecei a pintar e dura até hoje. São aquelas coisas que nos acontecem na vida e mudam o rumo, o destino. A mim, aconteceu-me.

Como é que surge esta paixão pelo digital e fragmentos multimédia?

Surge-me como elemento pictórico que decidi usar para retratar ou reflectir a inteligência artificial. Desde muito cedo interessei-me pelas mudanças que estão a ocorrer no mundo, a nível da tecnologia de informação, a electrónica transparente, a biónica, a nanotecnologia, a física quântica. Foram temas que me interessaram durante um período da minha vida, e as mother boards, os fragmentos de multimédia eram a melhor forma visual de eu deixar explícito esta ideia de tecnologia.

Uma ligação perfeita entre o ancestral e o futuro?

A minha obra é muito extensa e aborda sempre muitos temas sempre ligados à ancestralidade e a tecnologia. Estou no enquadramento de descolonização. A maior parte dos países colonizados e colonizadores estão neste enquadramento. Estamos a tentar viver com aquilo que é a nossa legislação. Este tema é um tema que me toca muito, porque eu cresci em Angola, sou angolana, mas também sou portuguesa, estou entre os dois continentes. Esta dualidade vem de muito pequenina, aprender a viver com pessoas diferentes, culturas diferentes, sítios diferentes e mesmo assim conseguir ser feliz. Sem perder a minha identidade cada vez que circulo entre elas. É uma mistura do tradicional com o tecnológico (máscaras e fragmentos digitais).

Que mensagem quer transmitir com as suas obras?

Quero transmitir a actualidade, quero falar sobre este paradigma novo sobre o humanismo, como é que vamos continuar ser humanos com a introdução da inteligência artificial? Esta é a questão de fundo: Qual é a tendência evolutiva do homem com a introdução da inteligência artificial? O que é que vai acontecer ao humanismo?

Como faz para ter o seu material de trabalho?

Tenho a sorte de poder recorrer às empresas de tecnologias de informação. O que me facilita a vida é o facto de fazer reciclagem, uso material tecnológico obsoleto e normalmente é um bom casamento entre as empresas de tecnologia de informação e a maneira como decidiram reciclar nas artes. Basicamente é esta a possibilidade que tenho tido, o apoio das telecomunicações.

As empresas aceitam facilmente ceder o lixo tecnológico?

Umas sim, mas outras não. Depende também do valor do lixo. Hoje em dia entramos numa outra guerra que é o valor do lixo, mas o valor do lixo é incalculável para a reciclagem. Para terem uma ideia, cada vez que deitamos fora um computador de 2000 euros, pelo menos tem 800 euros de materiais preciosos, desde o ouro à prata.

O processo continua o mesmo?

Já não é com a mesma facilidade que encontro, porque as empresas têm a tendência de vender esses resíduos. Mas continuo a poder contar com algumas empresas nacionais para este efeito.

(Leia o artigo integral na edição 691 do Expansão, de sexta-feira, dia 9 de Setembrode 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)