Banco de Investimento de Infra-Estruturas da Ásia arranca com 57 países
A semana começou da melhor forma para a China, a nova superpotência mundial do século XXI, com arranque do BIIA, rival do Banco Mundial. Portugal e Brasil são os únicos países lusófonos membros da nova instituição.
Representantes de 50 países dos cinco continentes participaram na segunda-feira, em Pequim, no acto de assinatura formal do Banco de Investimento de Infra-Estruturas da Ásia (BIIA). De fora ficaram os Estados Unidos e o Japão, com alguns dos mais importantes aliados de Washington, como o Reino Unido, França e Alemanha, a aderirem à nova instituição bancária.
O nascimento desta poderosa instituição financeira marca o princípio do fim de uma época nascida no pós-guerra em que foram criadas as instituições financeiras de Bretton Woods (Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional) moldadas pelos vencedores da II Guerra Mundial Apenas 50 dos 57 países que se candidataram à adesão assinaram a participação na segunda- -feira, já que os demais - Dinamarca, Malásia, Kuwait, Filipinas, Polónia, África do Sul e Tailândia - ainda terão de ratificar a adesão nos respectivos parlamentos.
O memorando de entendimento sobre o estabelecimento do BIIA especifica que a instituição vai iniciar a actividade com 50 mil milhões USD que poderão ser aumentados até 100 mil milhões USD. O banco concederá empréstimos de 1,5 mil milhões USD anuais para atenuar as necessidades de financiamento nos países asiáticos que pretendam melhorar as suas infra-estruturas.
Portugal e Brasil fundadores
Portugal e o Brasil são membros fundadores. Lisboa aderiu com o objectivo de promover os seus interesses económicos na Ásia. Portugal é também um dos poucos países europeus que gozam do estatuto de parceiro estratégico da China. A participação financeira inicial portuguesa é de apenas 50 milhões USD.
A adesão de tantos países ao novo gigante financeiro internacional é uma grande vitória diplomática para a China, que propôs a sua criação e viu a esmagadora maioria dos países asiáticos aderirem, e um enorme embaraço para Washington, que não conseguiu impedir alguns dos mais importantes países ocidentais de se juntarem à iniciativa chinesa.
A ainda primeira economia mundial (EUA) e a terceira (Japão) declinaram o convite para aderir ao banco, mas Pequim venceu em toda a linha ao conseguir criar a gigantesca instituição financeira, apesar das pressões norte-americanas sobre os seus aliados para não se juntarem à iniciativa chinesa. Washington pôs em causa os padrões de governança da nova instituição, que vai financiar grandes projectos de infra-estruturas de energia e transportes na Ásia, considerando-a uma extensão do chamado soft power da China no mundo.
A assinatura do documento revela o empenho das partes envolvidas na fundação do BIIA, assim como a respectiva solidariedade, cooperação, abertura, inclusão e busca do desenvolvimento comum, disse o presidente chinês, Xi Jinping, na cerimónia solene. "O desenvolvimento da China não teria sido possível sem a Ásia e o mundo", acrescentou na ocasião. "À medida que a China se torna mais forte, estamos preparados para dar o nosso contributo ao desenvolvimento mundial", sublinhou.
China pode vetar
Com 30,34% do capital da nova instituição financeira, Pequim será o principal contribuinte e por isso terá direito de veto sobre as suas decisões mais importantes, nada que tivesse demovido os demais países de aderirem.
O BIIA conta com um capital inicial de 50 mil milhõesUSD que deverá subir mais tarde para o dobro. A Índia será o segundo maior accionista, com 8,4% das acções, seguida de Rússia (6,5%), Alemanha (4,1%) e França (3,4%). Na cerimónia de segunda-feira, em Pequim, a Austrália foi a primeira nação a assinar o acordo, seguida por 49 outros países, enquanto sete ainda aguardam autorização dos respectivos parlamentos, nomeadamente Alemanha, Reino Unido e Coreia do Sul.
A Alemanha é até agora o maior accionista não asiático do BIIA, com 4,1% das suas acções avaliadas em 900 milhões USD, a que se somarão mais 3,6 mil milhões até final de 2019. A China justifica a criação do banco de financiamento asiático com o facto de existir um buraco de 8 triliões USD na capacidade de financiamento de infra-estruturas na região que as actuais instituições financeiras não conseguem preencher.
A frente europeia
Entretanto, no mesmo dia em que o banco de investimento asiático era constituído, a China anunciava em Bruxelas a intenção de contribuir com um pacote de vários milhares de milhões de dólares para o novo fundo europeu de investimentos em infra-estruturas durante a cimeira União Europeia-China. Bruxelas e Pequim debateram a possibilidade de a China participar com um montante não determinado no novo plano de investimentos da Comissão avaliado em 315 mil milhões de euros, para o período 2015-17.
"A China anunciou que disponibilizaria [fundos] para co-financiar investimento estratégico de interesse comum por toda a UE", segundo o comunicado final da cimeira. As autoridades chinesas revelaram que os bancos chineses procuram principalmente investimentos em tecnologia e telecomunicações. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, que chefiou a delegação do seu país, considera que o fundo de 315 mil milhões de euros vai criar oportunidades para o investimento chinês na Europa, em particular nos sectores de infra-estruturas e inovação.
A Comissão Europeia espera que investidores privados e bancos de desenvolvimento financiem uma lista de quase 2000 projectos que incluem desde aeroportos a barreiras contra cheias e que deverão custar 1,3 triliões de euros. A decisão de convidar a China a participar neste fundo europeu de investimento vai aumentar ainda mais a fricção nas relações com os EUA, que assistem paralisados à ascensão gradual da influência planetária chinesa em todos os domínios.