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África

Elevada concentração da carteira de crédito representa "risco sistémico" na UEMOA

AVALIAÇÃO DO FMI AOS RISCOS SISTÉMICOS E AO QUADRO MACROPRUDENCIAL

No final de 2020, 19 bancos, representando 12,2% do total dos activos, "tinham rácios de solvabilidade abaixo do mínimo regulamentar" e alguns, principalmente propriedade do Estado, "continuam a ter capital negativo".

Apesar da melhoria na qualidade da carteira de crédito dos bancos desde 2008, a elevada concentração e a exposição à dívida pública continuam a ser "preocupação estrutural" para os bancos da União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMOA), conclui uma avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos riscos sistémicos e ao quadro macroprudencial do sistema financeiro da união monetária, constituída por oito países. Os níveis "ainda relativamente elevados de crédito malparado" e a "elevada concentração das carteiras de empréstimos bancários, ambos centrados num número limitado de devedores", incluindo mutuários soberanos, e em certos sectores de actividade são, para o FMI, "importantes vectores de contágio e amplificação do risco de crédito na união".

A solvabilidade dos bancos "melhorou nos últimos três anos", mas "continua a ser desigual", com risco de insolvência a colocar "desafios significativos à estabilidade bancária em alguns Estados-membros", refere o relatório, elaborado por Moustapha Mbohou e Alice Mugnier, do Departamento dos Mercados Monetário e de Capitais do FMI.

"No final de 2020, o rácio de adequação de capital à escala regional situava-se em 12,4%, acima do mínimo regulamentar exigido de 8,25% e mais 1,9 pontos percentuais a partir de 2018. Esta tendência global mascara disparidades significativas entre países, com alguns bancos na Guiné- -Bissau (capital médio rácio de adequação de -3,6% em 2020) e Togo (rácio de adequação média de capital de 7,4%) bem abaixo do requisito mínimo de 8,25%", ilustram os dois técnicos do FMI.

No final de 2020, 19 bancos, representando 12,2% do total dos activos bancários, "tinham rácios de solvabilidade abaixo do mínimo regulamentar" e alguns destes bancos, principalmente propriedade do Estado, "continuam a ter capital negativo e não foram trazidos para a conformidade".

Expansão das actividades

A rápida expansão das actividades bancárias, que se concentram em empréstimos do sector privado, podem ser uma fonte de risco de acumulação de crédito. Este risco é ainda maior "devido à fraca diversificação das actividades económicas, persistentes assimetrias de informação sobre devedores e constrangimentos estruturais no ambiente empresarial".

Segundo o relatório do FMI, as empresas de gestão de activos e os intermediários financeiros gerem 15% dos activos financeiros na UEMOA, zona onde oito Estados partilham o franco CFA como moeda comum: Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal, Togo e Guiné Bissau, o único país não francófono, que aderiu três anos depois da criação da união monetária, em 1994. A união tem como regulador o Banco Central dos Estados da África Ocidental.

A predominância de grupos bancários regionais e o aumento da exposição dos bancos a instrumentos de dívida pública emitidos no mercado regional de valores mobiliários aumentam a densidade e complexidade da interligação entre os bancos e as suas contrapartes no mercado interbancário, bem como entre os bancos e governos. Riscos que permanecem, apesar dos progressos no estabelecimento de uma política prudencial, após a criação, em 2010, do Comité de Estabilidade Financeira da UEMOA.

Segundo o relatório, o sector financeiro da União Económica e Monetária da África Ocidental tem "sofrido grandes alterações desde 2008, que alteraram o seu perfil de risco" e que assentam em três grandes mudanças estruturais. O sector "cresceu significativamente", com os grupos bancários regionais a "tornaram- -se dominantes" e a elevada concentração das carteiras bancárias em exposições soberanas, que representavam uma média de 31% dos activos bancários no final de 2020, são agora "quase o triplo" do nível observado em 2004.