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Grande Entrevista

"Precisamos de um Simplifica para exportação"

HUGO LEÃO, DIRECTOR COMERCIAL DA MEDVIDA

Melhorar o sistema de exportação e aumentar a possibilidade de venda da produção interna ao Estado está entre as preocupações da Medvida, que reclama de importações sem qualidade e da falta de apoio ao empresariado nacional.

A questão cambial tem condicionado o sector industrial. A vossa empresa produz, com base em duas matérias-primas importadas. Como é o vosso acesso a divisas, que é um dos actuais problemas do mercado nacional?

Não são só as divisas no mercado, mas também ter kwanzas para comprar as divisas, porque grande parte do nosso consumidor final acaba por ser o Estado e, como sabemos, o prazo de pagamentos do Estado nem sempre é tão curto como nós gostávamos. E isso cria entraves, incluindo no acesso às divisas. Temos um apoio exclusivo da estrutura accionista e é o que nos vai dando algum suporte. Ou seja, o accionista compra, envia para cá, produzimos, vamos vendendo...

Como é constituída a estrutura accionista da Medvida?

É um investimento estrangeiro, por via da extinta Agência Nacional de Investimento Privado, hoje Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPEX).

Quem são os vossos principais clientes?

O Grupo Medvida tem duas empresas: a Medvida Fábrica e, por questões legais de venda, temos uma empresa distribuidora, que é a Codimet. Inicialmente, só a Codimet fazia venda para fora e, neste momento, abrimos um bocadinho o leque a nível institucional, o que faz com que um dos nossos principais compradores acabem por ser os hospitais. Vendemos directamente aos hospitais. Temos tentado chegar aos grandes compradores do Estado, nomeadamente, a Central de Compras e Aprovisionamento de Medicamentos e Meios Médicos de Angola, o Instituto Nacional de Emergências Médicas de Angola, Forças de Segurança Nacional, Bombeiros... Só que isto tem sido um trabalho muito difícil. É daqueles trabalhos que se vai fazendo. Os trabalhos estão a correr, as reuniões existem, agora é uma questão de acreditarem que em Angola se consegue fazer bem, bom e garantidamente barato.

Quando diz que vendem directamente aos hospitais, de que forma o fazem?

A relação é directa entre nós e o hospital comprador, por via de concursos públicos. Faz-se a venda, o hospital recebe supostamente a cabimentação e o Ministério das Finanças paga, se houver disponibilidade. Se não, ficamos nós numa situação de quase asfixia.

Recentemente, a Medvida exportou material para Moçambique. Como foi este processo?

Temos 6.500 metros quadrados de fábrica e temos uma capacidade instalada que permite atender todas as necessidades do mercado angolano. O País consome apenas 20% da produção de um turno da nossa fábrica, o resto é excedente que dá para a exportação. Neste momento, estamos a trabalhar apenas com um turno e perspectivamos aumentar com base na afluência e nos mercados externos que estamos a tentar conseguir. Só sai para o mercado externo, depois de estar garantido que internamente nada faltará.

Como foi a exportação?

Participámos num concurso internacional devidamente certificado e foi-nos adjudicado. Depois seguiram os trâmites normais para a exportação, como é lógico, dentro das burocracias. Diria, um bocadinho da inexperiência do País em exportar neste tipo de sector e mercado.

Porquê?

O sector agrícola funciona, diamantes funciona... O sector da saúde, como existem muito poucas indústrias nesta área a exportar, fica um bocado difícil. Foi preciso passar etapas devagarinho e, graças a Deus, o barco que leva o material deve estar já próximo de Maputo.

A burocracia para exportar é grande?

Há burocracia a todos os níveis. A nível dos institutos internos, das autorizações, desbloqueios das autorizações de exportação... É um processo muito cansativo. Podia ser mais facilitado. Mas, enfim, andamos nisto já há alguns anos e sempre a batalhar. Mas conseguimos exportar e foi um alívio. Agora é esperar. Nesta questão da exportação, devia haver mais formação sobre o seu impacto, as pessoas deviam estar mais formatadas para este tipo de situações. Precisamos de um Simplifica para a exportação.

O discurso oficial é promover a produção nacional e dinamizar as exportações. Pelo que diz, tiverem dificuldades para concretizar esta intenção...

Existe um Decreto Presidencial n.º 213 /23, que diz que toda e qualquer importação requer a avaliação interna. Se se produz ou não internamente, e só depois disso consegue-se autorização para importar. E vemos no mercado produtos totalmente importados, similares aos nossos, sem qualidade, sem certificação e com produção de 2024. Quer dizer, o decreto existe, a lei existe, mas a aplicabilidade da lei não funciona para este sector. Sei que noutros sectores pode funcionar. Mas, a nível da saúde, não funciona. Ou, pelo menos podia funcionar melhor. Podia haver uma fiscalização mais rigorosa. Temos insistido muito junto de quem tem a tutela destas situações, alertando que as coisas estão a acontecer, não da forma devida ou como devia acontecer. Isto não apoia a indústria.

Em que sentido?

No sentido interno. Ou seja, estamos a concorrer com o mercado externo e em muitos casos sem certificação, com uma matéria- -prima mais baixa. E nós aqui mantemos a estrutura, geramos empregos, pagamos impostos e temos de concorrer com a importação desmedida. A outra questão são os novos hospitais. Andamos há muito tempo a tentar criar parcerias correctas, tudo direitinho, mas não nos procuram. Os hospitais são inaugurados com material importado. Temos um forte interesse de fazer uma parceria profícua que beneficie as partes com os grandes compradores do Estado, como a Central de Compras de Medicamentos e meios Médicos de Angola. Assim devia ser. A exportação para Moçambique não foi para um hospital, foi para a central de compras moçambicana.

Leia o artigo integral na edição 805 do Expansão, de sexta-feira, dia 06 de Dezembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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