"O sector que ajuda a dinamizar uma economia como um todo é a indústria transformadora"
Fernandes Wanda defende a aposta na indústria e alteração do modelo de diversificação económica seguido pelo Executivo e espera maior realismo nos programas que têm sido implementados para assegurar o desenvolvimento sustentável que o País precisa para concorrer com os países do continente.
Assume-se com um economista político ligado à investigação e ao desenvolvimento económico. Nesta perspectiva, quais são os grandes desafios do País, hoje?
São vários. Mas o principal desafio é definir políticas que possam levar à transformação da estrutura da economia. O Governo fala regularmente em diversificação económica, mas a sua forma de entendimento sobre o que é a diversificação não é a mais certa. Por exemplo, se olharmos para o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações( PRODESI), vemos que o Governo entende a diversificação económica como a exportação de outras matérias- -primas que não o petróleo. Inclusive foi criada uma lista de produtos, que, a meu ver, não deixam de ser matéria-prima.
Produzida localmente...
Sim. Mas, quando falamos em transformação da economia, a ideia é deixar de exportar matéria- prima. E, através de um processo de industrialização rápida, transformar-se esta matéria- -prima e exportarmos produtos acabados, que têm maior valor agregado. É isto que se entende por transformação estrutural da economia. Por isso, digo que o maior desafio de Angola, e de quem governa o país, é perceber que diversificar a economia exportando outra matéria-prima é bom, porque deixamos de depender de uma, mas não saímos da situação de dependência.
Porquê?
Porque quando se exporta matéria- prima tem de haver alguém do outro lado para comprar. Mas, se exportarmos produto acabado, a possibilidade de haver mais clientes é maior. Não só em África, como também em outras regiões do mundo. A história económica dos países que hoje chamamos de ricos e desenvolvidos ensina-nos que os países que saíram de pobres para ricos fizeram-no de duas formas. E Angola, por mais que tente, não vai reinventar a roda.
Quais foram as formas utilizadas por estes países?
Primeiro, pela produtividade do sector agrícola. Porque o aumento da produtividade neste sector traduz-se no aumento da alimentação. E isso ajuda a manter baixos os preços da alimentação para a população. No nosso caso, por exemplo, o Instituto Nacional de Estatística, nos seus relatórios, tem divulgado que as categorias alimentação e bebidas são as que maior peso têm nos bolsos das famílias. A segunda forma é a aceleração dos processos industriais. Ou seja, um processo de industrialização rápido, para transformação da matéria-prima.
A diversificação económica falha devido à pouca industrialização?
O melhor discurso que já li do Presidente da República, João Lourenço, foi o da tomada de posse, no seu primeiro mandato, em 2017. Nessa altura, ele apresentou- se como o arquitecto milagroso de Angola. Questiono todos os dias se as políticas que ele está a adoptar vão-nos levar a um milagre ou para uma miragem. No discurso de tomada de posse de 2017, o Presidente da República falou que se iria apostar na agricultura. E agora pergunto: o que foi feito para a agricultura nacional de 2017 a 2022?
O discurso não de traduziu em práticas concretas?
O Presidente precisa voltar a ler o discurso que fez no Huambo, na abertura do ano agrícola 2017-2018, onde citou um refrão da música do Dom Caetano, "o meu chão tem tudo, o meu chão dá tudo". Então, se ele sabe o que o nosso chão tem e que dá tudo, porque é que a Reserva Estratégica Alimentar foi feita com a importação? O Presidente da República dizia que não era possível colher sem semear, mas não é o que vemos, na prática.
O que falhou para que a reserva alimentar fosse constituída com produtos importados?
Esta reserva alimentar, fruto da importação, mostrou que é possível colher sem semear. Basta ter dinheiro que você colhe sem semear. Mas não é sustentável. E entendo porque é que a Reserva Estratégica Alimentar foi feita pela via de importação.
(Leia o artigo integral na edição 721 do Expansão, desta sexta-feira, dia 21 de Abril de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)