Especialistas defendem adopção das normas IFRS para melhorar transparência
Apesar de a prestação de contas estar a melhorar ano após ano, persistem ainda vários sinais de amadorismo e não só na prestação de contas do SEP. E se as contas apresentam ainda várias debilidades, o mesmo acontece com alguns auditores externos, alguns deles perfeitamente desconhecidos.
É urgente que as maiores empresas do Sector Empresarial Público (SEP) migrem a sua prestação de contas para as normas internacionais de contabilidade (IFRS, na sigla em inglês), já que estas garantem maior transparência das informações financeiras e permitem, depois, uma maior fiscalização ao trabalho feito pelos gestores públicos que lideram essas instituições, defendem vários especialistas consultados pelo Expansão.
De acordo com especialistas, mais do que uma simples mudança contabilística, migrar para as IFRS exigirá a avaliação dos impactos nos negócios, nos sistemas de informação e das necessidades de formação dos profissionais envolvidos nessa nova linguagem de divulgação, o que aumenta os riscos de destapar insuficiências graves em termos de qualidade e conhecimento de profissionais dos departamentos financeiros dessas empresas.
Actualmente, as empresas do SEP preparam as suas demonstrações financeiras de acordo com o Plano Geral de Contabilidade (PGC), à excepção das empresas do sector bancário cuja adopção plena das IFRS foi promovido pelo BNA. Uma migração que os especialistas consideram ter tido também o seu papel no processo de modernização e de adaptação do sistema bancário angolano às melhores práticas internacionais. "A adopção das IFRS pelas empresas do sector bancário a partir do exercício de 2016 engloba o cumprimento das recomendações de organismos internacionais, a comparabilidade e transparência do desempenho financeiro das instituições financeiras nacionais numa escala global e a melhoria contínua da informação prestada aos utilizadores das demonstrações financeiras" explica um consultor de uma das auditoras big four instaladas em Angola.
Já o PGC angolano usado pelas empresas do SEP prevê exclusões temporárias, que se mantém há longo tempo e que impedem que as contas destas empresas acabem por não ser tão detalhadas, como a contabilização de locações, impostos diferidos, planos de benefícios de reforma, concentração de actividades empresariais (incluindo consolidação) e efeitos de alterações de taxas de câmbio em demonstrações financeiras de operações estrangeiras.
Embora o PGC preveja que as normas internacionais que regulam estas matérias possam ser aplicadas pelas empresas, verifica-se na prática que o recurso às IFRS é muito diminuto por parte das empresas angolanas. Desta forma, a eliminação das exclusões temporárias melhoraria a qualidade do reporte financeiro das empresas que preparam as suas contas de acordo com o PGC angolano. "Tenho dúvidas que boa parte destas empresas do SEP consigam migrar para a prestação de contas em IFRS pois não têm profissionais qualificados a esse ponto. Para isso terão de contar com as auditoras big four para conseguirem espelhar a realidade das empresas, o que é caro para a realidade da maior parte dessas empresas públicas", admite um auditor ao Expansão.
Leia o artigo integral na edição 801 do Expansão, de sexta-feira, dia 08 de Novembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)