Inflação homóloga arrancou o ano de 2022 em máximos de 55 meses
No mês de Fevereiro destacámos os níveis mais altos da inflação dos últimos quatro anos e meio. 2022 arrancou mal, mas foi corrigindo ao longo do ano, graças à subida das importações que em ano de eleições contribuiu para o desaceleramento da subida dos preços, fechando o ano com um valor próximo dos 18%.
No início do ano de 2022, a inflação homóloga a nível nacional estava a subir há 11 meses consecutivos, num caminho iniciado em Março de 2021, durante a pandemia da Covid-19, e que atingiu os 27,7% em Janeiro, naquele que era o valor mais alto em 55 meses. No entanto, de Janeiro até Novembro (último dado disponível), a inflação foi desacelerando até se enquadrar na meta prevista pelo Governo inscrita no Orçamento Geral do Estado que é de 18,0%.
Contribuiu para o abrandamento da subida dos preços o facto de o kwanza ter apreciado ao longo do ano face ao dólar e euro, o que só aconteceu, segundo especialistas, devido à intervenção do Governo em ano de eleições. A apreciação do kwanza permitiu importações mais "baratas", o que influenciou a redução dos preços e aumentou a oferta aos consumidores, já que quanto mais disponibilidade de bens mais baixos ficam os preços.
O Governo tem afirmado que a Reserva Estratégica Alimentar (REA), operada pelo grupo Carrinho, também tem contribuído para a queda dos preços - até porque funciona quase como um entreposto comercial de importação de produtos - mas vários especialistas desvalorizam o papel da REA e também da produção nacional nesta desaceleração da subida dos preços. Trataram-se, portanto, dos efeitos da subida das importações e do aumento da oferta.
No início do ano, especialistas diziam que a previsão do Governo era demasiado optimista. Primeiro porque havia e há uma alta de preços em todo o mundo devido, sobretudo, ao aumento dos preços dos combustíveis e às dificuldades nas cadeias de distribuição. Só para se ter uma ideia, nos EUA a inflação anual em 2021 foi de 7,0%, o valor mais alto em 39 anos. Já na Europa o índice de preços chegou aos 7,1%, o mais alto desde 1997.
Como Angola é um país importador, sobretudo de alimentos, era expectável que "importasse" essa inflação, contando apenas com os preços em alta do petróleo e uma continuidade na apreciação do kwanza face ao dólar para esbater esse cenário. Segundo porque tem sido habitual ao longo dos anos o Governo e o banco central falharem as suas previsões. "Não tem sido fácil ao BNA acertar na inflação", admite um economista solicitando anonimato.
Ao longo do ano, o desaceleramento da inflação em Angola permitiu até ao BNA reduzir a taxa básica de juro de 20,0% para 19,5% em Agosto, antevendo-se que iria baixar novamente em reuniões posteriores do seu Comité de Política Monetária (CPM), mas que acabou por não se verificar devido à desvalorização do Kwanza no período pós-eleitoral. No entanto, esse desaperto à política monetária - um dos poucos países do mundo a cortar taxas - rompeu com os sucessivos apertos verificados ao longo do mandato de José Massano enquanto governador, precisamente para contrariar a alta dos preços.
Isto depois de o ano passado, a 2 de Julho, o banco central ter decidido aumentar a Taxa Básica de juro de 15,50% para 20,00%, operando ao décimo primeiro "aperto" da política monetária desde o início da crise, em 2014, naquilo que vários especialistas entenderam ser uma decisão que, no fundo, dava a entender que Angola abdicou do crescimento económico para 2022 em troca pela descida da inflação.
Isto porque a taxa do BNA influencia todas as outras taxas do mercado, e à medida que esta subiu as outras também dispararam, retirando kwanzas dos bolsos das famílias e das empresas. Ainda assim, esta medida não teve impacto na desaceleração da inflação já que - conforme até tinha assumido o governador do BNA semanas antes da subida da taxa básica - o problema da inflação em Angola deve-se a falhas do lado da oferta, sobretudo de alimentos, já que a produção nacional não consegue suprir a procura.
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