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Angola

Preços na saúde e alimentação mais do que duplicaram desde 2020

ÍNDICE DE PREÇOS NO CONSUMIDOR NACIONAL

Um país onde um terço da população está em pobreza extrema e não consegue fazer uma alimentação digna acaba por ter o sector público de saúde altamente pressionado, já que as pessoas ficam mais vulneráveis a doenças. Em Angola, é precisamente nestes dois sectores que os preços mais têm subido.

A alta de inflação continua a dar cartas em Angola já que desde o início de 2020 os preços na saúde, alimentação, vestuário e bens e serviços mais do que duplicaram, segundo cálculos do Expansão com base nos relatórios sobre o Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

O sector da saúde é o campeão da subida dos preços, já que desde Janeiro de 2020 até Novembro deste ano, estes já subiram 120,9% (ver gráfico). No caso específico da saúde, especialistas defendem que o aumento dos preços se deve essencialmente aos custos com os medicamentos importados, já que o País não tem uma indústria farmacêutica que responda às necessidades do mercado. Por outro lado, os preços das consultas nas clínicas privadas também têm estado constantemente a aumentar. Isto num sector que depende das importações de materiais gastáveis e de medicamentos numa altura em que o kwanza depreciou 48% face ao dólar neste período (passando de 477,4 Kz em 2020 para os 911,0 Kz em Novembro de 2024).

Nos últimos cinco anos consultar um médico, comprar medicamentos, comer e vestir, coisas básicas para um ser humano, ficou mais caro tudo porque o mercado interno apresenta limitações e não consegue dar resposta às necessidades dos angolanos. Só para se ter uma ideia, para além da saúde, os preços da alimentação subiram 112,0%, enquanto os do vestuário aumentaram 110,1%. A justificação da alta dos preços prende-se com a pouca oferta e pela constante procura por bens e serviços diversos.

É o que explica o médico especialista em saúde pública, Jeremias Agostinho, no caso do sector da saúde. Para já, reconhece ganhos nas unidades da rede pública, mas aponta o sector privado como a alternativa certa, em muitos casos, para resolver as dificuldades que as famílias encontram em termos de prestação de cuidados de saúde no público. O médico entende que os aumentos dos preços registados nos últimos anos, neste sector, têm a ver com a marcha da economia e com as limitações que ainda se registam na oferta dos serviços de saúde. "Já estivemos pior quanto à oferta de serviços públicos e isto fez emergir a assistência médica privada, que se tornou numa alternativa para muitos angolanos que pretendem um serviço personalizado", disse, acrescentando que é preciso atrair investimentos para dinamizar a indústria farmacêutica.

É opinião comum de que o regulador, o Ministério da Saúde, deveria intensificar as acções de fiscalização e acompanhar a dinâmica do mercado, criando uma rede de saúde pública capaz de satisfazer as necessidades da população com serviços especializados, para equilibrar os preços no privado.

Para o investigador da Universidade Agostinho Neto (UAN), Fernandes Wanda, esta questão dos preços da saúde é preocupante num país onde a "fraca alimentação torna as pessoas mais vulneráveis às doenças", o que as obriga a estar recorrentemente a procurar serviços de saúde. O também coordenador do Centro Investigação Social e Económica da Faculdade de Economia da UAN acrescenta que à medida que os países se vão tornando mais ricos e as famílias vão melhorando o seu nível de vida, menor é a proporção do que gastam em alimentos e saúde.

Leia o artigo integral na edição 807 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Dezembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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