Postura das mixas
A maioria da nova geração, que era a maior esperança para acabar com esta postura, também já entra nestas instituições com o bolso do casaco aberto e uma enorme vontade de o encher. "E o que é eu ganho com isso?", é o lema adoptado por esta gente de uma forma directa e sem pudor.
A questão da legalização dos imóveis que, por despacho presidencial, deviam ser vendidos de imediato, mas que o Ministério das Finanças não consegue legalizar há dois anos, volta a colocar em cima da mesa a questão da interligação e funcionamento da Administração Pública, da necessidade de os gestores destas instituições pensarem primeiro no País e só depois na defesa das suas "quintas".
Não esqueço uma conversa que tive há mais de seis anos com um responsável informático do SIAC, que me garantiu que estava tudo pronto para a emissão do cartão único do cidadão, mas que os responsáveis dos diversos ministérios não se entendiam para a partilha de informação. Passou este tempo todo e continuamos à espera. E, já agora, por que é que ainda não temos o passaporte electrónico?
Parece difícil de perceber que uma decisão emanada pelo chefe de Governo não se cumpra com a celeridade razoável porque as instituições que são tuteladas pelos ministérios desse Governo não conseguem dialogar, ou porque não têm capacidade de execução e não pedem ajuda. Cada um fechado dentro do muro do seu quintal, a defender o seu espaço, sem olhar para o bem maior, que é o progresso do País.
Estes "poderzinhos" que são quase absolutos, construídos ao longo de várias décadas em cima de interesses pessoais ou corporativos, impedem depois o desenvolvimento de um todo. Aliás, esta era uma das expectativas de muitos cidadãos em 2017, que fosse possível acabar com esta forma informal de poder, que todos os dias incomoda e chateia a vida dos cidadãos e das empresas. Que está sempre de mão estendida à espera de uma vantagem financeira para fazer aquilo que é a sua função. Que têm de fazer, de acordo com a lei da República.
Esta mentalidade da "mixa" é, possivelmente, o maior problema do País. E não muda nem enfraquece. Ganha outros contornos, torna-se mais requintada, mas está lá. A maioria da nova geração, que era a maior esperança para acabar com esta postura, também já entra nestas instituições com o bolso do casaco aberto e uma enorme vontade de o encher. "E o que é eu ganho com isso?", é o lema adoptado por esta gente de uma forma directa e sem pudor.
É este egoísmo que nos tem atrasado, que adiou as reformas e corroeu as medidas que podiam ter sido importantes para o nosso desenvolvimento. E, pior, é esta gente que muitas vezes nos quer dar lições de patriotismo e angolanidade. De dignidade e de moral. Com a maior à vontade...













