Trafigura pagou 390 milhões de dólares pelas acções do general 'Dino'
A venda fez com que o antigo chefe da Casa de Segurança na presidência de José Eduardo dos Santos passasse de 15% para "accionista pouco significativo' da Puma Energy, em troca, recebeu 390 milhões de dólares em 2020
Em Abril deste ano, num negócio que não foi completamente explicado, soube-se que a Sonangol vendeu à Trafigura a participação de 31,78% que detinha na Puma Energy, por 600 milhões de dólares. Em troca da sua participação, a petrolífera estatal ficou com os principais activos da Puma Energy em Angola, entre as quais as redes do retalho da Pumangol, de 70 postos de abastastecimento de combustível, terminais aeroportuários em em várias províncias, o terminal de armazenagem do Porto Pesqueira, na Baía de Luanda, e a empresa Angobetumes "pelo mesmo montante que o da alienação"
Em Julho, confirma agora o Financial Times e após intensos rumores, a Trafigura pagou ao general Leopoldino Fragoso do Nascimento 'Dino' 390 milhões pelas suas acções, numa tentativa, escreve o jornal, de atrair "para a endividada Puma Energy" novos investidores, libertando-a da presença tóxica do ex-chefe da Casa de Segurança do Presidente José Eduardo dos Santos.
A parceria com a Cochan Holdings LLC permitiu à Trafigura o domínio do fornecimento dos produtos petrolíferos a Angola e confirmou o general "Dino" como uma das figuras mais influentes e tentaculares do regime de Dos Santos.
O jornal financeiro recorda que 'Dino' foi indiciado pelos procuradores angolanos "como suspeito de um alegado histórico suborno, que envolve empresas chinesas ao mais alto nível".
A Trafigura, logo em Março de 2020, evidenciou a intenção de diminuir a participação accionista do general 'Dino', mas não deu detalhes do negócio.
Agora, e através de uma relatório da Puma Energy, ficou a saber-se que a Trafigura PE Holding Limited, registada em Malta, pagou 390 milhões de dólares à Cochan, em Junho de 2020, o valor de 12 milhões de acções, ao preço unitário de 33 dólares.
Com esta compra, a Cochan "deixou de ser um accionista significativo" na Puma Energy.
Durante cerca de uma década, o general 'Dino' deu cobertura a um quase monopólio de produtos pretrolíferos em Angola através da DT Group, uma joint venture formada em 2019 pela Trafigura e Cochan.
Depois, em Angola, cabia à Puma distribuir os diversos produtos refinados através das suas redes de estações de serviço, terminais aeroportuários e martítimos.
A Trafigura começou a investir na Puma - que conta com sete mil funcionários em 45 países - em 1997, a Cochan surge mais tarde, começa a investir nas várias operações da Puma em África entre 2008 e 2010. Em 2010, detinha 18,75% da Puma, passando mais tarde para 15%, e depois, ainda, para cerca de 5%.
Em 2011 é a vez da Sonangol entrar na Puma. Em 2013, o general 'Dino' passa a fazer parte do conselho global da Puma, posição que ocupa até 2020.
"Dino não era apenas um intermediário local. Ele, ou os interesses angolanos que representava, tornaram-se extremamente importantes", afirmou ao Financial Times o académico Ricardo Soares de Oliveira.
Aquando da chegada de João Lourenço ao poder, a Sonangol reformulou os contratos de fornecimento de produtos refinados, eliminando a Trafigura e celebrando acordos com Total e com a Glencore.
Pouco tempo depois, a Trafigura anuncia que se retira do negócio dos produtos petrolíferos refinados em Angola. Segue-se o negócio entre a Sonangol e a Trafigura. Sobre este negócio a Trafigura remeteu para a Puma que se considera "confortável", uma vez que "pagou o valor certo" pela participação da Cochan.