1,2 milhões de novas ligações domiciliares no meio de desafios na distribuição
Já foram investidos 20 mil milhões USD na produção de electricidade desde 2014. Se, por um lado, as linhas de crédito para financiar a produção continuam a existir com grande projectos em carteira, o mesmo não se pode dizer no transporte e na distribuição, área que tem muitas "obras" na gaveta.
Apesar dos enormes desafios no transporte e na distribuição de electricidade, o governo propõe- -se realizar, até ao final deste mandato (2027), 1,25 milhões de novas ligações domiciliares, o que implicará um incremento da taxa de electrificação superior a 6% para 50%. Desta forma, mais de 16 milhões de habitantes terão acesso a electricidade neste período, de acordo com estimativa do ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, apresentada durante o 13.º conselho consultivo do ministério que tutela.
A taxa de electrificação actual é de 43,7% numa base de 33 milhões de habitantes. As contas de João Baptista Borges também foram feitas nesta base, o que poderá estar longe da realidade actual, tendo em conta o ritmo acelerado do crescimento populacional, à volta de 3,1% ao ano.
O País tem uma produção de energia actual de 6,3 Gigawatt (GW) (capacidade suficiente para abastecer mais de 3 milhões de residências). Entretanto, a Empresa Nacional de Distribuição de Energia (ENDE) controla apenas 1,9 milhões de clientes, sendo mais de 99% clientes de baixa tensão, o que pressupõe ligações domiciliares. Isto significa que há excedente de energia e, por conseguinte, desafios no transporte e expansão da rede de distribuição de electricidade.
Angola tem estado a receber vários financiamentos ao nível da produção de energia para reforçar a sua matriz energética, resultado do seu potencial hidrográfico e outras fontes de energias renováveis. Estima-se que, desde 2014, o país já investiu cerca de 20 mil milhões USD, com mais de 12,5 mil milhões entre 2018- -2022. Todos estes investimentos foram feitos através de linhas de crédito externas. Contudo, o País continua a enfrentar desafios para arranjar financiamentos para a rede de transporte e expansão da rede de transporte, fruto da estruturação do quadro regulamentar do sector eléctrico e do ambiente de negócios do País.
O investimento na rede de transporte e expansão da distribuição não tem acompanhado de forma equilibrada a produção de energia, que tem crescido continuamente todos os anos desde 2015, tendo actualmente vários projectos em curso, como o aproveitamento hidroeléctrico de Caculo Cabaça ou a aposta em projectos fotovoltaicos (projectos com financiamento externo), que vão adicionar cerca de 2,5 GW, juntamente com o projecto binacional do Baynes (Angola Namíbia) com 860 MW e outros projectos de pequena envergadura. A capacidade instalada de produção de electricidade vai aumentar para mais de 9,6 GW até 2027, uma produção com uma residual participação dos privados, inferior a 1% dos actuais 6,3 GW.
O fraco desenvolvimento das zonas mais a leste do País em detrimento do litoral, que tem empurrado a população para as zonas litorais, além da extensão territorial também contribui para a fraca taxa de electrificação da zona leste, que tem uma taxa de acesso à electricidade abaixo dos 10%. Este paradigma torna oneroso interligar estas regiões ao Sistema Eléctrico Público, de acordo com especialistas do sector.
Os investimentos previstos para a rede de transporte e distribuição, que poderão inverter o cenário, ainda não têm horizonte temporal para arranque, estando apenas no papel, designadamente, os projectos de interligação Huambo-Lubango, Huambo- -Menongue, Malanje-Xa Muteba-Saurimo, Lubango-Moçamedes, Lubango-Ondjiva e Soyo- -Cabinda. Tal como na produção, o Estado tem assumido também o investimento no transporte e na distribuição, pelo facto de ser um sector que desperta pouco apetite dos empresários, já que a tarifa não consegue remunerar os custos operacionais, factor que tem contribuído para a fragilidade financeira das empresas públicas do sector.
Conforme a intervenção de João Baptista Borges, a revisão à Lei Geral de Electricidade, que foi aprovada recentemente em conselho de ministros, permitirá, tão logo seja sancionada pela Assembleia Nacional, abrir espaço para a intervenção do sector privado no domínio da transmissão de energia.
"Essa abertura será fundamental para que sejam materializados os projectos de interligação transfronteiriça com a Namíbia, RDC e Zâmbia, visando a exportação de energia a partir de Angola e para os quais existe um elevado apetite por parte do sector privado", referiu o governante.
Embora o Executivo tenha "a boa vontade de abrir o sector à participação dos privados em toda a cadeia de valor com alterações no quadro regulamentar, é fundamental que o País se torne mais atractivo ao capital privado". Para isso deve garantir, por exemplo, o asseguramento dos investidores, melhorar e aumentar os níveis de confiança no sistema de justiça, incentivar e subsidiar o sector privado, assim como garantir o repatriamento dos dividendos destes investimentos, defendem especialistas.
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