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Opinião

O desemprego em Angola e a ficção das estatísticas do INE

Convidado

Surpreendentemente, no 1.º Trimestre de 2021, em ambiente da pandemia, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou um aumento de 0,7% no número de empregos e uma redução de 0,1%, no número de desempregados.

Estes dados merecem as nossas mais sérias contestações, porque, ao medirem a realidade do emprego em Angola, ao mesmo tempo servem de elementos para avaliação do alcance das políticas públicas, coordenadas pelo Ministério da Economia e Planeamento. Este, por sua vez, tutela directamente o INE que é superiormente orientado e coordenado pelo ministro da Economia e Planeamento na qualidade de presidente do Sistema Nacional Estatístico. Digamos, antes e depois da avaliação, o avaliado é o primeiro a ter acesso ao enunciado, à chave e ao resultado da prova. Estamos diante de uma verdadeira fraude.

Tal constatação tem sido sucessivamente demonstrada. A título de exemplo, em Outubro de 2019 o INE não registou o forte aumento no nível geral de preços, causado pela implementação em simultâneo do IVA e do regime de câmbio flexível. Em Janeiro de 2021, ao tentar esconder esta, dentre outras falhas, o INE corrigiu os preços da sua amostra, referente a Dezembro de 2020, e em Abril de 2021 eliminou a amostra da publicação, o que impede de aferir a correcção dos cálculos.

Neste caso em concreto, o nosso receio recai sobre os ponderadores, que têm como referência as estimativas da população. Isto é, no 1.º Trimestre verificou-se uma ligeira retracção no crescimento da população com mais de 15 anos, de pelo menos, 11.000 pessoas e, paradoxalmente, a população inactiva aumentou 5,4%, mais 91.827 indivíduos, passando de 1.617.482 no 4.º Trimestre de 2020 para 1.709.6309 no 1.º Trim. de 2021, quando a tendência tinha sido de redução: de 98.106 pessoas entre o 4.º Trim. de 2019 e o 1.º Trim. de 2020, 4.570 pessoas entre o 3.º Trim. e o 4.º Trim. de 2020. Tudo indica que houve uma transferência da população desempregada para população inactiva e para população empregada.

Outrossim, os dados apontam para uma inversão da tendência de 2020, sendo que o sector informal desempregou 5.539 e o sector formal empregou mais 77.256.

*Economista

(Leia o artigo integral na edição 629 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Junho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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