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Colapso do SVB tem "impacto mínimo" nas fintech africanas

APOSTA EXCESSIVA EM OBRIGAÇÕES DE TESOURO DE LONGO PRAZO FOI "ARMADILHA" PARA O SILICON VALLEY BANK

Em África, os principais analistas convergem no sentido de um "impacto reduzido", até porque não há muitas empresas no ecossistema digital com depósitos no SVB. Chipper Cash, uma das sete fintech africanas avaliadas em mais de mil milhões USD, é apontada como das mais afectadas pelo encerramento do banco da Califórnia.

A queda do Silicon Valley Bank (SVB) lançou há uma semana algum pânico entre as startups africanas, que se dissipou à medida que foi sendo declarada a pouca exposição ao banco californiano, que encerrou sexta- -feira, dia 10, após uma corrida aos depósitos. Mas os efeitos a longo prazo do colapso do maior credor de startups e o 16.º maior banco em activos nos EUA permanecem incertos e, segundo Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia, revela "falhas sistemáticas da política reguladora e monetária" norte-americana.

O colapso do SVB, a 2ª maior falência bancária nos EUA e a maior após a crise financeira de 2008, segundo o The Wall Street Journal, ocorre dias depois de o Presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, atestar a solidez da saúde financeira dos bancos americanos no Congresso, nota Stiglitz, recordando que "Powell fez parte da equipa reguladora do ex-Presidente Donald Trump que trabalhou para enfraquecer os regulamentos bancários".

O timing não surpreende o Nobel da Economia e ex-economista chefe do Banco Mundial. As maiores subidas nas taxas de juro da Fed em 40 anos faziam prever que os "movimentos dramáticos nos preços dos activos financeiros causariam traumas algures no sistema financeiro".

"Como é que os reguladores não perceberam os riscos no Silicon Valley Bank? Essa é a pergunta que muitos investidores chocados estavam a fazer na segunda-feira", escreve Gillian Tett no Financial Times. "Afinal de contas, o facto de o SVB estar sentado numa enorme carteira não coberta de obrigações de longo prazo não era segredo", salienta a presidente do conselho editorial do maior jornal financeiro britânico. Tanto que, em 2022, "o JPMorgan fez circular cálculos chocantes aos seus clientes" que "mostravam que perdas não realizadas podiam aniquilar o capital de nível 1".

Apesar dos alertas, os reguladores "aparentemente não fizeram nada" e, pior, os "gestores de topo do SVB foram autorizados a vender as suas acções há duas semanas, pouco antes de uma tentativa de angariação de capital", denuncia Tett.

Falências e perdas

As ondas de choque do colapso do SVB fizeram-se sentir em todo o mundo e começaram logo no domingo, com o encerramento de outro banco, o Signature Bank de Nova Iorque, um dos mais importantes no mercado de criptomoedas. Goldman Sachs Group, Bank of America e Citigroup registaram quedas de 6,2%, 5,6% e 3%, segunda-feira. Apesar de reguladores e governos minimizarem os impactos e afastarem um cenário idêntico ao colapso do Lehman Brothers, os dias que se seguiram foram de vigilância e acção.

O Banco do Japão adquiriu mais de mil milhões USD em fundos negociados no mercado de valores de Tóquio, na segunda e terça-feira, numa tentativa de conter os receios de uma crise financeira e, na quarta-feira, os bancos europeus afundaram na bolsa, após o Banco Nacional Saudita - o maior accionista do Credit Suisse - ter excluído o aumento da sua participação no banco suíço, provocando uma queda de 30% nas acções do banco.

A recusa do banco saudita, que em Dezembro comprou 9,9% das acções do Credit Suisse por 1,1 mil milhões USD, foi justifica[1]da com normas "regulamentares" que não permitem uma participação superior a 10%.

Impacto reduzido em África

Em África, os principais analistas convergem no sentido de um impacto reduzido", até porque não há muitas empresas no ecossistema digital com depósitos no SVB, embora os principais financiadores das startups africanas estejam nos EUA, 36%, e só 26% são de África. A Chipper Cash, uma das sete fintech africanas avaliadas em mais de mil milhões USD, é apontada como das mais afectadas, embora os seus responsáveis afirmem que não.

Este é o segundo abalo a afectar a Chipper Cash no espaço de um ano. Além de ter sido apoiada pelo SVB, que liderou uma ronda de financiamento de 100 milhões USD em 2021, a Chipper obteve financiamentos da plataforma de criptoactivos FTX, que faliu em Dezembro. Em Fevereiro, dois meses após o encerramento da FTX, a avaliação da Chipper Cash encolheu 800 milhões USD para 1,2 mil milhões USD e estava no meio de um processo de reorganização que obrigou a despedir um terço dos seus 350 trabalhadores.

A Launch Africa Ventures, um dos principais fundos africanos de capital de risco, também rela tou um impacto mínimo. "Apenas cerca de 4 ou 5 das nossas mais de 100 empresas tinham conta na SVB", precisou Zachariah George, sócio-gerente da empresa, citado pela Semafor, acrescentando que um dia antes do encerramento do banco da Califórnia alertou as empresas da sua carteira para tirarem o seu dinheiro da SVB o mais rapidamente possível.

Foi precisamente uma corrida aos levantamentos que precipitou o encerramento do SVB. Durante a pandemia da Covid-19, o banco viu crescer a sua carteira de depósitos, e investiu-os em obrigações americanas e títulos garantidos por hipotecas com rendimento fixo. A subida das taxas de juro veio baralhar as contas e fez diminuir o valor dos activos.

A situação complicou-se à medida que as empresas tecnológicas, com o agravar da crise no sector, começaram a retirar o seu dinheiro. O emagrecimento da carteira de depósitos levou o SVB a vender as obrigações, com perdas significativas, levantando preocupações sobre a saúde financeira do banco. Nova corrida aos depósitos culminou sexta-feira, 10, com a intervenção da Federal Deposit Insurance Corporation, que confiscou os activos do banco e decretou o seu encerramento.

O Silicon Valley Bank tinha cerca de 209 mil milhões USD em activos até ao fim de 2022, o que o tornava o 16.º maior banco dos EUA, segundo a Reserva Federal norte-americana.