Fraco número de negociações penaliza mercado de acções
O Expansão faz uma radiografia aos mercados BODIVA e verificou que o mercado de acções, que lá fora é normalmente o principal mercado das bolsas de valores, em Angola quase não tem expressão, uma vez que continua a registar poucas negociações e um baixo nível de liquidez.
Na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) apenas três empresas têm o capital disperso no mercado de bolsa de acções, nomeadamente, o Banco Angolano de Investimento (BAI), Banco Caixa Geral Angola (BCGA) e a segurada estatal ENSA, que, ainda assim, valem menos de 2% das negociações da bolsa que são dominadas pelos títulos de divida pública. A própria BODIVA está caminho de se tornar a quarta empresa cotada na bolsa angolana, depois do fracasso da petrolífera ACREP.
Passado pouco mais de dois anos, o Expansão fez uma radiografia aos mercados BODIVA e verificou que o mercado de acções, que lá fora é normalmente o principal mercado das bolsas de valores, em Angola quase não tem expressão, uma vez que continua a registar poucas negociações e é mercado por um baixo nível de liquidez, ou seja, caminha, mas a "passos de camaleão".
O mercado ainda é muito pequeno para se tirarem conclusões definitivas, mas parece claro que o sucesso em bolsa tem muita a ver com o capital de confiança que é atribuído às entidades cotadas. E a culpa é do baixíssimo volume de investidores nacionais na bolsa de valores, da ausência dos grandes investidores institucionais estrangeiros, mas também do baixo grau de educação e literacia financeira que não permitem ao mercado de bolsa de acções crescer de forma mais acelerada.
Ainda assim, as acções são consideradas dos instrumentos rentáveis do mercado de capitais. Um dos factos que confirma a qualidade do investimento em acções, tem a ver com a forma como o valor das cotações evoluiu (ver gráficos), tendo em conta também que as empresas cotadas têm estado a distribuir dividendos. Apesar de algumas descidas pontuais, existe um claro caminho para a sua valorização, sustentado pela análise dos preços das acções. O BAI, empresa que inaugurou o mercado de acções com a venda de 10% das acções detidas pelo Estado no banco, viu as suas acções serem admitidas em bolsa ao preço de 20.640 Kz, a 09 de Julho de 2022, e esta segunda-feira estavam a valer 54.000 Kz, o que representa uma valorização de 162%.
Já as acções do BCGA valorizaram 90% ao passar de 5.000 Kz, no momento da admissão em bolsa (a 29 de Setembro de 2022) para 9.500 Kz, nesta segunda- -feira, depois de em Abril deste ano terem atingido um pico de 23.500. Já a seguradora ENSA, que se tornou a terceira empresa cotada em bolsa com um free float de 30% (parcela das acções de uma empresa que está disponível para livre negociação no mercado), teve as acções admitidas ao preço de 12.500 Kz, a 30 de Setembro, e hoje valem 18.000 Kz, uma valorização de 44%. Vale recordar que após três dias após a admissão, as acções da maior seguradora do País valorizaram 124% para 28.000, registando a cotação mais alta da seguradora até ao momento.
Entretanto, é necessário salvaguardar que estamos ainda num momento especulativo, já que muito dificilmente se um investidor quisesse hoje transformar um lote significativo de acções em dinheiro, teria um comprador interessado em pagar. É importante também referir que um negócio de apenas 10 ou 15 acções pode fazer disparar os preços das acções na bolsa angolana, isto porque o mercado é ainda é muito pequeno e com um fraco nível de oferta. Tal como explica Mariano Ferreira, CEO da Kyros SDVM, distribuidora de valores mobiliários, "a valorização significativa do preço das acções após negociações de pequeno volume, como a venda de por exemplo de 10 acções, está geralmente relacionada a factores estruturais e técnicos do mercado angolano caracterizado por uma oferta significativamente inferior à procura".
Já Tiago Dionísio, economista chefe da Eaglestone, entende que esta forte valorização na transacção de um número reduzido de acções está relacionada com a falta de liquidez no mercado. "A frequência com que as acções são negociadas num determinado mercado bolsista reflecte a liquidez desse mercado. Um mercado é líquido se os investidores puderem comprar ou vender rapidamente um grande número de acções sem grandes efeitos de preço. A liquidez do mercado é uma característica desejável para qualquer mercado de acções porque reduz o risco de negociação dos investidores", explicou.
Leia o artigo integral na edição 804 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Novembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)