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Grande Entrevista

"As empresas angolanas de consultoria têm de se capacitar para sermos nós a fazermos os projectos"

EDULA BATALHA, DIRECTOR TÉCNICO DA ENGCONSULT

O papel das consultoras no desenvolvimento de projectos sustentáveis que contribuam para o desenvolvimento do país foi mote para a conversa com o responsável da Eng Consul, Edula Batalha, que tem sob sua responsabilidade diferentes projectos espalhados pelo País financiados por instituições bilaterais.

Durante anos algumas empresas angolanas de consultoria queixavam-se de trabalhos vindos de fora, mas que eram assinados por nacionais, que apenas davam a cara por esses projectos. Ainda existem casos desses?

Acredito que sim, mas existem várias formas de participar nos projectos. Por exemplo, temos um projecto com uma empresa espanhola e demos o nosso contributo para a sua melhoria, isso resulta numa participação conjunta. Precisamos acelerar, precisamos ter cada vez mais investimentos com qualidade nas infraestruturas, seja com entidades multilaterais ou com o programa de investimento público. Mas não fazendo coisas que fazíamos no passado. E temos de olhar o que está a acontecer no mundo e qual o caminho a seguir.

Como é que se resolve a questão da importação de projectos que não têm a ver com a nossa realidade?

Penso que é uma prática do mercado da qual nos temos de afastar. As empresas angolanas de consultoria têm de se capacitar para sermos nós a fazer os projectos. Isso já acontece com muitas empresas, como a nossa, apesar de termos um gap em algumas áreas, no geral. Para mim, isso não é um problema. Apenas o que acontece quando contratamos fora é que contribuímos para o normal de outros, sem esquecer a questão financeira.

Esta contratação não deve ter em conta os aspectos específicos do país?

Existem empresas que já trabalham para Angola há muitos anos, já têm essa experiência. Agora, foram casos de sucesso ou não por aquilo que eles projectaram? Por isso, a avaliação é importante e define quem é que deve trabalhar no mercado. Obviamente que as ordens profissionais também têm um papel muito importante nisto e têm feito um bom trabalho. As empresas que vêm de fora deveriam estar todas registadas nas Ordens e com técnicos angolanos. Técnicos não apenas para assinar projectos, mas sim para fazer e participar nos projetos. Às vezes, os processos desenvolvem-se muito rápido e isso acaba por não acontecer. Temos de capacitar os nossos quadros para que possam fazer um excelente trabalho, não só em Angola, mas também para competir fora. Isto é uma questão muito importante porque, às vezes, só queremos olhar para o mercado angolano.

Esta questão da falta de qualidade, muitas das vezes, é apontada a obras do Estado. Justifica-se?

A questão da qualidade, muitas vezes, não pode ser vista apenas a nível da execução de determinada infraestrutura ou como Estado controlou. A grande questão é que qualquer infraestrutura, para ser mantida, precisa de um orçamento. É um bocado estranho termos uma infraestrutura de milhões de dólares e depois não haver um orçamento para fazer a manutenção dessa infraestrutura. Para evitar isso, podemos prever na fase da contratação para determinada infraestrutura um período mínimo de manutenção de cinco anos. Ou seja, a empresa que construir fica com a obrigatoriedade de garantir a manutenção. Isso já acontece em Moçambique. Temos de pensar no ciclo todo do projecto, não apenas na qualidade de execução.

A manutenção é fundamental?

É preciso fazer vários investimentos em infraestruturas É preciso reduzir o gap e, para isso, é preciso investimento. Por exemplo, o Banco Mundial tem um portfólio em Angola de 3 mil milhões USD, o banco Africano de Desenvolvimento tem de 1,2 milhões USD. Isto significa que estes investidores acreditam que nós temos de melhorar as nossas condições socioeconómicas para termos um País que gera mais ...

Mas não é apenas questionada a qualidade dos projectos desenvolvidos pelo Estado...

Nos últimos anos, os projectos têm melhorado bastante, no que à qualidade diz respeito. Parece que existe mais maturidade por parte dos clientes, principalmente o Estado. E também muito mais maturidade das empresas consultoras. Nós, por exemplo, temos feito os nossos projectos com muitos quadros nossos, angolanos. Apostamos muito no novo capital humano.

Esta aposta no novo capital humano define a melhoria de que fala?

Ainda temos limitações em termos de recursos humanos, não só em número, mas também em experiência. Esta questão não se consegue resolver imediatamente. Mas acho que cada uma das empresas tem a sua responsabilidade nisso. Se não investirmos e os nossos engenheiros, quer sejam muito ou poucos, não tiverem responsabilidades nestes projectos nunca teremos engenheiros para fazer as coisas. Existem fórmulas para tolerar isso e uma das coisas que nós fizemos para acelerar, foi criar parcerias internacionais e isso faz com que elevemos aos padrões internacionais. Por isso, a questão dos recursos humanos tem estado a ser resolvida, mas temos também de conseguir absorver os engenheiros que saem da academia, os mais novos. Temos de massificar os estágios profissionais e rentabilizar a capacidade e desempenho dos técnicos.

(Leia o artigo integral na edição 679 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Junho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)