"A excessiva burocracia atrapalha a vida das empresas holandesas em Angola"
A Holanda tem vários interesses em Angola, que vão da agricultura à indústria, passando pela energia renovável e logística, mas a grande dificuldade na implantação das empresas daquele país europeu em Angola prende-se com a excessiva burocracia, afirma o embaixador Tsjeard Hoekstra ao Expansão.
O grande desafio de Angola é a diversificação económica. Qual tem sido a contribuição da Holanda neste tema, na medida em que o seu país é um grande exportador de produtos alimentares e que a agroindústria é o pilar da estratégia de diversificação do País?
Primeiro é importante dizer que a Holanda é um pequeno país, mas é uma grande nação com uma economia muito forte, ou seja uma economia que tem muito a oferecer a Angola. Sabemos naturalmente o potencial de Angola, também conhecemos os seus pontos fortes e, neste sentido, é muito importante lembrar-se que a Holanda é um "campeão" na agricultura, por exemplo. Também é um país muito forte na logística e nas energias renováveis e Angola oferece grandes oportunidades na agricultura, energia e logística e aí, sim, podemos encontrar-nos e fazer negócio. Aliás, nós, como embaixada, focamo-nos nestes temas.
A nível da agricultura, quais são os maiores investimentos da Holanda em Angola?
Primeiramente, gostaria de dizer que a Holanda é um país de 17 milhões de habitantes e com um tamanho modesto. É simplesmente o segundo maior exportador de produtos agrícolas do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos da América, um país que é 250 vezes maior do que o nosso. Isso mostra que temos conhecimentos profundos em termos de inovação agrícola e estamos prontos para partilhar com Angola. A Holanda é uma plataforma logística na Europa, encabeçada pelo porto de Roterdão, que é o maior da Europa. A zona toda de Roterdão afigura-se como o maior distribuidor de produtos agrícolas para toda a Europa e não só. Portanto, este conhecimento sobre a logística podemos também partilhar com Angola.
No que toca ao sector da logística, sabemos que a Holanda tem estado a investir ao longo do Corredor do Lobito, principalmente na Caála, província do Huambo. Já há resultados palpáveis desse investimento?
Junto com o nosso parceiro, o Ministério dos Transportes, temos a ideia de desenvolver o potencial económico ao longo do Corredor do Lobito, que de repente despertou o interesse de muitas partes, nomeadamente a União Europeia, os Estados Unidos da América, a China, etc. Mas nós já estamos neste corredor há muito tempo, há pelo menos cinco anos, com a criação de opções económicas para Angola e também para os Países Baixos. O que é importante é ter em mente que a discussão sobre o Corredor do Lobito concentra-se muito na possibilidade de se ter acesso aos recursos minerais cruciais do interior de África, designadamente da RDC e da Zâmbia, por exemplo. E, naturalmente, isso é importante porque são minerais fundamentais para a transformação energética que vivemos nos dias de hoje. Mas, para nós, é importante igualmente não esquecer que ao longo do Caminho-de-Ferro de Benguela temos muitos interesses em áreas como a agricultura, a indústria e também os recursos minerais. E a nossa ambição é tornar este corredor de transporte num corredor económico com vantagens mútuas.
Em quantas plataformas logísticas é que a Holanda pretende investir ao longo desse eixo?
É importante saber que, neste momento, estamos a trabalhar sobre a Plataforma Logística da Caála, na província do Huambo, e há cinco anos temos estado a trabalhar estreitamente com o Ministério dos Transportes na materialização deste projecto. Outro parceiro muito importante no projecto é a ARCLA e o terceiro é o consórcio Flying Swans, financiado pelo governo holandês com o foco em desenvolver infraestruturas para que o sector privado possa ser envolvido no desenvolvimento do Corredor do Lobito. São esses os parceiros que estão a trabalhar sobre a Plataforma Logística da Caála, cujo lançamento da primeira pedra teve lugar em Dezembro do ano passado e esperamos que em breve, daqui a um ano ou um pouco mais, possamos ter a primeira fase concluída. Uma plataforma que vai servir como um pólo de atração para muitas empresas, uma infra-estrutura que vai estimular o desenvolvimento da agricultura, da indústria e do comércio em toda região.
Qual é o contributo financeiro da Holanda neste projecto?
Trata-se de um investimento de 55 milhões de euros provenientes do Invest International, um banco de cooperação da Holanda e de 10 milhões de investimentos públicos, através de um empréstimo do Banco Mundial. É um primeiro passo para permitir o desenvolvimento da província do Huambo.
Leia o artigo integral na edição 779 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Junho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)