A confiança dos consumidores nacionais, o barómetro da actividade económica dos próximos 12 meses
Embora façam parte do grupo que compõe a classe dos agentes económicos, as famílias obtêm especial destaque pelo facto de que, a partir deles, todo o fluxo, quer seja real como financeiro da actividade económica, é definido, isto é, a partir das suas expectativas, os produtores definem as suas estratégias de negócio.
É fundamental perceber como as famílias definem a sua propensão ao consumo e à poupança, sendo que, através delas, o ritmo de procura por bens e serviços deverá ser definido, fixando de imediato, o mínimo de volume de oferta por bens e serviços disponibilizada pelos produtores. Prever o comportamento das famílias, e definir os padrões de consumo, é uma tarefa tanto quanto comparável aos «doze trabalhos de Hércules».
Todavia, o INE disponibiliza, trimestralmente, os resultados do Inquérito de Conjuntura no Consumidor e, por meio dele, é produzido um indicador de grande importância e que, em parte responde ao problema de previsão, o «Indicador de Confiança no Consumidor», doravante ICC. E, quando analisamos ao detalhe as conclusões daquele inquérito, temos uma visão melhorada do futuro comportamento das famílias nos próximos 12 meses.
Actualmente em tendência crescente, o ICC nem sempre esteve nesta tendência, sendo que, entre o IV trimestre de 2019 e o III trimestre de 2020, não só esteve em quedas consecutivas, como operou em terreno negativo, isto é, o número de respostas negativas foi superior às respostas positiva, dando nota que o nível de pessimismo era superior ao nível de optimismo! Todavia, de lá para cá (IV trimestre de 2021), ainda em terreno negativo, mas, com tendência crescente, o ICC tem vindo a galgar passos largos para a inversão deste cenário, mas, será de facto que podemos esperar melhorias sobre a confiança dos consumidores? Infelizmente, ainda não partilho desta visão auspiciosa. E explico-me melhor, nos parágrafos seguintes.
«As famílias entrevistadas afirmaram que, não obstante o aumento do desemprego, nos últimos 12 meses, a situação económica dos agregados melhorou, mas a situação económica do país tem-se deteriorado», a premissa extraída do inquérito, destaca-se pela sua paradoxalidade, pois, como pode aumentar o número de desempregados e ainda assim a situação económica dos agregados melhorar?
Não vejo outra alternativa, senão aquela que nos salta às vistas, a de que agregados elitistas viram a sua situação económica valorizada por força da especulação financeira pois, boa parte daqueles, têm suas fontes de rendimento e poupança em moedas estrangeiras e detêm patrimónios dos quais, por força da inflação, se viram valorizados artificialmente (overshooting de liquidez). Se a inflação afectar de forma desigual a sociedade, então, independentemente das distintas formas a que entendamos a política económica, ela falhou drasticamente em proteger os rendimentos dos seus cidadãos, logo, em vão foi todo esforço, pois a «vacina» demonstrou-se não só ineficiente, como ineficaz, sendo necessárias «novas doses de reforço».
Ainda sobre o mesmo inquérito, as famílias são de opinião de que a evolução crescente dos preocupantes níveis de desemprego se efectuará, o que traz à tona o pesadelo da incerteza futura sobre os rendimentos, principalmente sobre aqueles cuja fonte de rendimento é obtida por conta de outrem, que de acordo com o INE, são a maioria dos angolanos!
(Leia o artigo integral na edição 672 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Abril de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)