Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

A inflação em Angola e os desafios da política monetária

Chancela do CINVESTEC

Não há dúvida de que são necessários cada vez mais kwanzas para comprar a mesma quantidade de bens e serviços, ou melhor, com a mesma quantidade de kwanzas compram-se cada vez menos bens e serviços, uma vez que os rendimentos não têm aumentado, originando a perda progressiva do poder de compra das famílias, empresas e Estado (agentes económicos).

Todavia, os agentes económicos são atingidos de forma distinta, cuja intensidade depende das suas expectativas em relação aos preços e das suas respectivas escolhas.

Para a maioria, a inflação absorve o poder de compra, levando as pessoas a consumirem menos e/ou a pouparem menos e, portanto, reduz o bem-estar da população e, em muitos casos, conduz à miséria extrema.

A inflação perturba o sistema financeiro, por um lado, reduzindo a poupança e, por outro, porque os agentes económicos escolherão aplicar as suas poupanças na aquisição de bens duradouros ou activos protegidos contra a inflação e, por conseguinte, o sistema financeiro carecerá de recursos para posteriormente conceder créditos às empresas e às famílias.

Para outros, gera desperdício de tempo e recursos, procurando bens e serviços mais baratos e criando custos adicionais na reprogramação dos caixas.

Para alguns, distorce o investimento, absorvendo o rendimento esperado, para além da incerteza dos preços futuros. Por exemplo: uma aplicação de 500.000 Kz a uma taxa anual de 20%, no final do período receberá 600.000 Kz, dos quais 500.000 capital investido e 100.000 de juros. No entanto, com um objectivo de inflação de 18.5% os juros passam de 100.000 para 5.405 Kz.

Para os devedores, redistribui-se a riqueza. Por exemplo: um indivíduo pede emprestado 100.000 Kz e compra uma televisão; passado 6 (seis) meses o mesmo paga ao credor 105.000 Kz. Porém, com este montante, o credor não consegue comprar uma televisão similar, uma vez que, devido a inflação, a mesma passou a custar 110.000 Kz.

Em suma, é importante manter a inflação baixa e estável, reduzindo as incertezas na economia e, assim, proporcionar um ambiente favorável ao crescimento económico e à criação de emprego melhorando, desta forma, o bem-estar da população.

Naturalmente, qualquer angolano tem a sua expectativa sobre o aumento de preços. Todavia, uma análise rigorosa não pode basear-se no livre-arbítrio de cada angolano, mas sim, na inflação que o Governo se propôs atingir. Portando, a melhor aproximação do objectivo de inflação é a constante do Plano de Governo 2017-2022 e, se formos menos exigentes, dos objectivos de inflação dos orçamentos gerais do Estado, uma vez que estes são aprovados pela Assembleia Nacional.

A infografia abaixo, demonstra que a inflação apresentada pelo Instituto Nacional de Estatística (barra vermelha) tem sido sistematicamente superior às metas previstas no Plano de Governo 2017-2022 (barras azuis). Quanto ao Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022 (barra amarela), foram iguais, em 24% e 17%, nos anos 2017 e 2019, respectivamente, inferior em 4 pontos percentuais, no ano de 2018, e superior em 12 pontos percentuais, em 2020.

Face aos OGE"s (barras cinzas), a inflação, em 2017, esteve acima 8 pontos percentuais e, em 2018 e 2019, esteve abaixo 10 e 8 pontos percentuais, respectivamente. Por fim, em 2020, a inflação foi igual ao objectivo para este ano.

* Economista e investigador

(Leia o artigo integral na edição 624 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Maio de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo