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Empresas & Mercados

Crise e pandemia afastam empresários angolanos do PROPRIV

Alguns já falham pagamentos

A falta de capital próprio obriga a recorrer à banca para entrar no processo de compra de activos ao Estado. Mas a banca tem fechado a torneira

A situação económico-financeira do país, que atravessa por cinco recessões consecutivas, e os efeitos da pandemia da Covid-19 dificultam a entrada de empresários nacionais no Programa de Privatizações, pois estão descapitalizados e muitos continuam sem acesso a crédito bancário, admitem especialistas consultados pelo Expansão.

As dificuldades financeiras do empresariado angolano já se fizeram sentir, pois algumas das empresas que compraram activos no âmbito do PROPRIV não estão a cumprir com os contratos assinados com o IGAPE, como admitiu em Agosto a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, deixando no ar a hipótese de recorrer à justiça para reposição da legalidade.

Situações que, segundo o consultor Sebastião Pedro, acontecem porque muitas das empresas não têm liquidez suficiente para suportar os encargos das compras. "Muitos compraram e apesar de mostrarem idoneidade estão sem capacidade para honrar o compromisso assumido com o IGAPE. Não podemos esquecer que o maior número de vendas foram fábricas na ZEE. Os compradores avançaram, em parcerias com algumas empresas angolanas que estão a atravessar enormes dificuldades", disse.

O consultor admite que o incumprimento nos prazos é um cenário que se deverá continuar a registar cada vez mais nas empresas compradas por investidores angolanos e não descarta a hipótese de alguns negócios serem revertidos. "Devido às dificuldades dos investidores nacionais, que quase não têm apoios da banca, acredito que algumas vendas vão ser revertidas ou renegociadas, porque muitos compradores se não estão falidos estão no processo. Salvo aqueles que têm excelentes relações com a banca ou são banqueiros", concluiu.

Já o economista Carlos Padre acredita que existem empresas angolanas que querem participar deste processo de privatização, mas a falta de um suporte financeiro condiciona a participação. "O suporte financeiro para participar num processo de privatização precisa de uma folga financeira e esta folga financeira normalmente é dada pela banca. E tem que ser de uma forma aberta", admite.

Carlos Padre defende um maior envolvimento do Banco de Desenvolvimento de Angola para melhorar os resultados do PROPRIV. Visão diferente tem o gestor Ângelo Alberto, por entender que o sucesso do PROPRIV vai depender da participação do investidor estrangeiro, sobretudo nas empresas estratégicas, o que parece difícil dada o ambiente de negócios do país.