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É preciso estar "muito, muito vigilante" à inflação, alerta FMI

Reuniões anuais FMI / Banco Mundial, em Washington

A economia global está a entrar numa fase de risco inflacionário, alerta o FMI, que pede aos bancos centrais para estarem "muito, muito vigilantes" e que tomem medidas imediatas de política monetária caso a pressão sob os preços se mantenha

O Fundo Monetário Internacional (FMI) que, por estes dias, se encontra nas habituais reuniões anuais com o Banco Mundial, em Washington, alertou, ainda, para uma desaceleração do crescimento global, após uma forte recuperação este ano.

Gita Gopinath, economista-chefe do FMI, não quer ainda falar em estagflação (inflação e ausência de crescimento e aumento do desemprego). "Sempre soubemos, saindo dessa contração profunda, que o desencontro entre oferta e demanda traria problemas", disse em entrevista ao Financial Times.

Havia uma esperança inicial de que nesta fase do ano se tivesse atingido algum equilíbrio, mas choque adicionais, como os que estão relacionadas com o clima, mantém o desequilíbrio por mais tempo, e subjacente, a previsão de que a inflação suba de forma acentuada até ao final do ano, passando a uma subida mais moderada em 2022, e só depois, a níveis pré-pandémicos.

O fundo aconselha os bancos centrais a estarem particularmente atentos quando os preços elevados - que se sentem na energia e no transporte de bens - se faça sentir nas empresas, nas famílias e nos trabalhadores, e aí devem agir imediatamente. Ou seja, estarem atentos aos efeitos secundários dos elevados custos do preço da energia nos rendimentos das famílias e da sua relação com os salários e os preços dos produtos básicos.

Dito por outras palavras, o FMI recomenda aos bancos centrais que se coloquem um passo à frente da espiral inflacionista e que, se possível, a possa conter antes de chegar, de forma acentuada, às famílias e aos trabalhadores.

Numa altura em que as previsões do FMI podem ser postas em causa devido a uma alegada manipulação do relatório Doing Business do Banco Mundial, quando Kristalina Georgieva ocupava um cargo executivo na instituição, Gopinath fez questão de afirmar que "o Banco Mundial não tem nada a ver com o FMI". "Temos um processo de revisão incrivelmente robusto e completo de nossos dados e previsões, e temos vários economistas, em vários departamentos, que os reveem e fornecem comentários detalhados", disse a economista-chefe do FMI.

E as projecções do FMI alteraram-se relativamente ao mês de Abril. Dados mais recentes dizem que a economia global vai crescer 5,9% em 2021, diminuindo para 4,9% no próximo ano. A inflação nas economias avançadas deve atingir uma média de 2,8% este ano e cair para 2,3% em 2022. No entanto, essas projeções de inflação foram revistas em alta em 1,2 pontos percentuais (pp) e 0,6 pp, respectivamente.

O FMI considera ainda, e mesmo quando a pandemia acabar, que as economias emergentes e os países em desenvolvimento serão atingidos de forma mais acentuada no longo prazo. Sem incluir os da China, é provável que em 2024 tenham um crescimento de menos 10% relativamente ao que se esperava antes da pandemia.

Entretanto, o FMI decidiu manter Kristalina Georgieva como directora-geral, depois da recente polémica, mas o assunto ainda não está completamente encerrado. E no início da semana, Georgieva recebeu o apoio relevante de Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, que considerou que a ausência de evidências sobre o papel da actual directora-geral do FMI na manipulação de dados relativos à China quando estava no Banco Mundial confirmam que o seu lugar não deve ser posto em causa.

Outras das preocupações reiteradas esta semana é que vacinar os países pobres é vital para a recuperação da economia global.

FMI aponta no World Economic Outlook, publicado por estes dias, que os esforços de vacinação no mundo são chocantemente desiguais, o que travará a recuperação económica global, com os países mais pobres a ficarem ainda mais atrás do mais ricos, que também tem sido mais capazes de usarem os estímulos fiscais e monetários em proveito das suas economias.

É imperativo, diz o FMI, que os países ricos cumpram a promessa de doar vacinas através da iniciativa Covax, que visa garantir o acesso global equitativo, ao mesmo tempo que garantem que as farmacêuticas façam a sua parte e garantam o acesso a vacinas e outros medicamentos aos países mais pobres.