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Opinião

Falar e ouvir

Editorial

Também é preciso perceber que quem fala mais ou mais alto não tem obrigatoriamente razão. Que uma postura convictamente agressiva é, muitas vezes, um sinal de fraqueza e de pouca sabedoria. Lutar por uma ideia é uma coisa boa e, mesmo perdendo na argumentação, não é um sinal de fraqueza.

Hoje queria falar de inclusão e diálogo. Da importância em ouvir as vozes discordantes para tomar as melhores decisões. Ter outras visões do mesmo problema, quase sempre, reforça a convicção na hora da decisão. Entender que tem uma opinião diferente não é nosso inimigo, pelo contrário, é fundamental para que não se cometam muitos erros de avaliação de carácter e, na verdade, só tem medo de discutir uma ideia quem não está muito à vontade na matéria em discussão, ou, pelo menos, não tem convicções sólidas.

Adoptar uma postura de apenas se rodear de pessoas que pensam como nós, que estão sempre de acordo connosco, pode alimentar uma áurea de sabedoria infinita, que a médio prazo, acaba por ser muito perigosa. Até porque existem especialistas em dizer a tudo que sim, mas que na verdade acabam, atrás da cortina, por dizer o contrário, tornando-se uma força de bloqueio aos nossos projectos. Porque acabamos por não saber de onde vem a maré contrária. Eu, pelo menos, sempre desconfiei de quem está sempre de acordo comigo. Ou está a enganar-me ou não tem pensamento próprio. Por isso, dispenso esse género de conselhos.

Não ter medo do diálogo é outra forma importante de aprender e decidir bem. Obviamente que tem de ser feito dentro dos limites do respeito e da urbanidade, mas tem de ser feito. Para cada um dos assuntos temos de aceitar que há sempre pelo menos uma pessoa que está melhor preparada que nós, que tem mais conhecimento, ou pelo menos tem melhor sensibilidade de análise. E uma postura inclusiva é não ter medo de convidar para a nossa mesa de reuniões alguém que sabemos que não pensa como nós. Se sistematicamente excluímos as vozes discordantes, acabamos por viver num mundo que não é real, mas que é apenas o nosso. E isso faz tão mal e gera tantos equívocos.

Também é preciso perceber que quem fala mais ou mais alto não tem obrigatoriamente razão. Que uma postura convictamente agressiva é, muitas vezes, um sinal de fraqueza e de pouca sabedoria. Lutar por uma ideia é uma coisa boa e, mesmo perdendo na argumentação, não é um sinal de fraqueza. Incluir para minimizar os erros, explicar para sistematizar as ideias, promover o diálogo para aprender, são regras fundamentais para quem é gestor. Seja de um departamento, de uma empresa, de um ministério ou de um País.

Espero por isso que 2024 seja um ano em todos falemos mais com todos, que possamos dizer e ouvir, que possamos admitir que pensar diferente não é um sinal de falta de confiança, que dar a opinião não é um abuso, mesmo que venha do mais humilde cidadão. Mas temos também de aprender a dizer exactamente o que sentimos e não aquilo que agrada ao chefe. A autocensura intelectual é a pior força de bloqueio do desenvolvimento de um País. Mesmo que muitas vezes nos traga problemas e dissabores, porque na verdade há muitos que não estão habituados a ouvir.

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