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Grande Entrevista

"Temos interesse em investir em empresas não cotadas e depois fazer a nossa saída em bolsa"

RUI OLIVEIRA, PCE DA BFA GESTÃO DE ACTIVOS

O presidente da Sociedade Gestora de Fundos de investimento BFA gestão de activo analisa o mercado, anuncia a criação do primeiro fundo de investimento a 4 anos que vai investir em acções e dívida pública. Mostra o caminho para alterar e promover a legislação do mercado, de modo a captar investidores estrangeiros.

A BFA Gestão de activos é a sociedade gestora que mais fundos cria e, por isso, que mais investidores, especialmente pequenos, tem atraído para o mercado de capitais. Qual o segredo?

Nós, enquanto grupo, temos uma estratégia muito clara de continuarmos a ser uma peça fundamental naquilo que vem a ser o desenvolvimento do mercado de capitais em Angola.

Olhando para vossa estratégia, a médio e longo prazo, com a chegada do mercado de bolsa de acções vêm oportunidades mas também desafios?

Para além do exemplo que dei, há instantes, vamos continuar a lançar fundos especiais. Refiro-me a fundos com uma grande concentração em classes de activos específicas, mas já começando a testar o mercado de acções. O exemplo claro é este fundo que lançámos de 4 anos, que tem dentro da sua estratégia de investimento a possibilidade de ter acções na carteira, esta é uma estratégia. A outra é que nós, sendo uma sociedade gestora, temos todo o interesse em dinamizar o mercado de acções.

Mas como pretendem dinamizar o mercado de acções?

Investindo em empresas do sector privado. Ou seja investir naquelas empresas que ainda não estão cotadas e depois possamos fazer uma saída em bolsa. Se olharmos para a realidade no mercado internacional grande parte das empresas que fazem o IPO, o processo é mesmo esse: há um investimento inicial, quando a empresa ainda é privada ou seja não é cotada, e depois ela vai para a bolsa. Após alguns anos, há uma saída e a sociedade gestora vende a sua participação por via da bolsa.

O mercado de acções em Angola precisa de mais empresas cotadas para ter maior impacto?

E isso é uma forma muito forte de impulsionar o mercado de acções. Temos todo o interesse e temos uma estratégia clara sobre isso. Desse foco e poder eventualmente participar no lançamento de empresas para a bolsa, por um lado. Por outro lado, também podemos, dentro de fundos de investimento especiais, investir em empresas que estejam já cotadas.

Está a dizer que vão investir em venture capital?

Nós temos a ambição de participar fortemente na evolução do mercado e na evolução do capital privado em Angola. Temos uma ambição forte e vamos continuar a estudar o mercado para encontrar eventuais soluções para participar.

Em resumo, pretendem trazer alternativas ao financiamento bancário?

Temos um mercado ainda no início e com um gap de financiamento enorme. Tu tens hoje as grandes empresas, para além do Estado, são só grandes consumidores do crédito em Angola. Se colocarmos as PME"s, não têm grande influência a nível do consumo de crédito em Angola. Isto significa que existem oportunidades e talvez nós possamos tirar proveito, enquanto sociedade gestora.

Explique melhor?

Temos feito um caminho de lançamento de fundos com uma maturidade que, regra geral, têm uma média de um ano a um ano e meio de tempo de vida. O que não é o ideal se quisermos construir uma trajectória. Se queremos fazer parte daquilo que é chamada a curva de rendibilidade temos de caminhar para ter produtos mais a longo prazo. E temos estado a fazer este caminho, lançámos pela primeira vez um fundo a quatro anos. Que também foi bem-sucedido. Poderia ter sido melhor.

Porquê?

Porque nós tínhamos programado ter um fundo com entre 8 mil milhões Kz a 10 mil milhões de Kz e conseguimos atingir 6 mil milhões de Kz. Para nós, continua a ser bem-sucedido, porque conseguir captar 6 mil milhões kz não deixa de ser difícil. Principalmente para um fundo a longo prazo, no caso o primeiro.

Os investidores em Angola tem tendência para investir mais no curto prazo, ou seja em activos dos 3 meses a 2 anos de maturidade de preferência.

Depois há um detalhe: este fundo é direccionado para o retalho. O nosso target é sempre continuar a vender produtos que possam ser interessantes para o retalho. Apesar de as grandes empresas e os clientes de alto rendimento serem investidores que fazem parte daquilo que é também o leque de investidores da BFA gestão de activos, o retalho tem muito poder. Tem muita força de compra.

O que quer dizer com clientes de retalho?

Estamos a falar de clientes que têm um rendimento médio anual igual ou superior a 10 milhões Kz por ano. Ou seja, alguém que tenha um rendimento médio de até um milhão Kz por mês. Este é nível de retalho, mas há um outro nível de retalho mais influente, que são os clientes que vão entrar para a classe média. Mas depois temos um outro tipo de retalho, que é o retalho abaixo deste valor. Estamos a falar de clientes com uma rentabilidade mensal de até 500.000 Kz por mês e que fazem investimentos a partir de 100.000 Kz nos nossos fundos.

Então esta classe de investidores é a mais activa nos vossos fundos?

Sim. Se nós pensarmos que nos últimos anos um dos nossos fundos mais bem-sucedidos teve mais de 2 mil investidores. Ao preço de cada unidade de participação a 100 mil Kz e a este preço conseguimos captar entre 10 mil milhões Kz a 20 mil milhões Kz, e mais de 60% dos participantes eram clientes de retalho.

O que estará a atrair estes investidores de retalho para os vossos fundos?

A vantagem que nós trazemos é a possibilidade desses investidores terem acesso ao mercado de capitais e, especialmente, ao mercado de títulos de dívida pública, sem ter valores avultados disponíveis para o fazer. Ou seja, eu com 100 mil Kz posso ter acesso ao mercado de capitais, por via dos nossos fundos.

Sabemos que também criaram, no último semestre de 2022, o primeiro fundo de investimento autorizado a investir em acções, permitindo igualmente a pequenos investidores ter acesso a estes produtos?

É um exemplo claro desse quase atrevimento da nossa equipa, diria eu. Tentamos fazer pela primeira vez um fundo cotado em bolsa e também foi bem-sucedido, que é o BFA oportunidades 11. As unidades de participação deste fundo acabaram de ter um valor preço por unidade muito abaixo de 100.000 Kz, já que a cotação quase chegou a 1.050 Kz por unidade de participação. Ou seja, o investidor com apenas 1.050 Kz conseguia investir num fundo desde que este fundo fosse cotado em bolsa.

Isto não foi complicado? Já que até a data os fundos eram comercializados apenas nos balcões dos bancos que fossem accionistas da sociedade gestora que os gere?

Em qualquer entidade bancária poderias fazer a compra deste título gerido por nós. Foi bastante desafiante para nós, porque tivemos de passar aqui quase por uma curva de aprendizagem noutros bancos. Tivemos de dizer é possível, permitam que os vossos clientes tenham acesso a este tipo de produtos.

(Leia o artigo integral na edição 715 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Março de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)