Sou simpática, mas não estou interessada!
Porque é que os homens tendem a considerar que uma mulher simpática poderá estar romanticamente interessada neles, em vez de pensarem, por exemplo, que ela está a ser educada e profissional? Uma das razões prende-se com a associação da simpatia feminina à disponibilidade e interesse da mulher.
A Marília é extremamente simpática, sorri com facilidade, distrai-se a olhar para os colegas (mas distrai-se de verdade, está mesmo a pensar noutra coisa), e sempre se surpreende quando os colegas - ou, por vezes, clientes e até pessoas com quem se encontrou apenas uma vez - interpretam a sua simpatia como um sinal verde para avançarem com investidas românticas. A Marília pergunta-se: "Mas o que se passa? Tenho de parar de sorrir?".
As suas colegas são rápidas a aliar-se a ela: "Acontece-me o mesmo! Uma vez, só porque aceitei uma boleia... bem, ia tendo problemas sérios!"; "Olha, eu aceitei tomar café com um cliente por ele insistir imenso. O indivíduo começou a mandar mensagens super explícitas e a ligar! Foi só um café! Dez minutos, no máximo, eu arranjei logo desculpa para ir embora!".
Já os colegas masculinos têm um ponto de vista distinto: "Desculpem lá, há sinais. E nós fazemos a leitura dos sinais. Não se esqueçam, nós, os homens, somos apex predators! Se calhar já sabemos o que vocês querem quando vocês ainda nem sabem!" - o Alfredo bate ruidosamente com a palma da mão direita na palma da mão direita do Marco: "Bate aqui!". Os homens riem. Porque é que os homens tendem a considerar que uma mulher simpática poderá estar romanticamente interessada neles, em vez de pensarem, por exemplo, que ela está a ser educada e profissional? Uma das razões prende-se com a associação da simpatia feminina à disponibilidade e interesse da mulher.
A associação de uma série de características (disponível, interessada, mente aberta, solteira ou em vias de separação, por exemplo) a uma única característica que se distingue (a simpa tia, neste caso) tem um nome: efeito halo. O psicólogo americano Edward Thorndike (1874- -1949) cunhou o termo "efeito halo" para "descrever o potencial que o cérebro humano tem de analisar, julgar, concluir e definir uma pessoa a partir de uma única característica" (cf. Efeito Halo: o que é e como evitar na avaliação de desempenho, https://rockcontent.com). Edward Thorndike investigou o efeito halo em 1920, e concluiu que "depois de criada uma primeira impressão global sobre uma pessoa, temos a tendência para captar as características que vão confirmar essa mesma impressão" (cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_halo).
O efeito halo corresponde, explica Alexandra Reinwarth no seu livro "Não acredite em tudo o que pensa - como escapar às armadilhas mentais e tomar decisões melhores e mais livres" (Lisboa, Pergaminho, 2023), "à nossa tendência de olharmos para uma pessoa de quem gostamos e transportarmos automaticamente o que sobressai de uma das suas características para as outras" (2023: 97). A autora explica que esta nossa tendência é absolutamente normal. Perante toda a informação que nós, seres humanos, recebemos a todo o momento, os vieses ou atalhos cognitivos ajudam a processar rapidamente - ainda que não da forma mais exacta - os dados.
Leia o artigo integral na edição 790 do Expansão, de sexta-feira, dia 23 de Agosto de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)