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Turpilóquio: insultar melhor?

EM ANÁLISE

Tenho a certeza de que dizermos algumas verdades a um chefe comprovadamente tóxico e apresentarmos, em seguida, a carta de demissão daria um enorme prazer - pelo menos até percebermos que não temos mais emprego, e que a conjuntura económica mundial actual não é propriamente favorável a esse tipo de atitude...

Turpilóquio refere-se ao uso de linguagem torpe ou obscena. E, claro, o turpilóquio pode ser um insulto. O insulto, por sua vez, é uma ofensa dirigida a uma pessoa, ou a um grupo. É uma forma de violência verbal que pretende diminuir, humilhar, ofender, atingir a pessoa insultada. Há situações em que parece ser mais frequente insultarmos os outros, como no trânsito. Enfim, se ninguém nos ouvir: estamos seguros. Insultar alguém na cara é que é muito mais complicado e, para além disso, é uma actividade que exige o estabelecimento de regras. Sim, há regras até para insultar. E isso desde crianças. Lembram-se quando, na estiga, alguém avisava, logo no início: "Se estigar de mãe não! Não vale de mãe! De mãe não!". Pois é, tem de haver algumas regras, para melhorarmos a nossa forma de insultar e nos tornarmos um pouco mais justos e actualizados. Vejamos:

01. Nunca, jamais, nem sequer a brincar devemos insultar crianças! Os insultos podem magoar enormemente e arruinar qualquer possibilidade de essa criança vir a ser feliz. Destroem a auto-estima, a confiança em si mesmo, criam complexos de inferioridade, podem conduzir à depressão e à ansiedade, ou a algo ainda mais grave. Quando os insultos vêm de quem devia acolher, amar e proteger, é ainda pior: a criança percebe-se sozinha, indigna de amor. Para além de destruir a auto-imagem da criança, os insultos na infância destroem o adulto em que essa criança se vai tornar, uma vez que aquilo que é dito na infância torna-se a voz interior do adulto, ainda que recalcada no inconsciente, determinando as suas escolhas e o seu comportamento, em geral.

02. Não devemos insultar pessoas mais frágeis ou mais vulneráveis do que nós. É como no caso da agressão física: jamais devemos bater a alguém que não se pode defender. É uma covardia e é desonroso. Se queremos bater: vamos para um ringue ou um tatami. O mesmo com os insultos: não insultamos quem não se pode defender, quem está de alguma forma numa posição de subordinação em relação a nós: filhos, sobrinhos, crianças em geral, adolescentes, trabalhadores domésticos, funcionários ou colaboradores sob nossa direcção, alunos, pacientes, outros.

03. Não devemos usar a expressão "Pareces uma mulher!" como um insulto. Não há nada de errado em parecer uma mulher, mesmo que se seja um homem. Não há nada de inferior em ser mulher, apesar de tudo o que a cultura e as sociedades mundialmente patriarcais e machistas nos têm imposto há séculos. Como nos explica Abel Paulo Gamba "Khoisan", em "O machismo como meio de opressão de direitos fundamentais" (Luanda, 2024), o sistema patriarcal sustenta-se nas relações de dominação por parte do homem, que se acredita que "sabe o que é melhor para a mulher, a família e a sociedade", e da submissão por parte da mulher, vista como "sexo frágil, dominado, domesticável, emotivo e dócil" (pp. 118-119), conceitos que devem ser urgentemente questionados e revistos.

Leia o artigo integral na edição 801 do Expansão, de sexta-feira, dia 08 de Novembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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