"Quando um país tem poucos empresários ricos é perigoso para o investimento"
O presidente da Câmara de Comércio Angola - Emirados Árabes Unidos defende uma nova fase na relação entre empresários, olhando para o potencial dos dois países que procuram diversificar as suas economias, e alerta para a necessidade de Angola garantir a segurança necessária para que os negócios se concretizem.
Como avalia a relação empresarial entre Angola e os Emirados Árabes Unidos?
À semelhança da estratégia dos Emirados Árabes Unidos, porque a sua riqueza é essencialmente hidrocarbonetos, os dois países estão a procurar diversificar as economias buscando alternativas. E, olhando para África como presente e futuro das nações, Angola acaba por desempenhar um papel bastante interessante devido à sua estabilidade política, à sua posição a nível da SADC e às reformas que têm estado a acontecer ao longo dos últimos anos. A maior parte dos nossos equipamentos, a nível de tecnologias, viaturas, são importadas do Dubai. Sem esquecer o sector dos diamantes. Hoje 90% dos diamantes produzidos no País são comercializados pelo Dubai. Angola desempenha um grande papel para a economia dos Emirados Árabes Unidos.
É um novo advento na relação entre os dois países?
Sim. O mundo hoje está concentrado nos Emirados devido ao sistema de atracção de investimentos. Fundos de investimento, zonas francas, portos, turismo e, sobretudo, segurança, que interessa muito aos empresários. Segurança, a nível do retorno dos seus investimentos, e do ser humano. Ninguém quer viver numa terra onde as pessoas não têm segurança, onde basta trocar de governos e perde-se tudo.
É esta segurança que vai fazendo com que investidores nacionais e até cidadãos acabem por escolher os Emirados para negócios ou para viver?
Sim. Por exemplo, no ano passado, a câmara do Dubai fez um roadshow na África do Sul e conseguiu atrair 18 mil empresas. Como é possível isso? É a questão da segurança de que falei. Quando digo que Angola é um país estável, apesar das dificuldades dos empresários, é porque do ponto de vista de segurança política é estável, comparando com o que acontece noutros países da região. Na África do Sul por exemplo, há a questão da xenofobia, porque os nacionais têm pouca voz e oportunidades, a maior parte dos empresários são estrangeiros. E isto cria um desequilíbrio social. Os Emirados investem muito no ser humano, há um Ministério da Felicidade, não conheço outro país que tenha isso.
Pensam pessoas?
Apesar de ser um país maioritariamente islâmico, todas as crenças ou credos vivem tranquilamente. É uma terra para todos. Investiram muito no sistema de segurança, na formação do homem. 80% da população do Dubai é estrangeira. Todo o mundo hoje olha para os Emirados como um destino. E o angolano quer internacionalizar a sua empresa. O factor segurança é bastante importante na atracção de investimento estrangeiro. Ao colocarem famílias no Dubai, os angolanos têm de encontrar uma forma de sustentar as suas famílias, desenvolvem negócios, fazem comércio. Neste momento, temos mais de 200 angolanos a estudar ou a trabalhar no Dubai.
Existem empresários angolanos com sucesso no Dubai?
Poucos, mas há. Existem alguns no comércio de viaturas, imobiliária. Para nós, os Emirados ainda são um país novo. O factor língua condicionou a ida de empresários angolanos. Dependemos basicamente de países de expressão portuguesa, como Portugal e Brasil, mas como consumidores, não levando os nossos produtos para estes países. Agora estamos a tentar mudar o quadro para tornar a relação recíproca entre empresários dos Emirados e angolanos.
Fala da segurança dos investimentos, o que lhe dizem investidores dos Emirados sobre Angola neste capítulo?
Existe um acordo de protecção recíproca de investimentos entre os dois países. A existência deste instrumento acaba também por ser uma garantia de investimento. Para além disso, nós vivemos num continente de 54 Estados, alguns deles instáveis. A due diligence feita por consultores que prestam serviços aos países do Golfo é positiva para o nosso País. Olham para Angola, não só pelos seus recursos naturais hídricos, mas também por ter terra fértil, população jovem. Olham para Angola como um país onde vale a pena investir e ter um retorno a médio e longo prazo. Temos boa localização dos portos, empresas como DP World e Abu Dhabi Porto, já operam em Angola. Temos a Dubai Investments, que vai construir um grande parque no Bengo, a primeira pedra vai ser lançada no dia 25.
Independentemente da nossa forma de actuação, estamos a lidar com um país sério. O que resta a Angola é cumprir com o que promete a curto e longo prazo. Passámos da fase de promoção e estamos na fase de captação. Ainda há poucas empresas emiratianas a investir em Angola. E as câmaras também são agentes promotoras das oportunidades de investimento que existem nos países. São a voz dos empresários e interlocutoras dos Estados. A diversificação da economia é muito importante, tanto quanto a diversificação da economia dos países, com a qual vamos lidando. É importante vermos o modelo de actuação de certos países em África.
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