Cansados de crises, empresários estão pouco entusiasmados com integração no mercado único
Angola, República Democrática do Congo e São Tomé e Príncipe estão também entre os países de África Central e do Sul que "experimentariam os maiores aumentos no comércio no continente", juntamente com Marrocos, a norte, aponta estudo do Afreximbank. Empresários nacionais estão pouco animados.
Num de dois cenários avaliados pelo Afreximbank - Banco Africano de Exportações e Importações, em 2031, a Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) "levaria a um aumento de 0,91% no PIB do continente, um aumento de 33,0% no comércio intra-africano e um aumento geral de 1,19% na produção do continente", revela o Relatório de Comércio Africano de 2024, do Afreximbank, que aponta Angola entre o grupo restrito de países que terão os maiores crescimentos no comércio no continente. Apesar disso, os agentes económicos não se sentem entusiasmados, exaustos que estão com a sucessão de crises desde 2014, que retirou liquidez e energia para novos projectos e novos investimentos.
O relatório do Afreximbank, que tem como tema "Implicações Climáticas da Implementação da AfCFTA [na sigla em inglês]", mostra um "declínio marginal no comércio extra-africano", em 2031, altura em que o mercado único deverá estar em pleno funcionamento, com o desmantelamento de 97% das tarifas alfandegárias no comércio de bens e serviços entre os 55 países subscritores do acordo de criação da Zona de Livre Comércio Continental Africano. E antecipa que "todos os países africanos experimentariam um aumento no seu PIB", com a Costa do Marfim e África do Sul a terem os maiores crescimento no Produto Interno Bruto, de 7,01 mil milhões USD e 4,42 mil milhões USD, respectivamente.
Estes dois países, juntamente com Angola, República Democrática do Congo e São Tomé e Príncipe, estão também entre os países de África Central e do Sul que "experimentariam os maiores aumentos no comércio no continente", juntamente com Marrocos, a norte, de acordo com a avaliação do Banco Africano de Exportações e Importações, o parceiro da ZCLCA no sistema criado para facilitar e agilizar os pagamentos nas trocas comerciais entre os países africanos, o Sistema Pan-Africano de Pagamentos e Liquidações (PAPSS), que conta hoje com 15 bancos centrais, 51 bancos comerciais e 12 parceiros estratégicos.
Mas se o potencial do mercado único africano é tão grande, porque é que as reservas dos agentes económicos angolanos são tantas e estão a contribuir para travar o avanço do país na Zona de Comércio Livre Continental Africana, como avançou o Expansão na última edição.
"Para as exportações e na actual condição de uma indústria dependente das importações de matérias-primas as possibilidades são muito reduzidas e se olharmos os valores das exportações não é nada estimulador", responde José Severino, presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), quando lhe é colocada a questão se os industriais e as empresas angolanas vêem mais a ZCLCA como uma ameaça ou como uma oportunidade.
Pessimismo dos empresários
O pessimismo de Severino reflecte o sentimento de muitos empresários angolanos, que olham para a abertura do mercado africano mais como uma ameaça, após uma sucessão de crises que, desde 2014, afecta os negócios e a capacidade das empresas angolanas de gerar lucros, vendo esvair a liquidez com as sucessivas depreciações do kwanza, desde o arranque do processo de liberalização cambial em 2018, e que se confrontam com uma carga fiscal "asfixiante".
fase inicial, também tem levado o Governo a colocar freio na integração, conforme confirmou o Expansão junto de várias fontes, embora o Ministério da Indústria e Comércio garanta que Angola está a avançar (ver texto ao lado), com passos firmes e decisivos, apesar de as trocas comerciais com os países africanos representarem, em 2023, apenas 4% das suas trocas comerciais. Ainda assim, o comércio de Angola com África cresceu 1 ponto percentual, em comparação com as trocas comerciais em 2019, de acordo com contas do Expansão com base nos relatórios trimestrais das Estatísticas do Comércio Externa do INE (ver páginas 3 e 4).
Leia o artigo integral na edição 804 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Novembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)